São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2008
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SAÚDE

ação autolimpante

Dietas de desintoxicação são inúteis para pessoas saudáveis; equilibrar alimentação e ingestão de líquidos é suficiente para recuperar o corpo

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A promessa de uma desintoxicação é nobre: ajudar a retirar do organismo toxinas que poderiam prejudicá-lo. Mas o resultado é fraco: "A palavra desintoxicar pressupõe que haja algum tipo de tóxico no organismo. Se a pessoa é saudável, tem dieta balanceada e ingere uma quantidade suficiente de água, não vai entrar em um processo tóxico", diz o gastroenterologista Dan Waitzberg, professor da faculdade de medicina da USP (Universidade de São Paulo) e diretor do Ganep-Nutrição Humana. Pior é a idéia de que os excessos de fim de ano estão permitidos sob alegação de que uma dieta desintoxicante logo após as festas minimizaria os estragos.
Os especialistas são unânimes em dizer que passar um dia à base de água e chás é inútil. "O fígado é o maior órgão desintoxicante, tem uma capacidade monumental de desintoxação e, com os rins, limpa o organismo", afirma Waitzberg. Esses órgãos, quando estão saudáveis, trabalham para retirar todas as impurezas do corpo -não precisam de ajuda extra nem são favorecidos com a ingestão demasiada de algumas substâncias.
Pelo contrário: beber líquidos em excesso pode sobrecarregar os rins e diminuir os níveis de sais minerais do organismo, o que pode causar confusão mental, levar ao coma e até a morte, em casos graves.
Mas não que o líquido não seja importante para ajudar o organismo a se recuperar. Se a noite foi boa e ingeriu-se mais bebida e comidas pesadas do que deveria, passar o dia seguinte em repouso, tomar água e fazer refeições balanceadas contribuem para o trabalho dos órgãos. "A água ajuda na filtração do rim, mas não é preciso ser algo fora dos padrões normais. Dois ou três litros por dia são suficientes", diz o endocrinologista Márcio Mancini, presidente do Departamento de Obesidade da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).
Ficar sem comer por períodos prolongados, diz Waitzberg, não traz nenhum efeito desintoxicante. "O jejum pode ocorrer por motivos espirituais, mas não vai ter uma ação de desintoxicação." A falta de alimentação ainda propicia dores de cabeça, tontura, mal-estar e favorece quadros de hiperglicemia. "É mais importante a pessoa voltar a se alimentar de maneira equilibrada do que ficar em jejum, porque, depois de uma intoxicação alcoólica, por exemplo, há risco maior de ter hipoglicemia e estará mais exposta a isso se ficar sem comer", alerta Mancini.

Limpeza intestinal
Outro mito comumente divulgado é a necessidade do uso de laxantes ou de uma lavagem intestinal para depurar o corpo. Na verdade, o procedimento causa muito mais desconforto do que benefício ao organismo. "Isso vem de um pressuposto errado de que o conteúdo intestinal acaba passando para a corrente sangüínea e levando toxinas para o sangue, algo que a medicina moderna não aceita. Se fosse verdadeiro, deveríamos fazer isso diariamente", alega Mancini.
Os laxantes podem viciar o intestino, o que torna cada vez mais difícil a evacuação ocorrer por um processo natural. "O uso de laxantes é totalmente antifisiológico. Ao longo do tempo, reduz a capacidade de o intestino responder a estímulos normais de evacuação, o torna preguiçoso", diz Waitzberg, da USP.


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