São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2006
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ABC DA HEPATITE

Hepatite A

O que é: uma infecção aguda causada pelo vírus da hepatite A. Pode ser assintomática ou apresentar sintomas semelhantes aos de uma gripe comum (febre, dor no corpo, sensação de fadiga) e náuseas. Em 1/3 dos casos, há quadro de icterícia (cor amarela da pele e das mucosas) com urina escuro. Os sintomas costumam ser mais raros ou mais leves em crianças e mais agudos em idosos. Em geral, o vírus da hepatite A desaparece naturalmente em poucos meses, não causando danos permanentes ao fígado. Em alguns casos, mais raros, a doença ocorre de forma muito severa, que pode levar à falência do órgão
Prevalência: no Brasil, estima-se que entre 65% e 85% da população já teve contato com o vírus da hepatite A, desenvolvendo ou não os sintomas da doença
Como se contrai: a transmissão do vírus é fecal-oral, através da ingestão de água e alimentos contaminados pelas fezes do paciente com o vírus A.O período de maior risco de transmissão é de uma a duas semanas antes e depois do aparecimento dos sintomas
O consumo de frutos do mar, como mariscos crus ou inadequadamente cozidos, está particularmente associado com a transmissão de hepatite A, já que esses organismos podem estar em contato água contaminada]
Prevenção: a vacinação contra o vírus da hepatite A é a forma mais segura de prevenir a doença. Medidas básicas de higiene, como lavar bem as mãos antes e depois de preparar ou consumir alimentos e esterilizar verduras são obviamente preventivas. Em regiões onde as condições de saneamento são precárias, recomenda-se não consumir alimentos crus e tomar só água mineral ou previamente esterilizada. Pessoas com sintomas de gripe ou náuseas não devem preparar alimentos
Tratamento: não há tratamento específico e a doença costuma curar-se por si mesma. No entanto, os sintomas podem ser evitados com a administração de injeções de imunoglobulina específica, principalmente em crianças e idosos, após terem contato com o vírus A.

Hepatite B

O que é: uma inflamação do fígado provocada pelo vírus B da hepatite. Quando evolui para uma infecção crônica, destrói as células do órgão e pode causar cirrose e câncer de fígado. Os sintomas podem levar anos para se manifestar -muitas pessoas só descobrem ser portadoras do vírus quando já desenvolveram uma cirrose, por exemplo. A sensação de fadiga é o sintoma mais comum da hepatite B crônica. Alguns pacientes apresentam febre leve, falta de apetite, náuseas e reações assemelhadas às da gripe
Prevalência: no mundo todo, há 350 milhões de portadores crônicos da hepatite B e 50 milhões de novos casos a cada ano. As estimativas brasileiras são de até 3% de portadores sem sintomas e 1% de doentes crônicos
Como se contrai: no contato sexual com portadores do vírus, por meio de fluidos corporais, ferimentos, sangue e agulhas contaminadas. Mães portadoras da doença podem transmiti-la ao recém-nascido
Prevenção: existe vacina para a hepatite B. Ela é oferecida gratuitamente na rede pública para pessoas de até 19 anos incompletos. O restante da população precisa procurar clínicas particulares para a imunização. Outras medidas preventivas incluem o uso de camisinha nas relações sexuais, não compartilhar lâminas, escovas de dentes e agulhas e usar luvas de proteção no contato com sangue. Para evitar a transmissão da mãe para o filho, no caso de ela ser portadora do vírus, o recém-nascido deve receber a vacina e imunoglobulina logo após o parto
O vírus da hepatite B é considerado 20 vezes mais contagioso do que o HIV, causador da Aids. Campanhas de informação e estímulo à prática do sexo seguro, nos moldes das de prevenção à Aids, deveriam também focar a hepatite B, acreditam os especialistas]
Tratamento: a doença pode ser relativamente controlada com medicamentos, mas ainda não se pode falar em cura. Atualmente, há duas alternativas de tratamento para pacientes com hepatite B crônica: os medicamentos chamados interferons, injetáveis, e um grupo de medicamentos orais -lamivudina, adefovir e entecavir, os dois últimos aprovados no ano passado

Hepatite C

O que é: causada pelo vírus C da hepatite, raramente surge na forma aguda, mas torna-se uma doença crônica na maioria das pessoas contaminadas, evoluindo, em 20% dos casos, para a cirrose e, em alguns casos, para o câncer de fígado. Em geral, as manifestações de uma possível cirrose só aparecem cerca de 20 anos depois de a pessoa contrair o vírus. Antes disso, podem ocorrer sintomas não-específicos, como fadiga e dores de estômago. Nos estágios avançados, já com cirrose, os pacientes podem apresentar náuseas, inchaço abdominal, hemorragia interna e confusão mental. A cirrose causada pela hepatite C é a principal causa de transplantes de fígado em todo o mundo (mais de 50% dos casos)
Prevalência: há entre 170 e 200 milhões de pessoas infectadas pelo vírus da hepatite C no mundo. No Brasil, a doença atinge de 1,2% a 2% da população. Os índices mais altos concentram-se na região Norte (2,1%) e os mais baixos, no Sul do país (0,7%)
Como se contrai: principalmente no contato com sangue contaminado, por meio de agulhas ou transfusões. Pessoas expostas ao contágio, como os profissionais de saúde, estão no grupo de risco. É pouco freqüente, embora possível, a transmissão do vírus verticalmente, da mãe para o filho recém-nascido, assim como a transmissão sexual
Prevenção: não usar drogas injetáveis, praticar sexo seguro, realizar transfusões de sangue e derivados em instituições idôneas, tomar medidas de proteção quando em contato com sangue, não compartilhar agulhas, lâminas e objetos perfuro cortantes. Embora pesquisas estejam em andamento, ainda não se chegou à vacina para a hepatite C
Os testes mais sensíveis para detectar o vírus da da hepatite C só foram introduzidos nos bancos de sangue do país entre 1992 e 1993. Pessoas que receberam transfusões antes disso devem fazer o teste da hepatite]
Tratamento: é feito combinando medicamentos injetáveis (interferons) e orais (ribavirina), e dura entre seis meses e um ano. Pode causar efeitos colaterais, como anemia hemolítica e depressão, entre outros. O tratamento é eficaz em 55% dos casos.

Fontes: João Galizzi Filho, presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia; Edna Strauss, professora de hepatologia da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); Hugo Cheinquer, professor de hepatologia da UFRS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul); American Association for the Study of Liver Disease (Associação Americana para o Estudo das doenças do Fígado)


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