São Paulo, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
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2 pra lá, 2 pra cá

Casais que se exercitam em dupla podem enfrentar dificuldades como ritmos diferentes e competitividade; leia dicas para não ter problemas

Letícia Moreira/Folha Imagem
Márcia Shiraishi e Irineu Sato, que correm juntos

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um quer definir os músculos, o outro, apenas ganhar um pouco mais de condicionamento físico. Ao lado de uma pessoa extremamente competitiva, está outra que só quer relaxar no final do dia.
Não é raro encontrar casais que se propõem a seguir um programa de exercícios físicos juntos, seja para passar mais tempo ao lado do cônjuge, seja para ter uma companhia agradável durante a atividade.
No entanto, conciliar preferências, aptidões e objetivos não é fácil também nesse quesito. E, quando mal resolvidos, os conflitos podem desestimular e levar ao abandono da prática.
A fisioterapeuta Márcia Shiraishi, 47, e o médico Irineu Sato, 55, correm juntos há sete anos. Durante os dois primeiros, faziam os treinos no mesmo ritmo, correndo lado a lado. Apesar de ambos terem a mesma meta naquela época -correr a São Silvestre-, o marido se sentia desanimado.
"Nas competições, ele sempre parava antes, depois de cerca de 30 km, porque não tinha paciência de ir no meu ritmo, mais lento do que ele gostaria", conta Márcia.
Após esse período, eles trocaram de treinador e ele os orientou a correr de maneira diferente, seguindo as próprias características. Hoje, o casal se encontra somente na saída e na chegada e corre junto apenas durante o aquecimento.
Ele percebeu que o estímulo estava na competição, em reduzir tempos nas provas e correr no seu limite, enquanto Márcia pratica o esporte "por prazer", querendo completar as provas independentemente do tempo.
"Meu marido quer que eu faça treino de intensidade, diz "vamos correr uma meia [maratona]!" Para mim, não importa, eu corro porque eu gosto. Ele me puxa, para ver se eu acelero, mas eu vou no meu ritmo", acrescenta a fisioterapeuta.

Sob medida
Individualizar o treino, de acordo com o condicionamento físico e os interesses de cada membro da dupla, é o primeiro passo para que ambos atinjam metas e tenham disciplina nos exercícios, sem desanimar.
"Falando especificamente de corrida, dificilmente os dois vão correr no mesmo ritmo. Esse ajuste individual é o ponto de partida. É frequente encontrar casais que param de malhar juntos por falta de individualização, quando a carga de cada um não é ajustada de maneira correta", afirma o fisiologista Turíbio Leite Barros, professor do Cemafe (Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
A chef de cozinha Flávia Greco, 40, e o fotógrafo Marcelo Greco, 43, conheceram-se no clube Pinheiros, enquanto faziam alongamento, há alguns anos. Depois de um namoro à distância, foram morar juntos e resolveram fazer academia no mesmo horário.
Cada um tem seu programa de exercícios. "Achamos melhor fazermos separados, porque ele tem o corpo completamente diferente do meu, eu corro bem mais do que ele, que se recupera de uma lesão no joelho... Quero treinar mais braço, perna; ele quer mais costas e abdômen", diz Flávia.
Para partilhar, somente as sessões de alongamento antes e depois do treino e a garrafinha de água da mulher, com a qual Marcelo se hidrata durante a musculação. "Mas eu detesto", ri a chef de cozinha.
Para o casal, ir à academia ao mesmo tempo é um incentivo extra para que nenhum dos dois desista. "Ele chega meio dormindo, pois vamos às 7h da manhã, e eu tenho um megapique. É até legal porque eu puxo o Marcelo", diz Flávia.
É fato que vários casais buscam apoio um no outro para manter a atividade física na rotina. "Desde o início, quando eles se programam para fazer exercícios juntos, já é no formato de dar um empurrão para o outro. Ou, então, por exemplo, o marido não quer ser indelicado de falar para ela que ganhou uns quilinhos. Assim, chama para malhar", analisa o personal trainer Felipe Pita.

Individualidade
O excesso de companheirismo, no entanto, pode atrapalhar o treino ou gerar mal-estares. Geralmente, um dos dois acaba dando palpite no exercício do outro. "Eu sinto que de vez em quando ele me corrige. Como ele já fez muita musculação, às vezes ele vem, dá uma corrigida", diz Flávia.
A relações-públicas Deborah Cesco, 48, também nota que seu marido, o ex-piloto de Fórmula 1 Raul Boesel, 52, tem um olhar crítico quando ela corre na esteira. "Eu corro olhando para o meu pé. Como meu marido já correu muito, ele quer que eu fixe os olhos na frente, mas eu simplesmente não tenho equilíbrio", alega.
Para os professores, dar palpites pode desestimular o cônjuge ou levá-lo a fazer os movimentos de maneira errada. "Às vezes, o marido vira para a mulher e diz "põe mais peso para endurecer os glúteos" ou a mulher diz "corre mais meia hora porque está gordinho". Ninguém gosta quando se toca na ferida, é preciso respeitar a individualidade e não levar o outro a forçar demais, para não ter risco de lesões", diz Pita.
A competitividade também pode trazer problemas, se não for bem administrada.
Deborah e Raul fazem exercícios na academia montada em casa, com a orientação de um personal trainer, há seis meses. Os dois afirmam que ele tem uma personalidade bastante competitiva. "Ele tem de ser melhor em tudo. Se percebe que eu melhorei nisso ou naquilo, vai programar a mente para fazer o melhor possível na próxima série", diz Deborah.
Em geral, homens preferem modalidades que propiciem mais a competição. "Em alguns casos, a dificuldade é ambos terem afinidade pelo mesmo estilo de exercício. Os dois vão ao clube, mas ele prefere o tênis e ela, a ginástica. É claro que a estética é uma preocupação de ambos, mas a mulher tende mais para isso e o homem tende mais para o lúdico", afirma Turíbio Barros.

Sem problemas
Segundo os especialistas, todas as modalidades podem ser praticadas pelos dois. No entanto, eles afirmam que o mais indicado é escolher um local que ofereça diferentes opções -uma boa academia ou um clube, por exemplo.
"Para dar certo, devem buscar diversidade. No começo, a proposta de fazer tudo junto é uma sedução. Mas, com o tempo, cada um vai enfatizar mais a tendência própria. Se não puder ser atendida, há uma possibilidade muito grande de um dos dois desistir", diz Barros.
Comparar resultados dos exercícios também não funciona e pode desestimular o casal. "Em geral, os homens apresentam mudanças mais rapidamente, pois possuem mais massa muscular, queimam mais calorias. Então, pode haver um desconforto para a mulher", diz Ivo Morais, professor de educação física e coordenador de ginástica da unidade Paulista da academia Competition, em São Paulo.
As diferenças de condicionamento físico ou técnica também não devem se tornar um empecilho. O cônjuge iniciante pode usar o melhor desempenho do parceiro como estímulo, como aconteceu com os empresários Lysandro Trotta, 33, e Natalia Batalla, 30.
Há poucos meses, eles começaram a fazer ioga juntos. Como a família dele já pratica a técnica há muito tempo, Lysandro não teve dificuldades.
"Minha mulher teve de aprender um monte de coisas. Mas isso não gerou problemas. As dificuldades dela serviram de estímulo e focamos nos benefícios", diz ele.


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