São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2008
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VIAGEM

atenção, senhores passageiros

Viajar de avião com crise de sinusite ou logo após fazer uma cirurgia, por exemplo, pode trazer riscos à saúde; veja situações em que é melhor esperar antes de pegar um vôo

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Passagens aéreas compradas, hotel reservado, documentos separados, roupas certas na mala. Ao preparar a viagem para o próximo feriado, vale a pena ficar atento a alguns detalhes, além das providências básicas: se você precisa fazer uma cirurgia dentária ou quer aproveitar a folga para mergulhar com cilindro, por exemplo, é bom planejar bem essas atividades. Quando realizadas próximas ao dia do vôo, elas podem gerar desconforto e até trazer riscos à saúde.
Quem está com crise de sinusite ou rinite, membros engessados ou passou por cirurgias também deve ter cuidado. Os níveis de pressão e de oxigênio e a posição a que o passageiro se submete na aeronave podem agravar sintomas. E, quanto mais tempo de vôo, maiores são os efeitos.
Isso porque as condições no interior do avião equivalem a uma altitude, em terra, de aproximadamente 2.500 metros -com todas as implicações disso, como pressão menor, baixa quantidade de oxigênio disponível, baixa umidade do ar e baixas temperaturas.
O cardiologista Marcelo Paiva, do Hospital Nove de Julho, diz que o índice saudável de umidade do ar está entre 40% e 50%; no avião, pode ficar entre 20% e 10%.
A advogada Candice Frankel, 28, sente muito essas mudanças por causa da sinusite. "Quando viajo durante uma crise, o ar seco e a pressão pioram tudo, dificultam a saída de secreção, o ouvido entope", diz.
Segundo José Eduardo Delfini Cançado, presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, a obstrução das vias respiratórias pode ocasionar até ruptura do tímpano. Descongestionantes, desde que receitados pelo médico, podem ajudar. "Uma vez, tinha de ir a um casamento em Nova York e estava com sinusite forte. O médico receitou remédios para descongestionar a região e evitar problemas no ouvido durante o vôo", conta Candice.
Ficar horas sentado nas cadeiras pouco confortáveis da classe econômica também não ajuda: essa posição dificulta a circulação sangüínea e favorece casos de trombose.

Ar volumoso
Nesse cenário de baixa pressão, o ar se expande, inclusive o que está dentro do corpo, o que pode causar inchaços nos pés e na região da cintura -por isso fica difícil manter a calça fechada durante um vôo longo.
Vias respiratórias congestionadas por uma sinusite, rinite ou gripe, por exemplo, podem gerar dores fortes, já que impedem a expulsão dos gases da região. O mesmo acontece durante uma otite: o ar fica bloqueado e pode causar pressão no ouvido infeccionado e dor insuportável.
Depois de cirurgias, sobram bolhas de ar nas cavidades, que podem aumentar de volume em baixas pressões.
É o caso de tratamentos odontológicos, como o de canal. "Já vi avião ter de pousar por causa de passageiro com dor no dente. Como a dor é muitas vezes irradiada para outras partes do corpo, a pessoa não lembra necessariamente que o motivo é o tratamento dentário recente", diz a nefrologista Vânia Elizabeth Ramos Melhado, presidente do comitê multidisciplinar de medicina aeroespacial da APM (Associação Paulista de Medicina).
Intervenções no estômago e no intestino ou problemas crônicos nesses órgãos também podem ficar mais doloridos com a expansão do ar. Por isso, é bom evitar alimentos que estimulem a produção de gases, como refrigerantes, feijões e bebidas alcoólicas, e comer moderadamente. "Algumas pessoas reclamam das porções oferecidas nos vôos, mas é a quantidade ideal para não estufar o sistema digestivo. Para não aumentar os gases, é bom optar por massas antes de voar", aconselha Melhado.
Mudanças bruscas de pressão são arriscadas, caso de quem mergulha com cilindro e precisa pegar um avião no mesmo dia. Em uma viagem para mergulhar, a volta deve ser programada para, no mínimo, 24 horas depois do último mergulho.
Embaixo d'água, a pressão é mais alta, o que estimula a liberação de nitrogênio. Se o organismo for submetido a uma pressão bem mais baixa na seqüência, esse gás pode se difundir para as articulações e causar dor. Em casos mais graves, pode levar a uma embolia pulmonar. "Quando o mergulho está associado a exercícios físicos e à ingestão de álcool -hábitos de um dia de férias-, a difusão de nitrogênio se precipita ainda mais", alerta Melhado.

Trombose
O principal risco relacionado à circulação sangüínea é a trombose, causada, principalmente, pela permanência na mesma posição por muito tempo, o que desfavorece a movimentação do sangue nos membros inferiores. Esse problema é conhecido como síndrome da classe econômica.
"Um grande estudo feito em Paris verificou que havia uma incidência de trombose de quatro a oito vezes maior entre passageiros de vôos longos", afirma Jessé Reis Alves, infectologista e responsável pela Consulta do Viajante do Fleury Medicina e Saúde.
Por isso, é desaconselhável tomar remédios para dormir durante toda a viagem, já que é preciso se hidratar e se movimentar a cada duas horas, para estimular o bombeamento de sangue das pernas e dos pés.
Do contrário, o risco é passar pelo mesmo problema do gerente de vendas Reinaldo Brietzke, 45. Depois de um vôo para a Europa, passou uma semana com dores nas pernas e, ao retornar para o Brasil, não conseguiu sair do avião sem ajuda. "Menosprezei a dor e, na volta, foi diagnosticada a trombose. O espaço na classe econômica é muito pequeno e eu havia ficado na mesma posição a noite toda." Com esse precedente, agora ele faz sempre exames e toma medicamentos antes de viagens longas.
Cirurgias de grande porte, diabetes, obesidade e gravidez também podem ser fatores de risco para a trombose. Deve-se checar com o médico antes de pegar um vôo longo.
Cardiopatas são mais sensíveis à falta de oxigênio. "O médico deve avaliar se eles precisam de oxigênio extra ou de remédios para voar sem risco", diz Melhado, da APM.
Gestantes que viajam de avião várias vezes por semana devem diminuir o ritmo nos primeiros três meses. "Há um estudo que mostra que mulheres que voam muito têm mais risco de abortamento ou de parto precoce", afirma Melhado. A partir da 36ª semana, é recomendado evitar o avião devido às maiores chances de entrar em trabalho de parto.


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