São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 2006
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entrevista

O avesso do exercício

Fisioterapeuta francesa Thérèse Bertherat, criadora da "antiginástica", que prega o aumento da consciência corporal e o exercício de músculos "esquecidos", faz palestra em São Paulo

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

O primeiro livro da fisioterapeuta francesa Thérèse Bertherat, "O Corpo Tem suas Razões", traz uma dedicatória curiosa. Entre outros, ali é citada "A., célebre advogada, que teme perder sua autoridade se abandonar a nuca rígida e as feições agressivas". O trecho prepara o terreno para a teoria que será desenvolvida ao longo da obra. Bertherat defende que as emoções ajudam a moldar nosso corpo, num processo que trabalha principalmente os músculos posteriores. Além disso, diz, os esportes acionam esses mesmos músculos, desequilibrando ainda mais o organismo. Criadora da "antiginástica" -método que busca exercitar os músculos "esquecidos" e aumentar a consciência corporal-, Bertherat realiza hoje, em São Paulo, uma palestra sobre o tema. Leia a seguir trechos da entrevista concedida à Folha.  

FOLHA - A ginástica e os esportes costumam ser associados à saúde, mas a senhora os critica. Por quê?
THÉRÈSE BERTHERAT
- É perturbador ver pessoas obstinadas em exercitar o corpo sem ter idéia do que estão fazendo realmente. Elas estão encurtando músculos que já são bem curtos. O esforço sobre esses nós musculares os sobrecarrega. Faz mais mal do que bem.

FOLHA - A senhora inclui a natação entre as ações que mais trabalham a região das costas. Nadar é ruim?
BERTHERAT
- Devemos nadar e praticar esportes sim, mas por prazer. É preciso conhecer seu corpo, saber trabalhar todos os músculos. Depois disso, podemos tudo. O importante é não sentir culpa. Temos no cérebro um programa vindo de nossos ancestrais que diz que, se não pudermos correr, escalar e caçar um mamute, não merecemos viver em sociedade.

FOLHA - Como a "antiginástica" combate o sedentarismo?
BERTHERAT
- A "antiginástica" não é um relaxamento ou uma ginástica suave. Ela realmente torna as pessoas mais fortes, pois elas aprendem a se reconhecer e a liberar a formidável reserva de energia que temos na metade do corpo que nós ignoramos: a parte da frente.

FOLHA - A senhora diz que "entrar em contato com o corpo é dar acesso a seu ser inteiro". Há um efeito psicológico? É preciso falar nas sessões?
BERTHERAT
- Não é preciso fazer confidências, mas, se trabalharmos de forma precisa o pescoço, as pernas etc, as palavras acabam saindo. O corpo é cheio de memórias -nós tentamos trabalhar as mais felizes.

FOLHA - Por que a aula é grupal se a idéia é conhecer o próprio corpo?
BERTHERAT
- É fascinante ver que os outros, ao redor, mantêm o rosto mais luminoso, os ombros mais largos. Você se pergunta: "E eu?", antes de perceber que exibe as mesmas diferenças. Nossas mudanças passam pela visão da mudança dos outros. Somos feitos assim.


A palestra será realizada na livraria Martins Fontes, al. Jaú, 1.742, Jardins, São Paulo, tel.0/ xx/11/2626-1940. A inscrição custa R$ 40. Conheça alguns exercícios no site www.antigymnastique.com/prtg/tb.html


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