São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2007
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[+]corrida - Rodolfo Lucena

Não vá morrer por aí

Esgotado depois de quase 11 horas correndo, Michael Gordon viu com alegria as placas indicando a distância para a chegada. Com um pouco de esforço, iria completar a Comrades, a mais famosa ultramaratona do mundo, realizada no mês passado na África do Sul.
Tirando forças sabe-se lá de onde, com o corpo castigado pelo sol e pelos quase 89 quilômetros percorridos, Gordon, 34, tenta aumentar o ritmo.
Ajudado por outros corredores, cruza em 10h57 min58, tempo suficiente para lhe valer uma medalha de bronze. E cai. Médicos e socorristas enxameiam em torno do corpo no chão, mas as tentativas de ressuscitação fracassam. Gordon, pai de dois filhos, gerente financeiro em uma empresa de telefonia, está morto.
São relativamente raras as mortes em corridas, mas ultimamente o número parece crescer de forma assustadora. Só na Comrades, que reuniu 12 mil atletas, morreram dois. Em maio, em uma prova com bem menos gente, na Alemanha, foram outros dois. A maratona de Londres sofreu com a morte de um garoto de 22 anos. E sabe-se lá quantos outros não morrem por aí no esforço de desafiar seus limites.
As causas variam. Desequilíbrio eletrolítico e males cardíacos são algumas delas. Mas será que por trás desses problemas bem concretos não há outro, mais sutil, que afeta a todos nós de diversas formas, em diferentes níveis?
Falo da proclamada busca por romper limites. Trata-se de uma grande bobagem, pois ninguém "rompe" limites e sai incólume. O corpo dá o que pode; de um certo ponto, não passa. O que podemos fazer, sim, é ampliar nossas capacidades, ficar mais fortes e mais aptos.
Mas, para isso, é fundamental exercitar a difícil e dolorosa arte do autoconhecimento. Ouvir e entender as mensagens do corpo.
Na corrida, como na vida, há uma necessidade de auto-avaliação constante, até para que consigamos estabelecer metas razoáveis, desafiadoras o suficiente para nos chamar para os treinos e realistas o suficiente para não nos esmagar com o peso de sua dificuldade.
O exame médico anual faz parte dessa jornada do esportista amador. Que deve ser cumprida por etapas, aos poucos, lembrando que o objetivo é continuar correndo, com alegria e saúde, pelo máximo de tempo possível.

RODOLFO LUCENA, 50, é editor de Informática da Folha, ultramaratonista e autor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (ed. Record)

rodolfolucena.folha@uol.com.br

www.folha.com.br/rodolfolucena

DORES E PAVORES

Reconhecer e enfrentar a dor é um dos desafios dos corredores, que também precisam se precaver contra males que podem atacar os atletas. A psicóloga Katia Rúbio e o cardiologista Nabil Ghorayeb tratam desses assuntos em artigos que publico hoje no blog +Corrida.

ENTREVISTA

"Hoje eu já tenho o meu apartamento em Santos. Se eu ainda trabalhasse como doméstica, eu ia precisar de muito tempo até conseguir o dinheiro. O atletismo me deu tudo"
SIRLENE DO PINHO, maratonista classificada para o Pan, em entrevista exclusiva para o blog


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