São Paulo, quinta-feira, 06 de agosto de 2009
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HISTÓRIA

Do infarto ao recorde mundial

O empresário Paulo Mercatto começou a nadar após um ataque cardíaco e cruzou o canal da Mancha aos 50 anos de idade

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando ainda era um "protozoário", como define a si mesmo nessa fase da vida, o °° ° empresário Paulo Maia Mercatto, 52, sofreu um ataque cardíaco.
Ele tinha 41 anos, fumava de dois a três maços de cigarro por dia desde os 13 anos e era sedentário. Esses fatores, somados à pressão da nova empresa que tinha acabado de fundar, desencadearam o infarto. "Tinha um filho para criar, 35 funcionários para comandar. A pressão era muito grande e, no momento em que mais precisava da minha saúde, veio a conta", analisa.
A história que sucede o acontecimento é contada no livro "Diário de um Aquaman", que será lançado hoje na cidade de São Paulo, em uma pequena tiragem publicada por Paulo.
O médico que o acompanhou no pós-infarto não poupou orientações. Precisava tomar os medicamentos, praticar exercícios e, necessariamente, parar de fumar. "Ele pintou um quadro completamente negro a respeito dos meus hábitos, fiquei assustado. Então, resolvi tirar a bunda da cadeira. Tive uma conversa séria com Deus e ele me deu uma nova vida", conta, entusiasmado.
Começou a estudar o impacto do cigarro nos brasileiros e viu o número de pessoas que morriam todo ano por causa do tabagismo. "Meu filho tinha dois anos nessa época. Ele sofria, tinha asma, tossia. Achava que não era direito meu torná-lo um fumante passivo."
Retomou a natação, esporte que praticou na infância e na adolescência. "Não sabia como substituir o cigarro, então achei que seria bom jogar toda a agitação e a ansiedade da falta do fumo no esporte. Fui radical: saí para a endorfina."
Voltou a praticar treinos de 500 m e, pouco tempo depois, descobriu as provas em águas abertas. Passou a nadar 1,5 km três vezes por semana e ficou oito anos nadando pequenas provas de 1 km. Então, passou para competições de 3 km e, em seguida, para as de 10 km.
Como uma espécie de treino para sua maior prova, fez a Travessia 14 bis -25 km de águas abertas no canal de Bertioga (litoral Sul de São Paulo). "Passei a nadar até 75 km por semana aos 49 anos para atravessar o canal da Mancha", diz. Treinou durante um ano e meio.
No dia 22 de setembro de 2007, Paulo quebrou o recorde mundial de sua categoria (acima dos 50 anos de idade) ao atravessar os 44 km do canal da Mancha em 13h50min.
Para conseguir, teve acompanhamento médico bimestral para checagem dos níveis de colesterol, açúcar e triglicerídeos no sangue. Além disso, se tornou adepto do taoísmo. "Uma prova dessa não se faz só com músculos. Também mergulhei na filosofia oriental."
Ele calcula que foram 51 mil braçadas durante as quase 14 horas. "Até a quinta hora, você está muito feliz. Da quinta à décima, parece que não sai do lugar e, após isso, se entrega. Tive muitas lesões, morri de dor, mas foi a melhor coisa que fiz na vida", conta.
No ano passado, mais um feito: cruzou o estreito de Gibraltar -22 km de águas abertas que foram atravessados em 7h33min e filmados pelo filho, hoje com 13 anos.
Aos 52 anos, Paulo nada 3 km por dia em piscina aquecida e planeja dar a volta na ilha de Manhattan (Nova York), com 44 km de percurso, ou cruzar os 35 km de Nápoles a Capri (na Itália) no próximo ano.
"A vida é generosa. Acho que ganhei 15 anos da minha juventude depois que comecei a nadar. Quem não pratica esporte não consegue entender o prazer que é. A endorfina é o néctar dos deuses. Você fica viciado nela."


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