São Paulo, quinta-feira, 15 de outubro de 2009
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ENTREVISTA

Babás X mães

Babás assumiram todas as tarefas de cuidado, em vez de servirem de apoio para os pais, afirma a autora de um livro duplo direcionado a mães e cuidadoras

RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a experiência de quatro anos à frente de um curso para babás criado por ela em uma escola de São Paulo, a terapeuta familiar Roberta Palermo lança o livro "Babá/Mãe -Manual de Instruções".
O volume, que tem duas capas, contempla os dois lados dessa delicada relação. Além de oferecer dicas para que as babás exerçam bem seu trabalho, orienta as mães sobre o que esperar dessa profissional.
Para Palermo, o papel da babá é cuidar da criança na ausência dos pais e servir de apoio em sua presença -jamais assumir todos os cuidados com os filhos, como ela considera comum atualmente.
A seguir, trechos da entrevista que a terapeuta de 40 anos, mãe de um filho de sete anos e madrasta de dois adolescentes, concedeu à Folha.

 

FOLHA - Por que você decidiu montar um curso para babás?
ROBERTA PALERMO -
Em anos de trabalho em uma escola de educação infantil, percebi que as famílias precisam de orientação porque esperam que a babá saiba o que fazer em situações como quando a criança não quer comer. A ideia também foi ensinar as babás a falar baixo, entre outras coisas, e a solucionar problemas.

FOLHA - Hoje, a babá é presença comum nas casas de classe média e alta. Qual é o seu papel?
PALERMO -
Ela deveria ser um apoio, substituir a mãe quando ela não está em casa. Quando a mãe chega, o ideal é que a babá sirva de apoio, prepare o banho para a mãe dar, o almoço. Ela facilita a vida da mãe, mas não deve substituí-la. Mas foi isso que ocorreu: a babá tornou-se a mãe da criança nas atitudes.
Em geral, a mãe não realiza mais nenhuma atividade de cuidado, como dar banho, cortar a unha. Isso é trabalho de mãe, mas muitas dizem que pagam a babá e não vão fazer o que consideram o serviço dela.
O filho sempre prefere a mãe, mas é a babá que alimenta, que brinca, que cuida, então acontece, às vezes, de a criança sair da escola e correr para os braços da babá. Isso não pode.

FOLHA - Que funções a babá tem acumulado?
PALERMO -
Todas. Ela acorda à noite, põe o uniforme, dá o café e o almoço, muitas vezes leva para a escola. Se a mãe não trabalha fora, não pode ser assim. A mãe chega em casa cansada, diz que faz jornada dupla ou tripla, mas tem que assumir mais compromissos mesmo.
No fim de semana, contrata folguista. Tudo bem às vezes -tem marido que não ajuda, então é saudável para o casamento-, mas deve-se tomar cuidado para não delegar tudo.

FOLHA - A relação entre babá e mãe costuma ser delicada. Quais são as principais causas de conflito?
PALERMO -
Quando a babá não compactua com alguma regra, por exemplo. A mãe deixa claro que não é para dar refrigerante, mas a babá não entende a razão e dá. Isso é totalmente inadequado. A babá tem que seguir a regra da mãe, por mais que lhe pareça absurda.
Da parte da mãe, desautorizar a babá na frente da criança é inadequado porque faz com que ela perca o poder de educar a criança. Outra coisa é mudar a maneira de falar com outras pessoas para a babá não entender -passando a falar em outro idioma, por exemplo. Isso é indelicado e acontece muito.

FOLHA - De que maneira a babá pode ajudar na educação das crianças?
PALERMO -
Se a babá estiver com a criança em uma festinha e ela jogar um brinquedo em outra criança, não pode fingir que nada aconteceu. Tem que agir como a mãe agiria.
Há mãe que não deixa a babá chamar a atenção da criança.
Muitas vezes, elas querem proteger o filho porque se sentem culpadas por sua ausência.

FOLHA - O que os pais querem dessa profissional?
PALERMO -
Que brinque o tempo inteiro e mantenha tudo organizado e funcionando. Querem que seja uma pessoa que nunca mente, nunca machuca e que siga as regras da mãe. Em algumas casas, fica preestabelecido que as mães fazem alguma atividade, mas normalmente é tudo com a babá. E como explicar para a criança que a mãe está em casa, mas ela precisa tomar banho com a babá?


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