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ENTREVISTA
tudo integrado
Autor de livro sobre medicina integrativa, cirurgião fala sobre a combinação de várias terapias
[...]
SE UM PACIENTE FAZ MEDITAÇÃO PORQUE SE SENTE MELHOR E EU SEI QUE ESSA PRÁTICA É EXCELENTE
PARA REDUZIR O ESTRESSE E MELHORAR A PRESSÃO, DIGO QUE ELA É FUNDAMENTAL PARA O TRATAMENTO
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PATRICIA CERQUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O médico Paulo de Tarso Lima, 44, tinha uma carreira comum
de cirurgião. Atendia
pacientes, fazia cirurgias, acompanhava pós-operatório.
Há alguns anos, passou a se incomodar com a qualidade do
atendimento que oferecia. Percebia que não estava acolhendo
as expectativas dos pacientes,
que desejavam uma atenção
mais global. Ao procurar informações sobre como podia ir
além do atendimento comum, chegou à medicina integrativa.
Autor do recém-lançado
"Medicina Integrativa - A Cura
Pelo Equilíbrio" (MG Editores,
144 págs., R$ 32,20), o primeiro
em português sobre o tema, o
médico, que coordena o Departamento de Medicina Integrativa e Complementar do hospital Albert Einstein, explicou à
Folha o que é essa modalidade.
FOLHA - O que é a medicina integrativa?
PAULO DE TARSO LIMA - É a integração de todos os tipos de terapia com evidências acadêmicas, sejam elas convencionais ou complementares.
Se um paciente me diz que
faz meditação porque se sente
melhor e eu sei que essa prática
é, comprovadamente, excelente para reduzir o estresse e melhorar a pressão arterial de fundo emocional, digo que o que
ele está fazendo é fundamental
para o tratamento. Aceito a
união da alopatia com a meditação para promover bem-estar. E, ao validar a terapia do
meu paciente, estou dando poder a ele e incentivando o autocuidado. Uma das premissas da
medicina integrativa é promover saúde, é ir além da cura.
FOLHA - Como descobriu a medicina integrativa?
LIMA - Passei por uma insatisfação profissional. Achava que
faltava algo no tratamento com
meus pacientes. Eles não se sentiam amplamente cuidados.
Ao buscar informações, cheguei à Universidade do Arizona, onde foi fundado o primeiro
curso de medicina integrativa.
Essa modalidade começou nos anos 70 nos Estados Unidos. Hoje está em 44 das 125 faculdades de medicina de lá. A
proposta é olhar o paciente todo -corpo, mente e espírito-,
e não apenas uma parte dele. É
uma medicina holística, mas
preocupada em dar atenção individualizada ao aceitar o que o
paciente deseja e não impor o que ele deve fazer.
FOLHA - Na teoria, essa integração
parece ideal, mas não é o que se vê
na prática. Por quê?
LIMA - O sistema de saúde brasileiro ainda não investe na
promoção de saúde, e o ambiente de trabalho dos profissionais de saúde é ruim.
Além disso, existe um grupo
de céticos. Muitos praticam essa medicina, mas não dão o nome de integrativa.
FOLHA - Dá para praticá-la com pacientes do SUS?
LIMA - Sim. A consulta não precisa ser demorada. Basta o médico abrir o diálogo e pesquisar
sobre o tema. Algumas prefeituras já disponibilizam serviços de acupuntura, shiatsu,
consultas com homeopatas.
FOLHA - Quais os desafios da medicina integrativa no Brasil?
LIMA - Tem de haver um reposicionamento dos profissionais
para que promovam saúde, e
não apenas cura. Eles têm de se
cuidar mais. Quando ocorrer
isso, eles vão agir da mesma
forma com o paciente.
Um desafio prático é a criação de um banco de dados, em
português, das práticas complementares e alternativas que
têm comprovação científica.
Eu valido a fé porque há estudos ligando o divino à melhora
do bem-estar. Já a associação
de alguns fitoterápicos ao tratamento convencional pode ser
perigosa, porque eles interagem e a ação do remédio muda.
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