São Paulo, quinta-feira, 08 de fevereiro de 2007
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Exames para malhar

O que são e para que servem os testes clínicos e físicos realizados nas academias, e quais procedimentos são indispensáveis, desejáveis ou vão muito além do mínimo obrigatório

Ricardo Nogueira/Folha Imagem
Mirian Cardoso, que descobriu uma alteração cardíaca ao fazer o teste ergométrico na academia


IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

E x-triatleta, a fisioterapeuta Mirian Cardoso, 45, ficou uma década sem praticar atividades físicas por causa de lesões causadas pelo esporte. Dez anos e dez quilos a mais depois, Mirian resolveu dar uma virada. Iniciou uma dieta e, em dezembro do ano passado, inscreveu-se em uma academia. Foi durante os exames médicos admissionais que a ex-atleta descobriu que tinha uma alteração nos batimentos cardíacos, chamada extra-sístole.
Mirian teve sorte: sua avaliação foi acompanhada por um médico, habilitado a identificar alterações e a tomar as devidas providências. No caso, a primeira foi diminuir a velocidade da bicicleta na qual era realizado o teste ergométrico até interrompê-lo. "Eu ainda não tinha chegado à capacidade máxima e queria dar tudo, então não falei nada quando me "deu um branco" no meio do teste", conta a fisioterapeuta.
Mas o médico tinha conhecimentos e equipamentos adequados para reconhecer a alteração e, após interromper o teste, recomendou à aluna que procurasse um especialista antes de iniciar os exercícios.
A finalidade dos exames médicos de academia é justamente essa: identificar possíveis riscos à saúde do aluno. "É, ou deveria ser, uma triagem, que identifica o aluno como apto ou não a praticar as modalidades oferecidas na academia", diz Turíbio Leite de Barros Neto, professor de medicina esportiva da Unifesp (Universidade Estadual de São Paulo).
Para essa triagem é preciso, segundo Barros Neto, um mínimo de procedimentos de diagnóstico, feito obrigatoriamente por um médico. "Mas não é obrigatório que a academia realize exames mais específicos. É inviável economicamente ter todos esses recursos", diz.
Além de não serem obrigatórios, há quem ache que não são nem desejáveis. Há alguns anos, a cardiologista Luciana de Matos, do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo) tentou se matricular em uma pequena academia. Para freqüentar as aulas, era obrigatório realizar os exames no próprio local, incluindo o teste ergométrico.
Ao dizer que faria este no hospital onde trabalha, a médica ouviu que somente seria aceito o teste feito na própria academia. "Como assim?", indignou-se Luciana, que trabalha na Unidade de Reabilitação e Fisiologia do Exercício do InCor -o instituto é referência nacional na área de cardiologia.
A questão, para ela, não se resumia a poder fazer o teste onde bem entendesse. "Não conheço cardiologista que confie em teste ergométrico feito em academia. Até por precaução [contra possíveis eventos durante a avaliação], a maioria das academias faz o teste até atingir a freqüência cardíaca submáxima. Isso não tem valor como avaliação cardiológica", afirma.
Para ter valor de diagnóstico, é preciso chegar à freqüência cardíaca máxima, quando a pessoa entra em exaustão.
"O exame ergométrico é um ato médico e, na academia, é um teste complementar. O requisito indispensável é o exame clínico feito pelo profissional competente", afirma Ricardo Munir Nahas, vice-presidente da SBME (Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva).
Mas atenção: as diretrizes das sociedades de cardiologia recomendam o teste ergométrico para quem tem mais de 45 anos ou mais de dois fatores de risco cardiovascular, como colesterol alto, diabetes, histórico familiar, tabagismo etc.
Já Mauro Vaisberg, médico do Programa Prevenção da Cia. Athletica de São Paulo, acha importante fazer o teste ergométrico em homens com mais de 40 anos e mulheres com mais de 45, especialmente se forem sedentários, mesmo que não apresentem antecedentes de doenças coronárias. "Isso dá muito mais tranqüilidade para prescrever as atividades físicas para o aluno", diz.
É preciso também saber que o teste na esteira ou na bicicleta, no qual o avaliador mede a freqüência de batimentos cardíacos do aluno com freqüêncímetro, não é o que os cardiologistas entendem por exame ergométrico. "Em termos médicos, esse chamado "teste ergométrico" não tem significado nenhum", diz Barros Neto.
Isso não quer dizer que não seja útil. "Ele permite quantificar o nível de condicionamento físico da pessoa e, assim, ajuda a estabelecer um programa de treinamento adequado e eficaz", diz o médico.
É aqui que entra uma outra categoria de testes feitos nas academias, a chamada avaliação física. Barros Neto explica que essa avaliação não é um ato médico, não serve como diagnóstico nem identifica os riscos mais graves como os eventos cardiovasculares. Porém, é uma ferramenta importante para adequar as atividades às condições físicas e aos objetivos do aluno, obter melhores resultados e acompanhar a sua evolução. Como avalia aspectos como flexibilidade e força muscular, ajuda também a prevenir lesões. "Os acidentes no aparelho locomotor são o problema mais freqüente nas academias", diz Nahas, da SBME.
A avaliação física não exige a presença de um médico. Um professor de educação física bem preparado tem condições para fazer os testes. Mas, se a academia conta com um médico, melhor para o aluno. "Um médico do esporte ou um ortopedista podem identificar, por exemplo, deformidades musculoesqueléticas que pedem tipos específicos de exercício", diz João Carlos Nakamoto, do Instituto Vita, responsável pelo atendimento médico da Reebok de São Paulo.
Outros testes, como o exame antropométrico, que analisa peso, medidas e porcentagem de gordura, e a avaliação nutricional não são indispensáveis, mas também são úteis para ajudar o aluno a atingir seus objetivos, especialmente quando esses incluem perda de peso e aumento de massa muscular -metas da maioria dos freqüentadores de academias.

Exames complementares
Quando a pessoa tem fatores de risco, a avaliação indica possíveis alterações ou o resultado do teste ergométrico é duvidoso, Vaisberg indica exames mais sofisticados, que devem ser feitos em locais especializados. Nesses casos, o papel da academia é indicá-los e pedir os relatórios médicos antes de o aluno iniciar as atividades.
Um desses exames mais elaborados é o teste ergoespirométrico, que, além dos batimentos cardíacos, analisa as quantidades de oxigênio inspirado e gás carbônico expirado. Usado na avaliação de atletas, é excelente também para monitorar pessoas com problemas cardíacos ou pulmonares.


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