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ENTREVISTA
Babás X mães
Babás assumiram todas as tarefas de cuidado, em vez de servirem de
apoio para os pais,
afirma a autora
de um livro duplo
direcionado a
mães e cuidadoras
RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a experiência de
quatro anos à frente
de um curso para babás criado por ela em
uma escola de São Paulo, a terapeuta familiar Roberta Palermo lança o livro "Babá/Mãe
-Manual de Instruções".
O volume, que tem duas capas, contempla os dois lados
dessa delicada relação. Além de
oferecer dicas para que as babás exerçam bem seu trabalho,
orienta as mães sobre o que esperar dessa profissional.
Para Palermo, o papel da babá é cuidar da criança na ausência dos pais e servir de apoio em
sua presença -jamais assumir
todos os cuidados com os filhos, como ela considera comum atualmente.
A seguir, trechos da entrevista que a terapeuta de 40 anos,
mãe de um filho de sete anos e
madrasta de dois adolescentes,
concedeu à Folha.
FOLHA - Por que você decidiu montar um curso para babás?
ROBERTA PALERMO - Em anos de
trabalho em uma escola de
educação infantil, percebi que
as famílias precisam de orientação porque esperam que a
babá saiba o que fazer em situações como quando a criança
não quer comer. A ideia também foi ensinar as babás a falar
baixo, entre outras coisas, e a
solucionar problemas.
FOLHA - Hoje, a babá é presença
comum nas casas de classe média e
alta. Qual é o seu papel?
PALERMO - Ela deveria ser um
apoio, substituir a mãe quando
ela não está em casa. Quando a
mãe chega, o ideal é que a babá
sirva de apoio, prepare o banho
para a mãe dar, o almoço. Ela
facilita a vida da mãe, mas não
deve substituí-la. Mas foi isso
que ocorreu: a babá tornou-se a
mãe da criança nas atitudes.
Em geral, a mãe não realiza
mais nenhuma atividade de
cuidado, como dar banho, cortar a unha. Isso é trabalho de
mãe, mas muitas dizem que pagam a babá e não vão fazer o
que consideram o serviço dela.
O filho sempre prefere a
mãe, mas é a babá que alimenta, que brinca, que cuida, então
acontece, às vezes, de a criança
sair da escola e correr para os
braços da babá. Isso não pode.
FOLHA - Que funções a babá tem
acumulado?
PALERMO - Todas. Ela acorda à
noite, põe o uniforme, dá o café
e o almoço, muitas vezes leva
para a escola. Se a mãe não trabalha fora, não pode ser assim.
A mãe chega em casa cansada,
diz que faz jornada dupla ou
tripla, mas tem que assumir
mais compromissos mesmo.
No fim de semana, contrata
folguista. Tudo bem às vezes
-tem marido que não ajuda,
então é saudável para o casamento-, mas deve-se tomar
cuidado para não delegar tudo.
FOLHA - A relação entre babá e
mãe costuma ser delicada. Quais
são as principais causas de conflito?
PALERMO - Quando a babá não
compactua com alguma regra,
por exemplo. A mãe deixa claro
que não é para dar refrigerante,
mas a babá não entende a razão
e dá. Isso é totalmente inadequado. A babá tem que seguir a
regra da mãe, por mais que lhe
pareça absurda.
Da parte da mãe, desautorizar a babá na frente da criança
é inadequado porque faz com
que ela perca o poder de educar
a criança. Outra coisa é mudar
a maneira de falar com outras
pessoas para a babá não entender -passando a falar em outro
idioma, por exemplo. Isso é indelicado e acontece muito.
FOLHA - De que maneira a babá pode ajudar na educação das crianças?
PALERMO - Se a babá estiver
com a criança em uma festinha
e ela jogar um brinquedo em
outra criança, não pode fingir
que nada aconteceu. Tem que
agir como a mãe agiria.
Há mãe que não deixa a babá
chamar a atenção da criança.
Muitas vezes, elas querem proteger o filho porque se sentem
culpadas por sua ausência.
FOLHA - O que os pais querem dessa profissional?
PALERMO - Que brinque o tempo inteiro e mantenha tudo organizado e funcionando. Querem que seja uma pessoa que
nunca mente, nunca machuca
e que siga as regras da mãe. Em
algumas casas, fica preestabelecido que as mães fazem alguma atividade, mas normalmente é tudo com a babá. E como
explicar para a criança que a
mãe está em casa, mas ela precisa tomar banho com a babá?
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