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Antibiótico em excesso prejudica saúde pública
GABRIELA SCHEINBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Tomar um remédio inadequado não afeta apenas
o estado clínico do paciente. Essa prática ainda
frequente, alertam os médicos, agrava um problema de saúde pública que já é considerado bem sério:
a resistência dos microorganismos aos medicamentos
criados para combatê-los.
"É comum ver alguém que está gripado sair da farmácia com um antibiótico. Mas a gripe é causada por um
vírus, e o remédio, feito para combater bactérias, não
ajuda em nada", diz Antonio Chibante, professor de
pneumologia da Universidade do Rio de Janeiro. Por
causa do uso indiscriminado de medicamentos, a cura
de doenças como a pneumonia, que antes era facilmente tratada com antibiótico, hoje está mais difícil, pois as
bactérias tornaram-se resistentes aos remédios.
No Leste Europeu, a resistência a antibióticos derivados da penicilina atinge cerca de 50%. No Brasil, esse
percentual chega a 22% atualmente.
Pesquisa da Unifesp sobre os mecanismos de resistência das bactérias descobriu uma forma nova de a
Pseudomonas aeruginosa -a segunda causa de infecção hospitalar no Brasil- driblar a ação dos medicamentos. "Descobrimos que essa bactéria tem um gene
que produz uma substância que é capaz de destruir o
antibiótico", explica Hélio Silva Sader, diretor do laboratório especial de microbiologia.
O mais grave é que esse gene é transmitido para outras bactérias quando os microorganismos se encontram. Ou seja, muitas bactérias devem usar esse mecanismo para "fugir" do antibiótico. Essa descoberta poderá ser usada para detectar bactérias resistentes e para
fabricar novos medicamentos que bloqueiem esse gene.
O mais novo antibiótico a chegar ao mercado brasileiro é a telitromicina, que pode ser usada para eliminar
bactérias resistentes. A droga é indicada para infecções
respiratórias e, diferentemente de outros antibióticos, é
administrada em dose única. "O uso indiscriminado já
fez com que muitos antibióticos fossem "queimados",
por isso é muito importante usar os novos, como a telitromicina, de forma adequada", alerta Chibante.
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