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entrevista
O avesso do exercício
Fisioterapeuta francesa Thérèse Bertherat, criadora da "antiginástica", que prega o aumento da consciência corporal e o exercício de músculos "esquecidos", faz palestra em São Paulo
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
O
primeiro livro da fisioterapeuta francesa Thérèse Bertherat, "O Corpo Tem
suas Razões", traz uma dedicatória curiosa. Entre outros, ali é
citada "A., célebre advogada,
que teme perder sua autoridade se abandonar a nuca rígida e
as feições agressivas".
O trecho prepara o terreno
para a teoria que será desenvolvida ao longo da obra. Bertherat defende que as emoções
ajudam a moldar nosso corpo,
num processo que trabalha
principalmente os músculos
posteriores. Além disso, diz, os
esportes acionam esses mesmos músculos, desequilibrando ainda mais o organismo.
Criadora da "antiginástica"
-método que busca exercitar
os músculos "esquecidos" e aumentar a consciência corporal-, Bertherat realiza hoje, em
São Paulo, uma palestra sobre o
tema. Leia a seguir trechos da
entrevista concedida à Folha.
FOLHA - A ginástica e os esportes
costumam ser associados à saúde,
mas a senhora os critica. Por quê?
THÉRÈSE BERTHERAT - É perturbador ver pessoas obstinadas em
exercitar o corpo sem ter idéia
do que estão fazendo realmente. Elas estão encurtando músculos que já são bem curtos. O
esforço sobre esses nós musculares os sobrecarrega. Faz mais
mal do que bem.
FOLHA - A senhora inclui a natação
entre as ações que mais trabalham a
região das costas. Nadar é ruim?
BERTHERAT - Devemos nadar e
praticar esportes sim, mas por
prazer. É preciso conhecer seu
corpo, saber trabalhar todos os
músculos. Depois disso, podemos tudo. O importante é não
sentir culpa. Temos no cérebro
um programa vindo de nossos
ancestrais que diz que, se não
pudermos correr, escalar e caçar um mamute, não merecemos viver em sociedade.
FOLHA - Como a "antiginástica"
combate o sedentarismo?
BERTHERAT - A "antiginástica"
não é um relaxamento ou uma
ginástica suave. Ela realmente
torna as pessoas mais fortes,
pois elas aprendem a se reconhecer e a liberar a formidável
reserva de energia que temos
na metade do corpo que nós ignoramos: a parte da frente.
FOLHA - A senhora diz que "entrar
em contato com o corpo é dar acesso
a seu ser inteiro". Há um efeito psicológico? É preciso falar nas sessões?
BERTHERAT - Não é preciso fazer
confidências, mas, se trabalharmos de forma precisa o
pescoço, as pernas etc, as palavras acabam saindo. O corpo é
cheio de memórias -nós tentamos trabalhar as mais felizes.
FOLHA - Por que a aula é grupal se a
idéia é conhecer o próprio corpo?
BERTHERAT - É fascinante ver
que os outros, ao redor, mantêm o rosto mais luminoso, os
ombros mais largos. Você se
pergunta: "E eu?", antes de perceber que exibe as mesmas diferenças. Nossas mudanças
passam pela visão da mudança
dos outros. Somos feitos assim.
A palestra será realizada na livraria Martins
Fontes, al. Jaú, 1.742, Jardins, São Paulo, tel.0/
xx/11/2626-1940. A inscrição custa R$ 40. Conheça alguns exercícios no site www.antigymnastique.com/prtg/tb.html
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