São Paulo, quinta-feira, 20 de agosto de 2009
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DERMATOLOGIA

Agulhada nas espinhas

Pesquisador americano testa aplicações de botox para tratar acne; toxina atua impedindo a produção de óleo pelas glândulas sebáceas


[...] A REDUÇÃO DOS POROS NAS ÁREAS EM QUE A TOXINA É APLICADA JÁ HAVIA SIDO CONSTATADA POR MÉDICOS QUE FAZEM TRATAMENTO COM BOTOX CONTRA RUGAS

JULIANA CUNHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ele já é usado para tratar uma série de doenças -além da aplicação mais clássica, contra as rugas. Agora, um cirurgião plástico americano propõe que o botox seja um aliado também contra a acne.
O pesquisador Anil Shah acompanhou 20 pacientes e publicou os resultados do estudo em um artigo na revista "Journal of Drugs in Dermatology". De acordo com o médico, ao ser aplicada na pele, a toxina bloqueia os receptores de acetilcolina -um neurotransmissor-, impedindo a produção de óleo pelas glândulas sebáceas.
O excesso de óleo que algumas peles produzem é justamente o que as torna mais propensas a desenvolver espinhas e cravos, já que o óleo serve de alimento para as bactérias que causam inflamações.
Shah selecionou pacientes que já tinham tentado outros tratamentos contra acne, inclusive a isotretinoína (Roacutan) -medicamento tido como o mais eficaz até o momento- e não tinham obtido uma melhora satisfatória.
Segundo o cirurgião, o botox não é uma possibilidade de tratamento universal para acne. Ele recomenda o uso da toxina apenas para pacientes acima de 20 anos que sofram de acne hormonal, caso em que o tratamento com a isotretinoína parece ter menos resultado.
O procedimento é tecnicamente difícil porque a dose deve ser mínima para não acabar paralisando o músculo do paciente. A paralização temporária do músculo é o que se quer no combate às rugas, mas não seria desejável no caso de pacientes de 20 anos que procuram tratar acne.
Além disso, o tratamento tem que ser repetido depois de um tempo -seis meses, por exemplo-, como acontece na aplicação antirrugas.
Segundo Bogdana Victoria Kadunc, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia e doutora em dermatologia pela USP (Universidade de São Paulo), a aplicação do botox nesse caso não traz riscos para a saúde. A única consequência negativa possível seria estética. "A toxina se espalha ao redor do lugar de aplicação. Conforme o local, pode atingir músculos que você não gostaria de paralisar, acarretando mudanças na dinâmica do sorriso e da fala", afirma.
Mesmo com esse risco, Shah Shah acredita que o tratamento seja mais seguro que a isotretinoína, que, em sua ampla lista de possíveis efeitos colaterais (que inclui sequidão labial e da mucosa nasal, descamação e dermatite facial), traz a teratogenia, geração de defeitos permanentes no feto caso a paciente engravide durante o uso do medicamento.
Para Shah, o uso do botox para acne é seguro, e o sucesso do tratamento depende apenas da habilidade do profissional que aplicar a toxina, exatamente como ocorre no uso do botox para rugas.
Bogdana Kadunc pondera que o uso do botox para acne ainda está sendo estudado e não há suficiente comprovação científica para que seja usado amplamente nos consultórios.
Segundo ela, a redução nos poros nas áreas em que a toxina é aplicada já havia sido constatada por diversos médicos que fazem tratamento com botox contra rugas. Isso traz esperança de que a toxina possa servir também para tratar a acne, mas até o momento existe apenas uma pesquisa a esse respeito -a de Anil Shah, que recomenda que sejam feitos novos estudos sobre o assunto.


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