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No ritmo da malhação
As revistas e sites de exercícios
físicos adoram
perguntar aos
leitores sobre suas
canções favoritas na hora de
malhar, enquanto apresentam
sugestões ou listas de músicas
de celebridades. O site self.com
oferece uma "lista de sucessos
dos anos 80", que inclui "Wake
me Up Before You Go-Go", do
Wham!, um clássico brega. Na
fitnessmaga-zine.com, a cantora
Rihanna revela suas canções de exercícios favoritas -e
imodestamente inclui quatro
de suas gravações, "para quando
você precisa acelerar o ritmo
na esteira".
Essa obsessão com listas de
músicas tem base científica.
Estudos demonstraram que
ouvir música pode melhorar os
resultados, tanto em termos de
motivação (as pessoas se exercitam
mais, e mais vigorosamente)
quanto como distração
contra fatores negativos, a
exemplo da fadiga. Mas será
que algumas canções são mais
efetivas do que outras?
Em termos gerais, existem
fatores científicos envolvidos
na escolha da canção certa para
o exercício, segundo Costas
Karageorghis, professor associado
de psicologia esportiva da
Universidade Brunel, na Inglaterra,
que estuda os efeitos da
música sobre o desempenho
físico há 20 anos.
Karageorghis criou o Brunel
Music Rating Inventory, um
questionário para avaliar as
qualidades motivacionais da
música no contexto do esporte
e do exercício. Por quase uma
década, ele vem aplicando
questionários a painéis que
representam diferentes grupos
demográficos. Os participantes
ouvem uma canção por 90 segundos
e avaliam suas qualidades
motivacionais para diversas
atividades físicas.
Um dos elementos mais importantes,
constatou o pesquisador,
é a dinâmica rítmica
de uma canção, que deve ser de
entre 120 a 140 batidas por
minuto (BPM). Esse ritmo coincide
com a da maior parte dos
títulos de dance music comercial
e há muitas canções de rock
que ficam próximas desse nível,
o que leva as pessoas a "desenvolver
uma apreciação estética
por essa batida", ele diz.
O número também corresponde
ao ritmo cardíaco de
uma pessoa normal durante
uma sessão de exercício de 20
minutos, em ritmo de esportista
casual.
Karageorghis diz que "Push
It", de Salt-N-Peppa, e "Drop It
Like It’s Hot", de Snoop Dogg,
estão nessa faixa, da mesma
maneira que o remix dance de
"Umbrella", de Rihanna (o que
indica que a estrela pop talvez
soubesse o que estava dizendo).
Para um exercício de alta
intensidade, como uma corrida
forte, ele sugere "The Heat
Is On", de Glenn Frey.
As preferências musicais são
tão idiossincráticas quanto as
rotinas de exercício, evidentemente.
Allison Goldberg, 39,
corredora amadora, usa "American
Idiot", do Green Day, como
seu disco de corrida, porque
"não há como desacelerar
ouvindo Green Day".
Haile Gebrselassie, o atleta
olímpico etíope que conquistou
o ouro nos 10 mil metros,
muitas vezes pede que "Scatman",
uma canção techno com
cerca de 135 BPM, seja executada
pelo sistema de som do estádio
durante suas provas.
Goldberg também incluiu
em sua lista "Don’t Phunk With
my Heart", do Black Eyed Peas,
com 130 BPM; "Mr. Brightside",
do Killers, com 150 BPM;
e "Dancing Queen", do Abba. O
estilo musical que parece mais
confiável em termos de BPMs
é a dance music, diz Richard
Petty, fundador da Power Music,
empresa que produz compilações
de música para exercícios
usadas por instrutores e
entusiastas da ginástica há
duas décadas. "Uma canção de
rock não tem a mesma consistência",
diz Petty, um ex-DJ
que usa o metrônomo como
ferramenta para produzir
música para exercícios. Ele escolhe
uma canção de sucesso
com melodia contagiante e
produz um remix cujo BPM é
adaptado ao nível de experiência
e ao tipo de exercício da pessoa
que está usando a música.
Para as pessoas que gostam
de caminhar em velocidade de
cerca de 5 km/h, a música tem
entre 115 e 118 BPM; para quem
anda em passo de marcha, a
cerca de 7,5 km/h, a contagem
sobe a entre 137 e 139 BPM; e
para um corredor fica entre 147
e 160 BPM.
As compilações, dirigidas
principalmente a mulheres
que preferem exercícios cardiovasculares,
levam títulos como
"Shape Walk -Remixes de
Sucessos dos Anos 70", sem
pausas entre as canções. A batida
incansável permite que uma
pessoa sincronize seus movimentos
à música, diz Kate
Gfeller, professora de música
da Universidade de Iowa.
"A música dá um indicador
de tempo", diz a professora
Gfeller, que depois de fazer
uma aula de aeróbica na qual a
música escolhida pelo instrutor
não combinava com os
exercícios, se inspirou a estudar
os componentes da música
mais importantes para uma
sessão de exercícios produtiva.
"A música nos ajuda a nos
movimentarmos de maneira
mais eficiente, e isso propicia
maior resistência".
Em outras palavras, as melhores
canções de exercício
têm tanto um BPM elevado
quanto ritmo que auxilie na coordenação
de movimentos. Isso
deve resultar na eliminação
de qualquer forma de música
com mudanças abruptas na
assinatura rítmica, como o jazz
moderno ou o punk pesado,
bem como canções que tenham
muita variação de intensidade,
a exemplo de boa parte
do rock indie. E também
descarta o que o escritor e neurologista
Oliver Sacks define
como "música sem a força rítmica
adequada".
"Estou pensando em Wagner",
disse Sacks, cujo mais recente
trabalho, "Alucinações
Musicais", discute a conexão
entre ritmo e movimento.
Sacks gosta de nadar e diz
que a cadência um-dois-três de
suas braçadas muitas vezes o
conduz a "tocar" uma valsa em
sua cabeça. "Neurologicamente,
não faz diferença que você
esteja ouvindo música ou apenas
imaginando", afirmou.
"Uma imaginação vívida é capaz
de acionar partes motoras."
Boa parte das pesquisas realizadas
sobre música e exercícios
se dirige a atividades aeróbicas
como ginástica cardiovascular.
Mas, como sabe qualquer
pessoa que já tenha ouvido
Metallica bem alto em uma
sala de levantamento de peso,
a música também pode motivar
nos exercícios de força. "A
vasta maioria dos halterofilistas
aprecia o heavy metal, se
não na vida pessoal ao menos
na academia", disse Shawn
Perine, redator da revista
"Flex". Música alta e agressiva,
ele afirma, "mantém o pique,
especialmente entre as séries".
Perine prefere se exercitar
ouvindo hip-hop. "Depois de
uma série cansativa de agachamentos,
o fôlego desaparece,
mas, se começa a tocar
‘Mama Said Knock You Out’, de
L. L. Cool J, a música segura a
energia lá em cima."
No entanto, será que existe
uma canção perfeita para o
exercício, que transcenda as
modalidades e as preferências
pessoais? Um título mencionado
com muita freqüência
é "Gonna Fly Now", o tema
dos filmes "Rocky". Em um
livro sobre música e esportes
para o qual ele contribuiu e
que será lançado em breve,
Karageorghis escreve que a
canção "evoca um estado de
otimismo e excitação no ouvinte",
e Goldberg diz que foi
essa a música que a ajudou a
superar sua primeira maratona.
A fanfarra da Bishop
Loughlin Memorial High
School costuma tocar no percurso
na maratona de Nova
York e há 30 anos executa o
tema de "Rocky".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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