São Paulo, quinta-feira, 10 de março de 2005 |
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Saúde Dores nas costas, problemas no joelho e distensões musculares começam a surgir nas salas de ioga; especialistas recomendam bom senso Prática consciente
Lia Bock
Ela é definitivamente pop. Nos bares, a ioga já disputa espaço com assuntos nobres como futebol, juros altos e receitas de dietas infalíveis. Nas academias, bate recorde de sala cheia. Não é novidade que os brasileiros estão de caso com essa prática milenar. Mas, como em todo relacionamento, uma hora a paixão arrefece e começam a aparecer os problemas e as dores. Nesse caso, dor física. Aos poucos, as pessoas estão percebendo que a ioga pode causar lesões em seus praticantes, exatamente como tênis, futebol, musculação e outras práticas físicas consideradas mais agressivas.
Ele conta que tem recebido muitos alunos vindos de outras escolas depois de se machucarem devido à "ajudinha" exagerada de alguns professores. Já Shotaro Shimada, o mais antigo professor de ioga da cidade, acredita que as lesões são cada vez mais comuns porque a ioga tem perdido seu propósito e se tornado uma ginástica contorcionista. "A ioga foi fracionada e isso desequilibra a prática", afirma. "Respiração e concentração, por exemplo, são tão importantes quanto a postura, mas ninguém quer saber e por isso as pessoas se machucam." Ele conta que esse não é um fenômeno exclusivamente brasileiro. "Na Índia, há muito charlatão e muito mais gente machucada do que aqui", conta. Para Shimada, a dor é o alarme do corpo e não deve ser encarada como parte da ioga. Dúvidas médicas Os médicos ainda não lidam muito bem com as lesões da ioga. Muitos não quiseram dar entrevista por não se julgarem habilitados, mesmo que a maioria afirme já ter atendido pacientes machucados nessas atividades. O problema é que, assim como muitos leigos, eles não entendem como a ioga pode machucar porque a imaginam como uma prática lenta e suave que nada tem a ver com a que se espalha por aí. Quando informados pelos pacientes do que realmente se trata a prática da ioga, eles pedem bom senso. "É preciso muito cuidado na hora de aceitar uma mãozinha do professor. Qualquer tipo de ajuda deve sempre ser dada por um profissional devidamente habilitado, alguém que entenda muito bem do corpo e da ioga", alerta Moyses Cohen. Ele lembra que elasticidade é algo progressivo e que aumenta sozinho, com o treino. Aos que imaginam a ioga como exercício da terceira idade, Cristóvão de Oliveira, coordenador do Centro Vidya, avisa: "A ioga é uma prática muito poderosa, principalmente a ashtanga". Ele conta que, hoje, nos Estados Unidos, há muita gente machucada. "O boom lá chegou antes do que aqui e os problemas que eles estão tendo com as lesões devem servir de aviso para nós", afirma. Para Oliveira, a maioria dos machucados vem da "prepotência e da arrogância", tanto dos instrutores mal preparados como dos alunos ambiciosos. Adepto de uma certa dose de ajuda aos alunos, Oliveira diferencia "forçar" de "abrir espaço". "A prática permite ao professor ajudar o aluno a abrir espaço no corpo, criar elasticidade", diz. "Isso dói por alguns dias, já que algumas fibras se rompem, mas é bem diferente de forçá-lo e causar uma ruptura grande de fibras, que demoram em média 90 dias para se recuperarem." A produtora Thais Mol, 27, entendeu direitinho a diferença entre forçar e abrir espaço. Praticante de ashtanga há quatro anos, ela nunca havia se machucado. Até o experiente professor com quem ela fazia aula dar lugar a uma iniciante. "Eu estava com as pernas bem abertas, segurando os dedões. O objetivo dessa postura é encostar o peito no chão, mas eu sempre tive dificuldade nessa inclinação para a frente", conta. "A instrutora resolveu me dar uma mãozinha e empurrou minhas costas. Na hora, ouvi o som de um rasgo, e uma dor na virilha me acompanha desde então." Isso foi há oito meses. É por isso que Carolina Bonfanti, instrutora do Espaço, em São Paulo, gosta de explicar as posturas em detalhes. "Às vezes os alunos não entendem onde está o eixo de cada postura", diz. "Nessa hora, não adianta o instrutor empurrar." Limites Mas não são só os professores que exageram na dose. Os alunos também ultrapassam seus limites com freqüência. É por isso que a fisioterapeuta Claudia Quintanilha Ribeiro insiste: "Cada um deve conhecer o seu próprio corpo e saber o que é medo, limite físico e dor". A verdade é que essa não é uma tarefa simples. Até mesmo os mais tarimbados escorregam quando o assunto é autoconhecimento. Mariana Lara, 24, estuda dança há quatro anos e se considera boa no quesito consciência corporal. Mas toda a técnica não foi suficiente para evitar uma séria lesão no joelho, três anos atrás, em sua primeira e última aula de ioga. "O professor pediu que eu imitasse seus movimentos e, na hora de fazer a posição de lótus, senti um forte estalo no joelho", conta. "Sofri uma lesão nos ligamentos, no tendão e no músculo. Fiquei dois meses imobilizada e até hoje sinto dor." Texto Anterior: Xô, distração Próximo Texto: Conheça as modalidades de ioga mais comuns no Brasil Índice |
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