São Paulo, quinta-feira, 09 de abril de 2009
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SAÚDE

Alta tensão

Especialistas criticam uso excessivo de placas oclusais para combater o bruxismo; tratamento multidisciplinar é o mais indicado

Eduardo Anizelli/Folha Imagem
O instrutor de hipismo Afonso Silveira, que teve bruxismo diagnosticado há oito anos

FLÁVIA GIANINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Diagnosticado com bruxismo há oito anos, o instrutor de hipismo Afonso Silveira, 25, já perdeu a conta do número de dentes que viu amanhecer quebrados e das placas oclusais que já teve. Mas ele não se esquece dos seis especialistas que procurou para solucionar o problema e de quantas vezes teve sucesso: nenhuma.
As visitas a especialistas para manutenção dos dentes quebrados e para tratar dores de cabeça e dificuldades para mastigar continuam constantes.
A realidade de Afonso é bastante comum entre pessoas que apertam e rangem os dentes involuntariamente, geralmente durante o sono. O bruxismo, ou bruxomania, é uma das mais frequentes disfunções da articulação têmporo-mandibular e desafia os médicos por ter causa desconhecida.
Segundo a dentista Cristiane Rufino de Macedo, que pesquisa bruxismo na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o transtorno atinge até 20% das crianças de até 11 anos e tem sua prevalência reduzida com o passar do tempo. Em adultos entre 18 e 29 anos, a taxa é de 13%; em pessoas acima de 60 anos, não ultrapassa 4%.
O tratamento mais indicado é o uso de placas oclusais -moldes feitos de resina acrílica ou silicone. Elas ajudam na organização do movimento oromandibular e diminuem os prejuízos como o desgaste irreversível dos dentes. No entanto, estudos não confirmam que as placas resolvam o problema.
Macedo acredita que o excesso de indicação desse tratamento se deva a falta de informação. E diz que a maioria das pesquisas aponta que boa parte do dinheiro investido em placas é um desperdício, já que, em muitos casos, a única ação comprovada das placas é a de proteger os dentes do desgaste e evitar um trauma mais grave no sistema mastigatório.
"Cuidando somente do desgaste, resolve-se parte do problema odontológico, mas não a disfunção; não há melhora na qualidade do sono do paciente, que continua convivendo com a tensão noturna", resume Gilmar Fernandes do Prado, neurologista e especialista em sono da Unifesp.
Para Macedo, a placa tem sido indicada a pacientes com diagnóstico precoce sem critérios adequados, por parecer não ter riscos. Seu uso, no entanto, pode piorar doenças associadas, como apneia do sono. Crianças também não devem usar a placa, pois atrapalha o desenvolvimento mandibular.


[!]COM CAUTELA
O uso das placas pode agravar doenças associadas ao bruxismo, como apneia do sono, e não é indicado para crianças, pois atrapalha o desenvolvimento mandibular


Fatores de risco
Pouco se sabe sobre as causas do bruxismo, mas especialistas acreditam que o problema esteja relacionado a fatores psicológicos, como tensão emocional, ansiedade, raiva, medo, frustrações e estresse. A hereditariedade também pode estar ligada à disfunção, pois a ocorrência da doença entre membros de uma mesma família é frequente. "Mas ainda não há gene transmissor identificado", explica Macedo.
A maioria dos profissionais diagnostica o bruxismo observando o desgaste dos dentes. Entretanto, especialistas defendem que, diante da falta de efetividade dos tratamentos conhecidos, seja feita uma avaliação multidisciplinar com dentistas, psicólogos e neurologistas. A análise conjunta dos fatores que desencadeiam a disfunção permite que o paciente seja tratado com terapia e medicamentos para controlar a ansiedade e também com as placas para proteger todo o sistema mastigatório.
"A polissonografia é o método mais objetivo para o diagnóstico do grau de bruxismo e de outras doenças do sono associadas", explica Prado. No exame, o paciente dorme com sensores fixados no corpo que permitem o registro do sono.
Relaxar também ajuda a aliviar o bruxismo. "A natureza desse distúrbio é complexa, mas há uma ligação clara com a ansiedade", afirma Prado. O neurologista conta que a maioria dos pacientes que procuram o seu consultório com diagnóstico de bruxismo é muito exigente, preocupada e tensa.


[!] CAUSAS PSICOLÓGICAS
O bruxismo pode estar relacionado a fatores como tensão emocional, raiva, ansiedade, medo, frustrações e estresse




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