São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 2000
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S.O.S. FAMÍLIA
Quando a escola resolve reprovar os pais

ROSELY SAYÃO - COLUNISTA DA FOLHA

As escolas têm reprovado em massa. Os alunos? Imagine! Em geral eles não são retidos: passam para a próxima série automaticamente. E quem as escolas têm reprovado? Ninguém mais do que os pais!
Os alunos não têm disciplina em aula, não se comportam, não obedecem? Os pais não dão limites aos filhos, não ensinam bons modos, não dão educação aos garotos, avaliam os educadores. Os alunos não fazem a lição? Os pais são ausentes, não acompanham os estudos dos filhos, não se responsabilizam pelos deveres escolares que eles -os filhos- devem cumprir, julgam os professores. Os alunos são impertinentes, agressivos, cometem pequenos furtos e vivem arrumando encrenca na escola? As famílias estão desestruturadas, e os filhos têm problemas emocionais que os fazem agir assim, dizem os professores.
Aí começa a confusão: a escola envia bilhetes aos pais cobrando soluções, faz encaminhamentos terapêuticos dos alunos, propõe reuniões familiares para discutir o caso etc. E os pais reagem: brigam com a escola em defesa dos filhos, buscam nela apoio para aprender a "educar melhor" as crianças e adolescentes, dão bronca, ameaçam e castigam os filhos, sentem-se fracassados ou impotentes. Quantos equívocos! Os pais não conseguem resolver em casa problemas que são da escola!
Quando a criança entra na escola, ela começa a aprender a enfrentar a vida por conta própria. E, se os pais são chamados a intervir nesse processo, só um sai perdendo: a criança ou o adolescente.
A escola não pode saber como as crianças devem ser educadas em casa, por isso não tem como avaliar os pais. E, para exercer sua responsabilidade, a escola deve se ater ao que é da sua competência. Como bem diz o professor Julio Aquino, que estuda cuidadosamente a relação escola-aluno, "quanto mais o professor amplia suas funções, mais abandona seu posto, e mais a criança se confunde em relação aos seus deveres e direitos no espaço escolar".
Os pais não devem se sentir culpados pelas dificuldades escolares dos filhos: devem apenas se responsabilizar e, em casa, encorajar o filho a enfrentar os problemas. E as escolas devem sempre lembrar que seu papel se restringe aos alunos. Isso permite uma boa parceria em favor do aluno, e não contra os pais.


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