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s.o.s. família
rosely sayão
Cursos de férias podem impedir parte gostosa da vida
"O que fazer com os filhos nas férias?" Empresas que oferecem acampamento, recreação e a prática de vários tipos de arte em
tempo parcial ou total a crianças e adolescentes ou mesmo aqueles que propõem imersão
total em local onde se fala apenas em alguma língua estrangeira seduzem os pais que percebem as férias dos filhos quase como um pesadelo. É filho pequeno sem ter o que fazer e que,
na falta de qualquer atividade programada, se
joga no sofá em frente à TV e fica horas por lá,
hipnotizado; é filho maior que inventa traquinagens que nem sempre acabam bem; é filho
que provoca incidentes com vizinhos ou que
fica pendurado no telefone por horas ou que
reclama de não ter o que fazer. Essa desorganização de tempo e espaço faz muitos pais acreditarem que só um programa pode colocar ordem na vida dos filhos no período em que não
têm escola.
Até pode ser que funcione, desde que o filho
curta, queira, goste. Mas muitos vão mesmo
porque os pais não lhes oferecem outra saída.
"Durante as férias de meus filhos, eu trabalho,
por isso preciso achar alguma coisa para fazerem. O problema é que, nestas férias, o orçamento apertou, e fico desesperada só de pensar o que vai ser", escreveu uma mãe com filhos de até nove anos de idade. E agora?
Este pode ser um bom momento para deixar
os filhos se encontrarem um pouco consigo
mesmos. É claro que isso significa coisa diferente de abandonar os filhos à própria sorte.
Quando passa o ano dirigida por rotinas e
atividades preestabelecidas, a criança fica sem
autonomia para administrar seu tempo e saber o que quer, o que pode e o que precisa fazer. Assim, se for deixada sem referência nenhuma, pode ser até que se perca ou que faça
coisas que exijam a presença dos pais, mesmo
que seja para dar broncas ou castigos restritivos. O que fazer, então?
Primeiro, deixar claro os limites de algumas
coisas que ela pode fazer e o que não deve fazer. E isso deve incluir a convivência com
quem está por perto, inclusive cuidando da
criança. Televisão? Os pais decidem quanto e
em quais horários. Sair, descer no prédio?
Igualmente. Sugestões de atividades infantis
sempre são bem-vindas também. Muitos pais
acreditam que a educação dos filhos se dá
mesmo é na presença dos pais durante boa
parte do dia. Não precisa ser assim. Os pais
podem -e devem- administrar a educação
a distância, dando as orientações necessárias a
quem cuida dos filhos e aos próprios filhos.
Mas, para que isso funcione, os filhos precisam perceber que há um vínculo forte entre os
pais e eles. É aí que entra a parte boa das férias
dos filhos.
Mesmo trabalhando, os pais podem reservar tempo para a convivência com os filhos. E
atividades mediadoras dessa convivência ajudam muito a desenvolver a relação de pertencimento familiar. Contar histórias, por exemplo. Só que a história não é a parte mais importante nessa hora, e sim o diálogo que ela
possibilita entre pais e filhos. Acompanhar o
filho nas viagens imaginárias que ele pode fazer ao ouvir uma história, as relações que ele
faz do relato com a vida, com a arte e com a
cultura, acompanhar o aprendizado que essa
atividade possibilita, esses são momentos
adoráveis de pais com filhos.
Organizar as fotos da família, recriando sua
história, é outro momento delicioso. Isso permite aos filhos apreender com mais leveza a
tradição familiar e estabelecer sua identidade.
Acompanhar pesquisas na internet, de interesse dele, e não escolar, é claro, é outra sugestão que pode ser interessante e também ajuda
o filho a dominar esse instrumento tão complexo que é a rede.
Poderia listar uma série de sugestões, mas
cada família tem seu estilo e é dentro dele e
considerando o jeito dos filhos que devem
surgir atividades mediadoras da relação. O
importante é que sejam momentos de encontro. Não é essa uma parte gostosa da vida?
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha); e-mail:
roselys@uol.com.br
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