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saúde
Mais que dor nas costas
Terapia biológica permite frear a evolução
da espondilite anquilosante, doença auto-imune que pode provocar deformidades
na coluna; diagnóstico precoce é a chave
para evitar complicações sérias, diz médico
TATIANA DINIZ
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
Dor nas costas, geralmente originada na
região da bacia, crônica e persistente
por meses e acompanhada de
dificuldades para se movimentar após os períodos de descanso -com grande rigidez depois
de acordar, por exemplo.
Esses costumam ser os primeiros sinais da espondilite anquilosante, uma doença auto-imune que atinge mais homens
do que mulheres e que costuma
se revelar durante a juventude:
entre 20 e 40 anos de idade.
A boa notícia é que uma nova
geração de medicamentos vem
sendo aplicada no combate à
progressão dos sintomas, e os
tratamentos desse tipo começam a se popularizar no país.
Batizada de terapia biológica,
a abordagem é feita com medicamentos do tipo "inteligente",
que simulam o papel de um
componente do organismo humano para frear o distúrbio.
Facilmente confundida com
lombalgia ou dor ciática, a espondilite pede atenção redobrada e diagnóstico precoce.
Sem tratamento adequado,
cerca de dez anos são suficientes para levar a desdobramentos sérios. Incapacidade produtiva e surgimento de deformidades na coluna atingem de
30% a 40% dos portadores,
alertam os especialistas.
Auto-ataque
Assim como acontece na artrite reumatóide e nos demais
distúrbios auto-imunes, a espondilite anquilosante se desenvolve a partir do funcionamento inadequado do sistema
imunológico, em que o organismo passa a atacar suas células.
As causas desse "descompasso" seguem desconhecidas pela
ciência, mas sabe-se que há relação com predisposição genética e estilo de vida e suspeita-se que episódios estressantes
possam atuar como "gatilhos".
Sem cura, as doenças auto-imunes não levam à morte, mas
chegam a inviabilizar a realização de atividades cotidianas como caminhar, trabalhar ou alimentar-se sozinho.
Nas terapias biológicas, a
chave para inibir o auto-ataque
é anular a atuação do TNF (fator de necrose tumoral, na sigla
em inglês), proteína que atua
como "comunicador" no sistema imunológico, apontando a
presença de "invasores". Num
quadro auto-imune, o TNF
manda uma mensagem inadequada. Os remédios biológicos
inibem a atividade da proteína,
acoplando-se a ela ou simulando serem receptores dela.
Diagnóstico precoce
A estudante Laura Koziol,
26, é um dos três milhões de europeus que sofrem de espondilite anquilosante. Diagnosticada há dois anos, ela trilhou um
longo caminho até descobrir
que doença tinha. As dores nas
costas foram se somando à perda progressiva dos movimentos. Em dois anos, não conseguia mais ir à universidade,
abandonou o trabalho de garçonete e parou de jogar tênis.
"Fiquei extremamente deprimida. A parte mais dura foi
me tornar dependente dos outros para fazer qualquer coisa",
contou há duas semanas em
um evento realizado pelo laboratório Abbott, em Berlim, que
reuniu portadores de doenças
auto-imunes, médicos, pesquisadores e jornalistas. Koziol fez
parte de um estudo clínico para
uso de Humira, um medicamento biológico desenvolvido
pelo Abbott cuja liberação para
tratar espondilite anquilosante
no Brasil aguarda aprovação da
Anvisa. Além dele, o Remicade
(Schering-Plough) e o Enbrel
(Wyeth Pharma) completam a
lista dos remédios biológicos
disponíveis no Brasil. Na semana passada, o Ministério da
Saúde incluiu o Enbrel na relação dos remédios a serem fornecidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) para tratar a artrite reumatóide.
"Embora ainda sejam alternativas caras, representam um
avanço muito significativo. Há
alguns anos, tínhamos poucas
opções. Os tratamentos eram
baseados em antiinflamatórios
que, a longo prazo, revelavam
alta toxicidade digestiva", comenta o reumatologista Eduardo de Souza Meirelles, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Um mês de terapia biológica
pode custar até R$ 6.000.
O diagnóstico ainda na fase
inicial da doença é o caminho
mais eficiente para evitar complicações. "O papel dos médicos de todas as especialidades é
grande aqui. Não há exames específicos para detectar a espondilite. Reconhecê-la é um verdadeiro quebra-cabeça. Une
ressonância magnética, medição do processo inflamatório
em exame de sangue, avaliação
dos sintomas físicos e relato do
paciente", observa Meirelles.
Para compartilhar informações sobre a espondilite anquilosante, foi criada, há dois anos,
a Abrespan (Associação Brasileira de Portadores de Espondilite Anquilosante), que se reúne em São Paulo e no Rio de Janeiro. É possível se filiar pelo
site www.abrespan.com.br
ou pelo telefone 0/xx/11/3081-5999.
A jornalista Tatiana Diniz viajou a Berlim a convite do laboratório Abbott
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