São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 2000
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FIRME/FORTE
Cardíacos são alunos vips nas academias

DINAH FELDMAN - FREE-LANCE PARA A FOLHA

Bicicletas ergométricas, esteiras, aparelhos de musculação e mais desfibrilador, oxigênio e eletrocardiógrafo. Toda essa parafernália hospitalar e de malhação pode estar reunida em um mesmo espaço. Com a comprovação de que exercícios ajudam a prevenir doenças cardíacas e aceleram a recuperação dos pacientes, as academias tiveram de se desdobrar para atender bem o novo público. A Fórmula, uma das pioneiras, se aliou em 96 à Fitcor -empresa especializada em diagnóstico cardiológico e condicionamento físico- e montou uma área para atender cardíacos em fase de reabilitação ou preocupados com prevenção. O espaço inclui uma sala-hospital e médico de plantão para casos de emergência. "Os professores monitoram os alunos individualmente. Outra diferença é que a pressão e a frequência cardíaca são medidas antes, durante e depois do exercício", conta José Aguilar Cortez, diretor da Fitcor. Além de prevenir a doença e ajudar na reabilitação, a atividade física regular pode diminuir ou até eliminar o uso de remédios. "Com os exercícios, o prognóstico de vida dos cardíacos aumenta dois anos", garante Bruno Molinari, especialista em medicina esportiva do Hospital das Clínicas. Mas nem todo cardíaco pode malhar: ele precisa estar sem sintomas e medicado. Há dois anos, o economista aposentado Osmar Michelin, 57, descobriu durante um teste ergométrico que tinha problema cardíaco e que precisaria se submeter a duas pontes de safena e uma mamária. Logo após a cirurgia, orientado pelo médico, Michelin procurou uma academia. O estímulo dado pelos colegas foi fundamental para que ele superasse a depressão que o abateu. "Quando você opera, a cabeça vai a mil. Tive um pouco de depressão, mas o condicionamento ajudou na recuperação", diz o economista, que considera os colegas de malhação, como Mário Silva, 69, uma família. "É importante perceber que você não é o único a passar por isso." Como a Fórmula, várias academias oferecem serviços diferenciados para cardíacos. "Já levei um aluno para o pronto-socorro com isquemia durante o teste ergométrico", diz Fernanda Lima, coordenadora da equipe médica da Bio Ritmo. E não é apenas nas academias que os cardíacos estão ganhando espaço. O programa de condicionamento físico do Incor (Instituto do Coração) atende diabéticos, fumantes, obesos e hipertensos (que fazem parte do grupo de risco), além, é claro, dos que já tiveram distúrbios cardiovasculares e querem evitar a reincidência. A equipe conta com nutricionistas, professores de educação física e cardiologistas. Há atendimento psicológico e uma avaliação do nível de estresse.
As academias Competition e Runner não possuem área só para cardíacos, mas, a partir da avaliação física e dos exames médicos, os professores elaboram um treinamento individual para atender às necessidades e limitações do aluno. "Na maioria dos casos, as pessoas descobrem a cardiopatia na academia", diz Alessandro Melo, gerente da Runner. Foi o que aconteceu com a bibliotecária Vânia Funaro, 39: "Descobri que tinha hipertensão na bicicleta ergométrica, no primeiro dia de aula", conta. Vânia procurou o programa do Incor em 93 para fazer ginástica. "Quando constataram a hipertensão, pediram que eu fizesse exames, e descobri que também tinha sopro no coração e prolapso da válvula mitral." Depois de um ano e meio de malhação, a bibliotecária não precisa mais tomar remédios para controlar a pressão. "Toda terça fazemos "happy hour" com chope e petiscos porque ninguém é de ferro." Além de prevenir a doença, a atividade física estimula a sociabilização e, assim, diminui a depressão e auxilia na reabilitação. "Você convive com pessoas diferentes, troca experiências. Quase não falamos de problemas", diz o comerciante Luiz Carlos Bacci, 43. Há 15 anos, por causa de um problema no coração e indicação do médico, o aposentado José Agostinho Valente, 72, deixou a vida sedentária. Ele frequenta a academia desde os primórdios do Fitcor, e a amizade com os demais pacientes já extrapolou os limites da academia. "Faço esteira conversando com o vizinho do lado; bicicleta falando de futebol com outro", conta. Sempre que possível, depois de terminar as séries de exercício, o grupo de Valente joga uma partida de futevôlei. "O esporte competitivo não é indicado para cardíacos, só como brincadeira, para promover a distração", adverte Cortez, da Fitcor, que recomenda também o "peewee", jogo de tênis com bola de espuma, quadra pequena e raquete maior do que a convencional.


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