São Paulo, quinta-feira, 08 de janeiro de 2004
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Níquel é o maior vilão da vaidade dos alérgicos

Metal é muito empregado na confecção de bijuterias e semijóias porque dá brilho e resistência a anéis, brincos e pulseiras

KATIA DEUTNER
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As mulheres adoram, mas nem todas podem usar. E o problema não é o valor das bijuterias, que podem ser encontradas em uma infinidade de modelos e preços. Também não é uma questão de sofisticação ou bom gosto. O vilão está escondido e disfarçado dentro da peça mais bonita ou da mais feia: o níquel. O metal, em contato com a pele, provoca reação alérgica em pelo menos 20% da população mundial, segundo uma estimativa da Organização Mundial da Saúde. "A incidência entre os brasileiros não deve ser muito diferente da mundial", afirma Susana Lu Chen Wu, dermatologista do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo. Entre pacientes com algum tipo de dermatite, o níquel é o principal responsável pelas crises: aproximadamente um quarto dos casos são provocados pelo contato com esse metal. Essa é a conclusão de uma pesquisa com 967 pessoas feita pelo Grupo Brasileiro de Estudo em Dermatite de Contato, ligado à Sociedade Brasileira de Dermatologia. O níquel é encontrado na maioria das bijuterias por ser um metal de baixo valor e dar brilho às peças. Além disso, torna a liga metálica mais resistente e auxilia na moldagem. E não é só nos brincos, pulseiras e anéis que esse metal marca presença: zíperes, armações de óculos, grampos de cabelo, fechos de sutiã, fivelas de cinto, moedas e relógios também podem causar alergia em pessoas mais sensíveis. "O níquel está presente até em algumas fórmulas de tintura de cabelo e esmalte", alerta a médica Maria de Fátima Fernandes, diretora da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia. Nem sempre a alergia se manifesta na primeira vez em que a bijuteria é usada. Em alguns casos, o níquel só entra em contato com a pele quando a peça já sofreu algum desgaste. Além disso, a reação do organismo varia de pessoa para pessoa. Durante o contato -prolongado ou não-, o níquel é capaz de penetrar na pele. O corpo passa então a produzir anticorpos para combater esse elemento estranho, o que, dependendo da sensibilização de cada um, provoca uma reação mais ou menos forte. "Depois de dez dias de contato, a pessoa cria anticorpos para combater o metal e, na segunda vez em que usar a peça, já pode ter uma reação alérgica", explica a dermatologista Ida Duarte, chefe da Clínica de Dermatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. As reações começam com vermelhidão, coceira e inchaço e chegam a evoluir para bolhas de água que se rompem, formando feridas. Geralmente essas lesões aparecem no local de contato, principalmente na orelha, onde a pele é mais delicada. Nas pessoas mais sensíveis, porém, a insistência no uso das bijuterias pode provocar irritações que aparecem em outras partes do corpo. "Uma vez sensibilizada, a pessoa vai ter o problema para o resto da vida, e a alergia não se restringe a apenas uma região do corpo", diz Fernandes. É comum que esse tipo de dermatite de contato piore no verão por causa do suor e também porque as pessoas tendem a usar bijuterias por mais tempo. "Quanto mais longo o contato, maior a probabilidade de reação. Mas quem é alérgico continua a sê-lo mesmo no inverno", afirma Wu.

Tratamento
Ao perceber algum sintoma de alergia, a pessoa deve procurar um médico para identificar a origem da reação e afastar do uso o agente causador. Nas crises, o tratamento geralmente é local, com aplicação de pomadas. Em casos mais graves, é necessário tomar medicamentos.
Uma vez diagnosticada a alergia, a saída é utilizar peças especiais (leia mais ao lado) ou evitar o contato com o níquel. Segundo Wu, "a insistência no uso gera um aumento dos anticorpos, aumentando a gravidade do problema".
"Não adianta nada colocar pomada de cortisona no brinco para evitar a alergia. O uso prolongado de pomada sem orientação médica pode atrofiar a pele da orelha, diminuindo sua espessura e aumentando as chances de doenças como câncer de pele", alerta Duarte.
Embora seja muito mais raro, algumas pessoas apresentam reações alérgicas à prata e ao ouro. De acordo com Fernandes, a maioria das dermatites associadas a jóias ocorrem por causa de impurezas que contêm níquel. "Existe alergia à ouro, mas, em geral, a reação é provocada por ouro de má qualidade."


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