São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004 |
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outras idéias thereza soares pagani Falar -e ouvir- é o melhor remédio
A entrevista ou reunião da família na escola com a
presença da criança é uma atitude inusitada para a
maioria dos pais, "padrastos e madrastas da modernidade", e também uma alegria e bem-estar para os pequerruchos de oito meses a sete anos. Por que essa afirmação?
O horário das entrevistas é marcado para não atrapalhar o horário de trabalho dos pais. Nelas, o melhor é não ir para casa engasgado com o que viu, ouviu e não falou. Ser verdadeiro é condição prioritária para o crescimento, mesmo que doa. As crianças nessa idade são diretas e gostam de ser tratadas de forma similar, com lealdade, carinho e firmeza. Todos aprendem que devem falar o que sentem, sem medo, para que possam ser entendidos e compreendidos. Assim é que podem solucionar os conflitos que surgem entre si próprios, pais e adultos envolvidos na educação da criança. Nessa reunião, conseguimos mostrar que é o diálogo civilizado o melhor caminho para se relacionarem e obterem ajuda. Nunca é gritando, batendo ou brigando. As crianças falam quando sabem que são levadas a sério. Nesse ambiente de respeito mútuo, mesmo as crianças muito pequeninas explicitam o que se passa com elas e em suas casas. Tenho um exemplo: uma família cujo ânimo dos pais estava bastante alterado à noite. Eles ouviram uma batida na porta do quarto -delicada, porém insistente. Surpresa! Era o filho de cinco anos, que, ao ser atendido, disse: "Vocês ainda não aprenderam a conversar? Só sabem brigar?" Emocionados com tanta firmeza e carinho do filho, eles se abraçaram, choraram e vieram no dia seguinte me contar o ocorrido naquela noite. As crianças são nossos melhores instrutores. É só estarmos atentos! Numa outra ocasião, nossa estagiária ficou perplexa ao ver e ouvir na nossa reunião uma criança de três anos chegar, sentar-se e começar a dizer que queria uma reunião com seus próprios pais. Perguntei-lhe qual era a pauta da reunião. Ela foi clara e objetiva: "Mamãe diz que não tem mais dinheiro para comprar comida para a casa; não tem mais frutas para o nosso lanche, porque o papai não dá mais dinheiro, mas ele traz caixas de compras". Soube mais tarde que o casal acabou se separando. Acredito que dialogar é uma atitude profilática. Antes mesmo de os problemas virem à tona, a criança demonstra o que está se passando com ela no seu comportamento em relação à comida, na sua maneira de estar na escola, no seu modo de se movimentar e de se sentir. Nesse sentido, observei que uma menina de pouco mais de um ano estava ficando inerte. O pai havia sofrido um acidente muito grave e estava imobilizado na cama. Disse a ela: "Use seus braços, você tem um corpo que pode se mexer". Tenho certeza de que essas falas do adulto surtem efeito, pois ela passou novamente a se movimentar. Certo dia, observamos que uma criança falava muito alto. Cheguei perto dela e disse: "Se você falar mais baixo, eu consigo escutá-la melhor!". A resposta: "É, mas a minha mamãe não escuta nada do que eu digo! A minha mãe está trabalhando muito, está muito ocupada!". As crianças, quando querem nos dizer algo, rodeiam-nos e se aproximam de nós. Da mesma forma são os pais que entram, nos rodeiam e se aproximam. A escuta atenciosa, o aconchego de uma palavra já os tranqüiliza. Outras vezes é necessário marcar uma reunião. THEREZA SOARES PAGANI ("Therezita') é educadora e diretora da Tearte, escla de educação infantil; e-mail: tepagani@uol.com.br Texto Anterior: Aventura acessível Próximo Texto: Alecrim Índice |
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