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"Vou sozinha ao médico desde os 11 anos"
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
Foram três revelações bombásticas no mesmo dia. Aos sete anos, Rosana Cassanti, 23, ficou sabendo, por sua médica,
que tinha HIV, que era filha
adotiva e como são feitos os bebês. "Eu estava muito debilitada. Não tive infância", diz.
A mãe adotiva havia descoberto a doença pouco antes,
após a menina ter pneumonias
e anemias recorrentes. Depois
de ouvir histórias sobre soldadinhos maus (os vírus) e bons
(os anticorpos), Rosana perguntou à médica se a doença tinha cura. "Ela disse: "Não. Mas
estamos juntas nessa luta"."
A garota teve que amadurecer cedo. Vai ao médico sozinha
desde os 11 anos. Chegou a ficar
tão mal que ouvia as enfermeiras dizerem que ela não viveria.
Na escola, aguentava a gozação dos colegas. "Eles arrancavam minha touca e eu chorava,
porque estava muito feia, careca, com feridas na cabeça. Falavam que eu tinha malária. Eu
nem sabia o que era malária."
Aos 12, Rosana começou a
usar drogas: álcool, cocaína,
ecstasy. Teve uma overdose e
quatro comas alcoólicos.
Beijava vários garotos, mas
fugia do sexo. "Eu teria que
contar sobre a doença, poderia
levar um fora. Dói, não é? Não é
que o cara não gostou de você, é
um fora preconceituoso."
Dos 12 aos 16, parou de se tratar. "Estava cansada de remédio, doença, preconceito. Acho
que queria me destruir." Mentia para a pediatra e para a família. Por causa das várias infecções oculares que teve, perdeu a visão do olho direito.
Quando tinha 14 anos, uma
professora disse aos meninos
da sala que tomassem cuidado
com Rosana porque tinha HIV.
"Todo mundo ficou sabendo.
Chegaram a jogar giz em mim."
Foi aberto um processo contra
a escola -ela o arquivou após a
professora pedir desculpas.
Depois de largar as drogas,
com a ajuda da igreja evangélica Bola de Neve Church, da
qual é membro atuante, Rosana
voltou a se tratar, apesar de não
ter sido fácil tolerar os efeitos
colaterais: acúmulo de gordura
na barriga, náusea, falta de apetite. Mas o pior para ela foram
caroços na coxa e na barriga devido a um remédio injetável.
"Nem conseguia usar jeans."
Teve vários empregos em lojas e como operadora de telemarketing. Enfrentou fofocas
no trabalho por causa do HIV:
os colegas não acreditavam que
ela havia se infectado por transmissão vertical. "Diziam: "Ah,
aposto que ela pegou na balada,
com um cara, usando drogas. Se
ela tivesse pegado quando nasceu, não estaria nem viva"."
Hoje, a saúde de Rosana está
boa. Ela integra um grupo de jovens que se reúne para conversar e falar sobre cidadania e direitos, formado por portadores
e não portadores do vírus, vai
ao cinema e adora comer fora.
Procura emprego e quer estudar moda. "Desenho roupas e
sonho em inventar uma marca.
Quero ser a primeira a me formar na minha família."
Quer se casar. "Com o estado
da minha doença, posso até engravidar." Diz que sempre conta aos namorados sobre o HIV.
"Quem ficar comigo tem que
gostar de mim por completo."
Só fica triste ao falar sobre os
mais de 15 amigos que perdeu
para a Aids. "A morte de pessoas próximas dá medo."
Mas logo recobra o ânimo.
"Não posso pensar em coisas
ruins. Tenho que lutar, já estou
lutando."
(FM)
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