São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2001
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drible a neura

Choro do bebê deixa pais assustados

JULIANA LOPES - FREE-LANCE PARA A FOLHA

Voltar da maternidade para casa com o filho recém-nascido no colo é um momento inesquecível para qualquer pai. Mas, quando o bebê começa a chorar sem dar trégua, a alegria vira desespero, sobretudo para pais de primeira viagem, que se sentem impotentes quando não conseguem consolar o rebento. Antes de arrancar os cabelos, aconselham os médicos, é importante lembrar que o choro é a principal forma de o bebê se comunicar. Por isso, o que deve preocupar não é o bebê chorão, mas sim o bebê calado.
Sobretudo durante o primeiro mês, quando os pais são os únicos interlocutores do bebê com o mundo, decifrar o que o filho está querendo dizer com o choro deixa muitos deles em pânico. "Uma das maiores reclamações que recebemos no consultório é a insegurança dos pais em relação ao choro do bebê", afirma Claudio Schvartsman, chefe da pediatria do hospital Albert Einstein. "Se a mãe não estiver bem informada sobre quais são as possíveis causas do choro, vai ficar mesmo insegura."
Aprender a decifrar o choro é importante porque, em geral, o bebê não está fazendo manha, mas dizendo que algo o está incomodando. "O choro funciona como uma sirene que alerta alguma necessidade da criança. Mas não significa necessariamente que haja um problema grave", afirma Sandra de Oliveira Campos, professora de infectologia pediátrica da Unifesp. Para o pediatra e homeopata Oswaldo Cudizio Filho, os pais sempre devem dar ouvidos ao choro do bebê, que pode ter uma dor física ou psicológica. Mas sem entrar em parafusos.
Para detectar o motivo do choro o melhor caminho é eliminar as possibilidades mais fáceis de serem checadas. Em primeiro lugar, verifique se o bebê não está com fome, frio, calor, em posição incômoda no berço, com sono ou dificuldade de dormir. Sustos, cólicas, assaduras, estranhamento em relação a pessoas ou a um ambiente novo e necessidade de carinho também podem detonar o berreiro.
Se não houver motivo aparente para o choro frequente e o bebê já tiver passado da fase de cólica do lactente -que normalmente dura três meses-, deve-se tentar detectar se ele está sofrendo algum problema típico da idade. Como, por exemplo, a alergia à lactose, que causa dores intermináveis nos pequenos. Nesses casos, a melhor opção é deixar o pediatra a par de tudo o que se passa com o bebê.
Para alívio dos pais, a maioria dos médicos afirma que são pequenas as chances de uma criança ter problemas sérios de saúde nos primeiros meses de vida. Na maior parte das vezes, a choradeira é uma maneira de o bebê pedir, reclamar e até desabafar a tensão do dia.
Outra informação importante é que, quando o bebê está sentindo dor, nem sempre o choro é a resposta mais frequente. Muitos bebês fazem caretas, resultado da contração dos músculos da face. "Geralmente, o choro aparece como resposta em, no máximo, 60% dos casos de dor", diz a pediatra especializada em choro e dor Ruth Guinsburg, chefe da UTI neonatal da Unifesp.
Pesquisa feita nos EUA constatou que, em geral, o choro de crianças que sentem dor é mais agudo do que o choro motivado por outras causas. Mas a regra não vale para todos os bebês. "Para conhecer os filhos, os pais precisam ter criatividade e bom humor. A mãe deve estar preparada para fazer um monte de coisas erradas e não se culpar por isso", afirma o pediatra Oswaldo Cudizio.
Os pais também devem ficar atentos a fases do desenvolvimento da criança que trazem motivos específicos para o choro. É o caso da cólica nos primeiros três meses, do dente que está nascendo, da fase em que a mãe volta à rotina do trabalho. Nada disso, contudo, é regra. Não há manual de instruções, e cada bebê tem uma personalidade diferente. Por isso, mesmo pais experientes têm dificuldades de entender tudo o que o bebê quer dizer com o choro. "Sempre há diferenças entre irmãos. A criança tem personalidade própria desde o nascimento. A mãe tem de criar uma rotina para que o bebê reconheça o mundo através dela", aconselha a médica Sandra de Oliveira.

Se os pais desconfiam que o choro insistente é sinal de problema mais sério, vale a pena seguir o instinto maternal e insistir com o pediatra. Foi o que aconteceu com Julia, a primeira filha de Lilian Lahoud, 31. "Ela chorou demais até o oitavo mês. A cólica não chegava ao fim e todo mundo dizia que a culpa era minha, que eu passava o nervoso para a minha filha." Lilian não dormia mais do que uma hora por noite e ficou esgotada. O marido dava palpite, o médico dizia para ela ficar calma. "Minha filha tinha um problema de alergia à lactose. Ela só poderia ter tomado leite de soja durante todo esse tempo, por isso que morria de dores. Pelo menos perceberam que eu não estava ficando louca", lembra. Para ajudar os pais a decifrar os filhos, pediatras ouvidos pela reportagem enumeram abaixo as causas mais comuns do desconforto que faz o bebê chorar quando não há nenhum problema sério por trás.

Choro da fome
Não há como evitar. Os bebês mamam várias vezes ao dia e abrem o berreiro ao menor sinal de fome. Às vezes, eles continuam chorando mesmo com a boca no peito. Não estranhe e tenha paciência porque eles só estão se adaptando.

Choro do desconforto
Se sentir frio, o bebê enrijece o corpo e chora. Se estiver com calor, vai ficar com a pele avermelhada e chorar também. Bebês abrem o berreiro se estiverem mal posicionados no berço e quando querem levantar ou deitar. E choram até o desconforto passar.

Choro de cólica
A famosa cólica do lactente tira os pais do sério. O bebê sofre até os 3 meses de idade porque seu intestino é imaturo e ele tem dificuldade de evacuar. Procure orientação médica.

Choro do banho
Os bebês só conseguem perceber quais são os limites do corpo pelo contato com a roupa que vestem. Quando ficam nus, alguns choram muito, pois se sentem perdidos. O choro pode ser evitado se a mãe apoiar em seu corpo os pés do filho para ele se sentir mais situado.

Choro da falta de carinho
Alguns bebês precisam de mais contato físico que outros. Querem colo e gostam de sentir o cheiro e o calor da mãe. Nem todos são mimados, mas só param de chorar se a necessidade for atendida.

Choro do meio da noite
Mais comum nos recém-nascidos, que estavam acostumados às noites de sono na barriga da mãe. Quando acordam num lugar diferente e escuro, estranham e choram. Esse choro dura cerca de 15 minutos, e os pais não precisam levantar da cama porque, em geral, o bebê se acalma sozinho.

Choro do mimo
Se a mãe coloca o bebê no colo toda vez que ele dá um resmungo, é bem provável que ele vá se acostumar e abra o maior berreiro quando a situação for diferente do que ele espera.

Choro do fim do dia
Alguns médicos acreditam que esse choro é uma espécie de desabafo. Cada dia na vida do bebê é uma experiência complexa, e o excesso de novas informações deixa a criança tensa, que chora porque está cansada mental e fisicamente.

Choro da desorganização
mental O bebê fica confuso no meio de tantas coisas novas e, como não processa todas as informações, chora. É um choro de desordem, e a mãe, como interlocutora, deve tentar tranquilizá-lo.

Choro do choro
Quando a mãe já fez tudo para aliviar possíveis desconfortos, e o bebê continua chorando, o jeito é ter paciência. O choro muda de tom e vira um resmungo choramingado. É só esperar que passa.


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