São Paulo, quinta-feira, 04 de outubro de 2007
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Sabedoria popular

Rodolfo Lucena

Há quem não goste, mas o fato é que ditados populares costumam resumir, em poucas palavras, o que a humanidade aprendeu ao longo de anos. Com um quê de poesia e de pragmatismo, ensinam, por exemplo, que "não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe" e orientam o incauto a não trocar "o certo pelo duvidoso".
Acredito que ainda não houve tempo suficiente para a consolidação, em sintéticas pérolas, da sabedoria coletiva sobre corridas e corredores. Mas há ditos que se aplicam a nós como um tênis bem ajustado, e horas de orientação de treinadores, médicos e nutricionistas podem ser resumidas em duas ou três palavras.
O mais importante de tudo é saber "principalizar o principal e secundarizar o secundário". Isso, na verdade, vale para tudo na vida e é uma das nossas mais difíceis tarefas.
No jornalismo, por exemplo, significa escolher o que será manchete e o que vai virar uma notinha em fundo de página. Nas pistas e nas ruas, nos nossos treinos, é saber a que temos de nos dedicar com tudo, selecionar provas-alvo, organizar exercícios de forma adequada à nossa capacidade, ao nosso tempo e à nossa disposição. Acima de tudo, é conseguir ver qual é o espaço da corrida nas nossas vidas (assim como o espaço do chocolate, é claro).
Ainda no campo do treinamento, um ensinamento resumido em poucas palavras é o que manda alternar dias fracos e dias fortes. Ou seja, não é produtivo você fazer sempre o mesmo treino, ficar no ramerrão.
Deve, de vez em quando, exigir mais de si mesmo e do próprio corpo. Mas, uma vez feito isso, precisa também dar ao corpo o imprescindível tempo de recuperação.
Nas provas, especialmente nas mais longas, uma frasezinha me acompanha e me vale muito nos momentos de cansaço, em que o corpo se encurva e se abate frente à distância: "O ombro é inimigo da orelha". A gente se desempena, abre o peito, ergue a cabeça, organiza a passada e segue com tudo até o mais gostoso fim.
Para completar, uma citação com nome e sobrenome, de autoria do corredor e escritor norte-americano John Bingham, sobre a maratona: "O milagre não é o fato de eu ter completado. O milagre é que eu tive a coragem de começar". E a gente começa sempre, de novo, a cada dia, uma nova corrida.


RODOLFO LUCENA, 50, é editor de Informática da Folha, ultramaratonista e autor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (ed. Record)
rodolfolucena.folha@uol.com.br
www.folha.com.br/rodolfolucena


MONTANHAS DO RIO
No final do mês passado, aconteceu a primeira edição da Supermaratona de Nova Friburgo, 50 quilômetros encabritados no circuito Tere-Fri. O desafio reuniu cerca de 200 atletas, que enfrentaram muito sol e longas subidas. Leia relato no blog (www.folha.com.br/rodolfolucena).

CAMINHOS DO BRASIL
O ultramaratonista e aventureiro paulista Carlos Dias, 34, terminou há pouco um desafio solitário, correndo 9.000 quilômetros em cem dias, cruzando o país do Oiapoque ao Chuí. Leia no blog entrevista exclusiva em que ele conta seus percalços e fala de suas conquistas.

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