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Brinquedos e uniforme em dobro
O publicitário Alexandre
Borges, 39, divide com a ex-mulher as responsabilidades sobre
a filha, Giulia, 7, desde a separação, três anos atrás. O processo,
segundo ele, foi natural. "Sempre fui muito participativo e tinha uma relação muito forte
com minha filha", afirma.
Quando Giulia era bebê, ele
mostrava tanta desenvoltura
com as fraldas que seus amigos
chamavam-no de "folguista".
"Eles brincavam porque, quando a babá não estava, eu assumia essas tarefas."
Depois de "muita conversa e
muita negociação", segundo
ele, a ex-mulher aceitou selar
um acordo de convivência e
responsabilidade compartilhadas. Mesmo assim, a adaptação
foi complicada. Tudo era novidade: a casa do pai, a casa da
mãe, o novo padrasto. "Tivemos maturidade para conduzir
esse processo e lutei para que
discussões sobre outros assuntos não contaminassem essa
[sobre a relação com a filha]."
Hoje, a menina divide os fins
de semana e as férias entre os
pais, mas passa a maior parte
do período letivo com a mãe. Às
terças e em quintas alternadas,
dorme na casa do pai. "Não é
meu sonho. Acontece também
de eu levá-la a outras atividades, mas tento não ser invasivo
no tempo dela com a mãe", diz,
ressaltando que Giulia tem
duas casas completas -com
brinquedos, roupas, uniforme
duplicados, inclusive.
Uma psicóloga acompanha a
garota de perto e sempre que há
sinais de crise todos se encontram no consultório. "Acho que
parte do sucesso se deve a isso."
Segundo ele, é positivo o fato
de ambos dividirem as responsabilidades em relação aos interesses da filha e às decisões que
precisam tomar sobre seus estudos e sua saúde. Já as decisões "pequenas", sobre dormir
ou não na casa de uma amiga,
por exemplo, nem sempre são
compartilhadas.
Para Alexandre, esse sistema
ajudou ainda a reduzir a tensão
pós-separação. "É como um air
bag. Ninguém quer bater o carro, mas, se bater, pelo menos
não dá com a cara no vidro."
"Uma criança precisa de pai e
mãe presentes para crescer e se
desenvolver com qualidade",
diz. A terapeuta é contra a alternância de casas, no entanto.
"Pode gerar um caos." Uma alternativa seria morar em bairros próximos, o que permitiria
ao pai levá-la à escola e a outras
atividades, por exemplo.
Para a professora de psicologia e psicanálise da USP e da
PUC-SP Miriam Debieux Rosa,
passar cada dia em uma casa diferente é apenas uma das formas de dividir a guarda do filho
e talvez não seja a ideal porque
traz dificuldades de ordem prática. "Vejo uma queda no rendimento das crianças por conta
de dormir cada hora num lugar,
não se fixar, não ter uma casa
que seja o centro de suas coisas.
E, quanto menor ela é, mais difícil para se adaptar à mudança
de rotina", afirma.
Além de morar perto para facilitar buscar objetos eventualmente esquecidos, os pais têm
que verificar, com a criança, se
o material escolar está sendo
levado para a casa do outro ou
para a escola e se a lição foi feita. "Isso acarreta uma perda de
autonomia para a criança. Nas
fases de prova, vale deixá-la em
uma só casa para que a criança
possa se concentrar", sugere.
Na opinião de Silvana Rabello, psicanalista e professora de
psicologia da PUC-SP, a complexidade da rotina não deve
ser pretexto para evitar um
acordo com duas casas. "O que
está em jogo não é a praticidade
da vida. Para a criança pequena,
toda a vida subjetiva ainda está
em constituição. Nesse sentido,
os pais têm um papel fundamental a exercer: ensinar um
olhar sobre o mundo, a lidar
com a angústia, com as relações
humanas", acredita.
Daí a importância de a criança conviver tanto com o pai
quanto com a mãe, em sua opinião. "Poder usufruir dos recursos dos dois é uma riqueza.
Quando um exagera, o outro faz
o contraponto. Vejo crianças
que sofreram danos imensos
por terem ficado com a mãe
quando o pai era a figura amorosa marcante na vida dela",
afirma Rabello.
Leia a seguir como três ex-casais organizaram suas vidas para compartilhar o tempo e a
responsabilidade sobre os filhos após a separação.
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