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HISTÓRIA
Do infarto ao recorde mundial
O empresário Paulo Mercatto começou a nadar após um ataque cardíaco e cruzou o canal da Mancha aos 50 anos de idade
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando ainda era um
"protozoário", como
define a si mesmo
nessa fase da vida, o
°° ° empresário Paulo
Maia Mercatto, 52, sofreu um
ataque cardíaco.
Ele tinha 41 anos, fumava de
dois a três maços de cigarro por
dia desde os 13 anos e era sedentário. Esses fatores, somados à pressão da nova empresa
que tinha acabado de fundar,
desencadearam o infarto. "Tinha um filho para criar, 35 funcionários para comandar. A
pressão era muito grande e, no
momento em que mais precisava da minha saúde, veio a conta", analisa.
A história que sucede o acontecimento é contada no livro
"Diário de um Aquaman", que
será lançado hoje na cidade de
São Paulo, em uma pequena tiragem publicada por Paulo.
O médico que o acompanhou
no pós-infarto não poupou
orientações. Precisava tomar
os medicamentos, praticar
exercícios e, necessariamente,
parar de fumar. "Ele pintou um
quadro completamente negro a
respeito dos meus hábitos, fiquei assustado. Então, resolvi
tirar a bunda da cadeira. Tive
uma conversa séria com Deus e
ele me deu uma nova vida",
conta, entusiasmado.
Começou a estudar o impacto do cigarro nos brasileiros e
viu o número de pessoas que
morriam todo ano por causa do
tabagismo. "Meu filho tinha
dois anos nessa época. Ele sofria, tinha asma, tossia. Achava
que não era direito meu torná-lo um fumante passivo."
Retomou a natação, esporte
que praticou na infância e na
adolescência. "Não sabia como
substituir o cigarro, então achei
que seria bom jogar toda a agitação e a ansiedade da falta do
fumo no esporte. Fui radical:
saí para a endorfina."
Voltou a praticar treinos de
500 m e, pouco tempo depois,
descobriu as provas em águas
abertas. Passou a nadar 1,5 km
três vezes por semana e ficou
oito anos nadando pequenas
provas de 1 km. Então, passou
para competições de 3 km e, em
seguida, para as de 10 km.
Como uma espécie de treino
para sua maior prova, fez a Travessia 14 bis -25 km de águas
abertas no canal de Bertioga (litoral Sul de São Paulo). "Passei
a nadar até 75 km por semana
aos 49 anos para atravessar o
canal da Mancha", diz. Treinou
durante um ano e meio.
No dia 22 de setembro de
2007, Paulo quebrou o recorde
mundial de sua categoria (acima dos 50 anos de idade) ao
atravessar os 44 km do canal da
Mancha em 13h50min.
Para conseguir, teve acompanhamento médico bimestral
para checagem dos níveis de
colesterol, açúcar e triglicerídeos no sangue. Além disso, se
tornou adepto do taoísmo.
"Uma prova dessa não se faz só
com músculos. Também mergulhei na filosofia oriental."
Ele calcula que foram 51 mil
braçadas durante as quase 14
horas. "Até a quinta hora, você
está muito feliz. Da quinta à décima, parece que não sai do lugar e, após isso, se entrega. Tive
muitas lesões, morri de dor,
mas foi a melhor coisa que fiz
na vida", conta.
No ano passado, mais um feito: cruzou o estreito de Gibraltar -22 km de águas abertas
que foram atravessados em
7h33min e filmados pelo filho,
hoje com 13 anos.
Aos 52 anos, Paulo nada 3 km
por dia em piscina aquecida e
planeja dar a volta na ilha de
Manhattan (Nova York), com
44 km de percurso, ou cruzar os
35 km de Nápoles a Capri (na
Itália) no próximo ano.
"A vida é generosa. Acho que
ganhei 15 anos da minha juventude depois que comecei a nadar. Quem não pratica esporte
não consegue entender o prazer que é. A endorfina é o néctar dos deuses. Você fica viciado nela."
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