São Paulo, quinta-feira, 11 de janeiro de 2007
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

dermatologia

Menos é mais

Médicos questionam eficácia de cremes, propõem uso de poucos produtos e defendem a dupla sabonete e filtro solar

NATASHA SINGER
DO "NEW YORK TIMES"

Fran E. Cook-Bolden, dermatologista com consultório em Manhattan, defende o minimalismo nos cuidados com a pele. Quando uma paciente chegou para uma consulta com 20 produtos diferentes que usava regularmente -entre os quais, um creme para os olhos, um creme de vitamina C, um soro para rugas, um creme de pigmentação, uma máscara, um esfoliante, um removedor e "uma espécie de creme especial de oxigênio para desintoxicação"-, Cook-Bolden conta que só permitiu que ela retivesse três dos produtos e confiscou os demais.
"Só olhar para aqueles produtos todos já me causou dor de cabeça", diz Cook-Bolden. "No caso da maioria das pessoas, dois produtos bastam: um creme de limpeza ameno e um bom filtro solar, e ambos podem ser comprados em qualquer farmácia".
Cook-Bolden é parte de um movimento de retorno ao básico que vem crescendo entre os dermatologistas. Enquanto fabricantes lançam produtos específicos para determinadas partes do corpo ou dirigidos a pequenos males, como poros visíveis ou celulite, esse grupo de médicos decidiu impor aos seus pacientes uma dieta de restrição de cosméticos.
Eles vêm receitando rotinas simplificadas de cuidados com a pele que requerem um máximo de três passos: sabonete, filtro solar todos os dias, não importa a estação do ano, e, se necessário, um produto adaptado a necessidades de pele específicas -um creme para espinhas ou manchas pigmentadas ou um hidratante vitaminado para peles envelhecidas.
Entre os médicos que se especializaram em reduzir os armários de cosméticos de seus pacientes, está Sarah Boyce Sawyer, professora assistente de Dermatologia na Escola de Medicina da Universidade do Alabama em Birmingham.
"Minha resolução de beleza de Ano Novo, para meus pacientes, é reduzir o uso de produtos de pele e o orçamento dedicado a eles", diz. "E, principalmente, diminuir o uso das poções de US$ 100."
Para alguns médicos, simplificar os cuidados com a pele é uma forma de permitir que os pacientes sigam uma rotina predeterminada. Mas alguns dermatologistas também sugerem que os pacientes usem menos produtos, e produtos mais baratos, porque acreditam que haja pouca pesquisa científica que justifique a compra de um caminhão de cosméticos dispendiosos, segundo Sawyer.
"Temos indícios médicos quanto aos produtos vendidos com receita", diz. "Mas, no caso dos cosméticos, os fundamentos científicos são pouco convincentes". Ao contrário dos medicamentos, cosméticos não precisam atestar sua eficácia.
Remédios vendidos com receita e outros produtos como os filtros solares têm seus ingredientes testados de maneira rigorosa, em condições clínicas, antes de serem aprovados pela Food and Drug Administration (FDA, a agência federal norte-americana que regulamenta alimentos e remédios).
Mas os cosméticos não estão sujeitos ao escrutínio da agência. A FDA define cosméticos como produtos de uso tópico que não alteram a estrutura ou a função da pele.
William P. Coleman, vice-presidente da Academia Norte-Americana de Dermatologia, diz que os consumidores deveriam considerar hidratantes e cremes para rugas apenas tratamentos superficiais.
"É preciso considerar os cosméticos como decorativos e higiênicos, mas não como produtos capazes de alterar a pele", diz Coleman, professor de Dermatologia Clínica no Centro de Ciências da Saúde da Universidade Tulane, em Nova Orleans. "Um creme de US$ 200 pode ter um aroma e uma embalagem melhores, mas é pouco provável que hidrate mais a pele do que um creme de US$ 10."
De acordo com a FDA, os fabricantes são responsáveis pela segurança dos cosméticos que vendem e pelas promessas de marketing. Ainda que muitos fabricantes conduzam estudos sobre seus produtos, eles não são obrigados a realizar testes clínicos de nível semelhante aos de pesquisas médicas ou a disponibilizar ao público os dados de suas pesquisas.
Um estudo de cremes para rugas publicado no mês passado pela revista "Consumer Reports" concluiu que não existia correlação entre os preços e a efetividade.
O estudo, que testou nove marcas em 12 semanas, também concluiu que nenhum dos produtos reduzia a profundidade das rugas em mais de 10%, uma alteração "que mal pode ser percebida a olho nu".
Mary Ellen Brademas, professora assistente de Dermatologia Clínica no Centro Médico da Universidade de Nova York, diz que se deixa "seduzir pelas embalagens luxuosas, como todo mundo, mas tenho uma teoria de que todos esses produtos de pele vêm de um mesmo caldeirão em Nova Jersey".

Diferença de preço
John Bailey, vice-presidente executivo de ciência da Associação de Cosméticos, Fragrância e Produtos de Toalete, afirma que os preços dos produtos de pele variam consideravelmente devido aos montantes investidos em pesquisa e desenvolvimento de ingredientes e fórmulas e ao custo de produção e embalagem.
Mas, acrescenta, é difícil medir as diferenças de desempenho entre os produtos. "Os cosméticos não passam pela mesma análise quantitativa que os medicamentos, de modo que não existe um parâmetro que se possa usar para avaliar os benefícios reais e percebidos", diz Bailey. "Em última análise, os consumidores precisam experimentar os produtos e descobrir o que funciona para eles."
Diane C. Madfes, instrutora clínica na Escola de Medicina Mount Sinai, diz que os cuidados básicos com a pele requerem lavar o rosto, para remover sujeira, suor e bactérias, e aplicar filtro solar para impedir danos causados pelo sol. Quem se preocupa com rugas, espinhas, pele seca ou poros expostos talvez precise usar um ou dois produtos adicionais.
Cook-Bolden, que trabalhou como consultora para diversas marcas de cosmético, sugere um líquido removedor para limpar o rosto. Em lugar de tonificadores, que podem desgastar a pele, ou esfoliantes ásperos e sistemas de abrasão com micropartículas, que podem irritar a pele, ela recomenda usar uma esponja macia para lavar o rosto e remover células mortas.
"Se você tem pele seca e sensível, use a esponja em movimentos suaves e circulares", explica. "Se sua pele não é propensa a irritação, pode-se aplicar mais pressão e velocidade."
Não existe consenso entre os dermatologistas quanto ao uso de um hidratante depois. Brademas diz que isso é supérfluo. "Hidratantes são opcionais, a menos que você viva no Ártico", diz ela, que recomenda o uso de vaselina para mãos, pés, joelhos e cotovelos ressecados.
Cook-Bolden não é tão radical. "Se você precisa de hidratante, hidrate", diz. "Se você quer menos umidade, use uma loção. Se quer mais, use creme. E se sua pele é propensa a acne, use um gel ou spray."
Ainda que os dermatologistas entrevistados discordem quanto aos hidratantes, eles concordam em um tópico: a importância da proteção contra o sol. Recomendam que os consumidores procurem fórmulas com ingredientes como o óxido de zinco ou o dióxido de titânio que impedem danos causados pelos raios solares ultravioleta.
Conselho dos dermatologistas: pessoas com problemas como acne severa ou interessadas em medicamentos tópicos contra rugas devem consultar seus médicos.


Tradução de Paulo Migliacci


Texto Anterior: Ceviche de atum com sopa de melão
Próximo Texto: Entrevista: Obrigação de ser bonito
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.