São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2010 |
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COISAS LOUCAS MARION MINERBO - marion.minerbo@terra.com.br A necessária desilusão amorosa
AO COMPLETAR 14 anos, a filha de uma amiga pediu aos pais um presente diferente: ir ao aeroporto Galeão para ver Zac Efron, seu ídolo. O ator, na época com 21 anos, sairia de um voo que chegava de Angra e embarcaria em outro que o levaria de volta aos EUA. Esse encontro parecia tão importante que os pais, mesmo achando estranho, decidiram bancar. Às 22h o rapaz apareceu atrás do vidro. A garota o viu por pouco mais de um minuto, mas ficou feliz. Como não havia mais voo de volta para São Paulo, dormiram no aeroporto até o dia seguinte. Outra adolescente, de 15 anos, está apaixonada por Nick, da banda Jonas Brothers. Quando o grupo passou por São Paulo, ela e outras 5.000 meninas fizeram fila durante horas para tirar foto com eles. Ao chegar perto do artista, a garota passou-lhe disfarçadamente o número de seu celular. Ele não ligou. O que leva essas adolescentes a se colocarem na difícil -e dolorosa- situação de competir com mil outras garotas pelo amor do ídolo? Certamente não é para pagar mico, nem por masoquismo. Elas precisam sofrer a desilusão do amor impossível para, recuperando-se, vir a amar alguém possível. Onde achar um amor impossível? Um ator bonito e talentoso tem tudo para ser tão idealizado quanto inatingível. Mas a fã vai lutar bravamente antes de desistir. Vai tentar de tudo até ter certeza de que não tem chance. A criativa vai até o aeroporto, a ousada dá o número de telefone. Uma precisa constatar pessoalmente que o avião partiu mesmo. A outra tem de amargar a frustração pela ligação que não veio. A fã acabará aceitando que o ídolo escolherá alguém de seu próprio mundo, numa relação de igual para igual. Ela não se coloca diante dele como igual, mas como admiradora incondicional: olha para ele com a mesma devoção com que olhava para o pai quando pequena. Psiquicamente, as fãs de Zac Efron e Nick Jonas ainda são meninas. A necessária desilusão amorosa as liberta da infância e abre caminho para que virem mulheres. Começam a olhar para os lados em vez de olhar para cima. A garota cujo ídolo não ligou descobriu um garoto interessante na sua classe e começaram a namorar. Uma terceira teve um caso com seu ídolo. Depois, ele tocou sua vida e se casou com uma atriz. Mas ela ficou aprisionada naquela paixão. Nenhuma outra experiência, com nenhum outro homem, chegava aos pés do que tinha vivido com ele. Teve o azar de tirar o bilhete premiado. MARION MINERBO , psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, é autora de "Neurose e Não-Neurose" (Casa do Psicólogo) Texto Anterior: Torta de milho com linhaça Próximo Texto: Empório: Nutrição, receitas, escolhas saudáveis Índice | Comunicar Erros |
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