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S.O.S. FAMÍLIA
Quando a escola resolve reprovar os pais
ROSELY SAYÃO - COLUNISTA DA FOLHA
As escolas têm reprovado
em massa. Os alunos? Imagine! Em geral eles não são
retidos: passam para a próxima série automaticamente. E quem as
escolas têm reprovado? Ninguém
mais do que os pais!
Os alunos não têm disciplina em
aula, não se comportam, não obedecem? Os pais não dão limites aos
filhos, não ensinam bons modos,
não dão educação aos garotos, avaliam os educadores. Os alunos não
fazem a lição? Os pais são ausentes, não acompanham os estudos dos
filhos, não se responsabilizam pelos deveres escolares que eles -os filhos- devem cumprir, julgam os professores. Os alunos são impertinentes, agressivos, cometem pequenos furtos e vivem arrumando encrenca na escola? As famílias estão desestruturadas, e os filhos têm
problemas emocionais que os fazem agir assim, dizem os professores.
Aí começa a confusão: a escola envia bilhetes aos pais cobrando soluções, faz encaminhamentos terapêuticos dos alunos, propõe reuniões
familiares para discutir o caso etc. E os pais reagem: brigam com a escola em defesa dos filhos, buscam nela apoio para aprender a "educar
melhor" as crianças e adolescentes, dão bronca, ameaçam e castigam
os filhos, sentem-se fracassados ou impotentes. Quantos equívocos!
Os pais não conseguem resolver em casa problemas que são da escola!
Quando a criança entra na escola, ela começa a aprender a enfrentar
a vida por conta própria. E, se os pais são chamados a intervir nesse
processo, só um sai perdendo: a criança ou o adolescente.
A escola não pode saber como as crianças devem ser educadas em
casa, por isso não tem como avaliar os pais. E, para exercer sua responsabilidade, a escola deve se ater ao que é da sua competência. Como
bem diz o professor Julio Aquino, que estuda cuidadosamente a relação escola-aluno, "quanto mais o professor amplia suas funções, mais
abandona seu posto, e mais a criança se confunde em relação aos seus
deveres e direitos no espaço escolar".
Os pais não devem se sentir culpados pelas dificuldades escolares
dos filhos: devem apenas se responsabilizar e, em casa, encorajar o filho a enfrentar os problemas. E as escolas devem sempre lembrar que
seu papel se restringe aos alunos. Isso permite uma boa parceria em favor do aluno, e não contra os pais.
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