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entrevista
Obrigação de ser bonito
Coordenadora do Núcleo de Doenças da
Beleza da PUC investiga como ser magro
virou passaporte para a aceitação social
DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A grande passarela em
que se transformou a
sociedade contemporânea reflete uma realidade não só enferma como
moralizadora, em que ser considerado belo se tornou "obrigação", segundo a psicóloga
Joana de Vilhena Novaes, autora do recém-lançado "O Intolerável Peso da Feiúra" (PUC/
Garamond, R$ 30, 270 págs.).
Coordenadora do Núcleo de
Doenças da Beleza do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social da
PUC-Rio, Novaes investigou
como o físico se converteu em
passaporte para a aceitação.
FOLHA - A associação direta entre
extrema magreza e beleza é fenômeno recente. Um símbolo sexual
poderoso, Marilyn Monroe, diz-se,
vestia 46...
JOANA DE VILHENA NOVAES - O que
é próprio da contemporaneidade é a moralização da beleza.
De atributo divino ou da natureza, a beleza passou a ser um
denotativo de caráter: "só é feio
quem quer". A cultura do
"body-building" e do "body-modification" foi maciçamente
importada dos EUA. Uma das
máximas do "american way of
life" que permeia o culto ao corpo é a conhecida "no pain, no
gain": é preciso muito esforço
para vencer numa sociedade
tão competitiva.
FOLHA - Que conclusões obteve a
partir dos depoimentos para o livro?
NOVAES - Se, por um lado, elas
se mantêm aprisionadas no
ideal de corpo vigente, por outro, não estão tão passivas assim em relação ao desejo de
transformação. Para preservar
a juventude e conseqüentemente a "boa aparência", tudo
deve ser tentado. Esse "tudo" é
que é o problema. O trágico aumento da anorexia e da bulimia
comprova a força dessa ditadura. Mas não devemos esquecer
a melhora na auto-estima que
um novo corpo pode fornecer.
[...] "De atributo divino ou da natureza, a beleza passou a ser um denotativo de caráter: "só é feio quem quer'"
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Entre pacientes obesas, a possibilidade de levar uma vida normal basta para inserir essas
mulheres em um mundo mais
rico em termos de relações pessoais, alterando radicalmente
suas formas de sociabilidade.
FOLHA - Em blogs, pessoas gordas
se dizem felizes com seus corpos. Isso não desafia a noção de que seja
"intolerável" o peso da "feiúra"?
NOVAES - Claro que existem
pessoas felizes! Mas isso não
quer dizer que não exista preconceito. As pesquisas estão aí
mostrando que as empresas
não estão contratando pessoas
gordas. Mas temos essa tradição de negar nossos preconceitos. Considero positivos esses
movimentos de resistência e
proponho uma ação afirmativa
para os gordos, de modo que a
primeira providência para que
possamos combater o preconceito seja não negá-lo.
FOLHA - Kate Moss foi a "modelo
do ano". Beleza não só virou sinônimo de magreza como se dissociou
da idéia de saúde?
NOVAES - É justamente esse o
grande engodo! O pulo-do-gato
é a compreensão de que essa associação entre saúde, bem-estar e estética é uma construção
contemporânea e nada tem de
natural. Aspectos como o aumento significativo dos casos
de transtornos alimentares e
das cirurgias plásticas apontam
para o horror à gordura como
um sintoma social -as pessoas
estão de fato adoecendo.
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