São Paulo, quinta-feira, 19 de novembro de 2009
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ANÁLISE

Quando se preocupar com a sua memória?


[...] ESQUECER SEMPRE O NÚMERO DO SEU TELEFONE OU O SEU ENDEREÇO NÃO É INÓCUO

SUZANA HERCULANO-HOUZEL
ESPECIAL PARA A FOLHA

A idade traz experiência mas também leva consigo algumas características da juventude. A partir dos 20 e poucos anos, a facilidade de memorização de informações novas, de visualização espacial e a rapidez de raciocínio decaem, as respostas ficam cada vez mais lentas e, segundo o neurocientista brasileiro Iván Izquierdo, a partir dos 40 anos começa a decair também a persistência da memória -ou seja, a capacidade de lembrar daqui a dois dias do nome do filme que você assistiu hoje na televisão.
A única capacidade que parece declinar constantemente a partir da idade adulta, no entanto, é a rapidez de resposta.
Memória, raciocínio e visualização espacial declinam depois da adolescência, mas lá pelos 35 anos estacionam e ali permanecem até pelo menos os 60 anos.
O mais importante, contudo, é que ficar cada vez mais lento dos 20 e poucos até os 60 anos não significa ficar lento demais para funcionar; da mesma forma, já não ter a memória tão boa quanto ela foi no passado é muito diferente de não ter memória nenhuma.
Além do mais, tudo o que diz respeito à habilidade de lidar com informações adquiridas, inclusive expressando-as em palavras, melhora com a idade.
A "experiência", eufemismo comum (e correto!) para o envelhecimento, tem vantagens.
A redução da capacidade de memorização e o aumento do esquecimento podem ser, portanto, considerados normais.
Mas até que ponto? Quando chega a hora de se preocupar com o declínio da memória?
Uma boa regra geral é: quando ele passa a perturbar a sua vida. Não lembrar o nome do filme de dois dias atrás é inócuo; esquecer sistematicamente compromissos, o número do seu telefone ou o seu endereço não é. Perdas súbitas de memória também valem uma visita ao neurologista.
Passar os dias achando que sua memória está desaparecendo também conta como "perturbar sua vida", e vale a ida ao neurologista para tirar a dúvida -porque a própria preocupação com a memória pode perturbá-la: hoje se sabe que o estresse crônico é um grande inimigo do cérebro e da capacidade de memorização. Além do mais, várias vezes o "problema de memória" é, na verdade, falta de atenção...
Soa ruim saber que sua memória não será a mesma por muito tempo? Veja por outro lado: quem sabe que começa a envelhecer cerebralmente tão logo sai da adolescência pode começar imediatamente a se cuidar. Nada de esperar pela terceira idade para começar a fazer exercícios físicos e aprender coisas novas. A saúde da sua memória começa já!


SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista, professora da UFRJ, autora do livro "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog www.suzanaherculanohouzel.com.

suzanahh@gmail.com


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