São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009 |
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CARNAVAL Curar a ressaca
Não existe remédio eficaz contra o mal-estar, mas comer carboidratos e tomar líquidos antes, durante e depois ajuda
"Meu pai nunca
teve ressaca",
diz Inês de
Castro, 69, filha do cofundador da Mangueira, Carlos Cachaça (1902-1999). "E não tinha esse negócio de chá de boldo." Mas o dom
da invulnerabilidade se reserva
aos mitos. Mesmo sua filha, a
"Cachacinha", não é imune.
"Para o Carnaval, vou preparar
um chá de louro com casca de
cebola."
"Bastante carboidrato antes
e muito líquido e fruta depois",
aconselha Robério Theodoro
de Souza, 27, o rei Momo mais
magro da história da cidade,
com 91 kg. Ele está correto, de
acordo com a nutricionista Ioná Zalcman, da Unifesp,.
Lipídios demoram muito para descer do estômago. Eles
protegem a mucosa do órgão
contra uma gastrite alcoólica e
dificultam a absorção do álcool,
segundo Wellington Monteiro
Machado, presidente da Sociedade de Gastroenterologia e
Nutrição do Estado de São Paulo. No entanto, essa absorção
lenta diminui a percepção do
álcool, o que acaba levando o
folião a beber ainda mais, diz
Lígia Maria Guimarães, gastroenterologista do Hospital
Edmundo Vasconcelos.
"Eu deixo rolar a dívida.
Quando acordo, tomo uma cerveja gelada", diz Alvanísio Damasceno, 52, presidente do
Bloco das Carmelitas, do Rio.
"Isso não é mito, é um crime",
rebate Carlos de Barros Mott,
gastroenterologista do Hospital Sírio-Libanês. Manter o nível alcoólico no sangue pode
adiar a ressaca, mas a tal dívida
voltará de qualquer forma
quando o nível baixar. "Essa
crendice é um sinal de dependência que só estimula o consumo e a intoxicação. Não pode
ser estimulada", diz Raymundo
Paraná, professor de Hepatologia Clínica da Universidade Federal da Bahia.
Ácido acetilsalicílico e paracetamol aliviam a dor causada
pela vasodilatação no cérebro;
no entanto, o primeiro agrava a
gastrite alcoólica e o segundo,
misturado ao álcool, pode levar
a doença hepática grave, segundo Paraná. Anti-inflamatórios
também podem atacar o estômago.
Café, energéticos e refrigerantes à base de cola entraram
na mitologia etílica por conterem cafeína. Ela até pode se
contrapor aos efeitos depressivos do álcool no sistema nervoso central, mas, por outro lado,
também estimula a produção
de ácido clorídrico no estômago, o que agrava a gastrite alcoólica, segundo Mott. Para
piorar, ela tem efeito diurético,
que piora o quadro de desidratação. |
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