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drible a neura
Estresse do trânsito invade interior dos táxis
AUGUSTO PINHEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Um motorista falastrão, um suposto caminho mais longo, uma conversa
sobre política, um cigarro aceso... Principalmente nas grandes cidades, onde o
trânsito é capaz de tirar qualquer um do sério, não faltam situações que acabam
irritando taxistas e passageiros.
"São Paulo é uma cidade muito grande,
muito agressiva, e, no trânsito, qualquer
um se sente estressado porque tem de
cumprir horários, então isso pode aumentar a tensão", diz Anna Mathilde Pacheco e Chaves, professora do Instituto
de Psicologia da USP.
A psicóloga Anette Farina, do mesmo
instituto, afirma que o complicado é que,
com o trânsito caótico, um trajeto curto
pode virar uma longa corrida, e a convivência pode não ser agradável. Geralmente, é o motorista que faz concessões.
"Ele é um prestador de serviços, vai procurar agradar ao cliente."
A sensação de que o motorista está
"enrolando" para faturar mais é um dos
principais motivos de estresse entre os
passageiros. "Já aconteceu várias vezes de
eu dizer o endereço e o motorista parar
no meio no caminho para olhar no guia
de ruas com o taxímetro correndo", conta o ator e dançarino Alberes Alves Farias, 23. "Ou dizem que estão fazendo o
caminho mais curto, mas dão mil voltas."
Essa desconfiança gera um paradoxo.
O taxista André Luis Campagnoli da Silva, 28, diz que às vezes prefere fazer o caminho tradicional, mais longo e demorado, em vez de um alternativo. "Por ser
um caminho diferente, mesmo sendo
mais curto, o passageiro pode achar que
está sendo enganado."
Passageiros atrasados, que ficam pedindo para o motorista "pisar fundo",
também são um problema. "O trânsito
de São Paulo é terrível. A pessoa deixa para sair de última hora e acha que a gente tem asa", reclama o taxista Luiz Tadeu da
Silva Garcia, 43.
Ele conta que já perdeu a paciência.
"Sou uma pessoa tranquila, mas o cara,
atrasado para chegar ao aeroporto, estava me enchendo. Parei o carro e perguntei se ele não queria dirigir enquanto eu ia
atrás, "buzinando" no ouvido dele. Ele ficou calado o resto da viagem."
Os motoristas dizem que, nessas situações, preferem ser prudentes. "Não vou
cometer uma infração porque o passageiro está atrasado", afirma Fernando da
Silva Santana, 45. Por exigência de um
cliente, Santana diz que já chegou a ser
multado por parar em fila dupla.
Segundo a psicóloga Anna Mathilde,
"falta espírito cívico em São Paulo". "Tudo indica que esta cidade não anda bem.
É uma guerra de todos contra todos."
A questão da conversa inoportuna é
outra que gera polêmica entre motoristas
e passageiros. "Detesto quando o motorista fica puxando conversa e não estou a
fim de falar. Alguns fazem perguntas indiscretas", diz a assistente financeira
Claudinéia Carvalho, 24.
Outra que não gosta de papo é a assistente administrativa Juliana Ishiguro, 20.
"Respondo de forma curta e seca. Às vezes, eles só percebem que não quero conversar quando a corrida está acabando."
Indiscrição
Mas Juliana não gosta
mesmo é das perguntas que considera
"pessoais". Ela diz que também já foi
"cantada" por um motorista. "Eu estava
voltando da noitada. No final da corrida,
o motorista deixou o telefone e disse que,
se eu estivesse sozinha, poderia ligar para
ele. Era um senhor!", conta.
Mas há aqueles passageiros que adoram bater papo. A estudante Cristina Gabriel Clemente, 18, não gosta quando o
motorista é muito sério. "Gosto de conversar. Acho chato taxista calado." O ator
Alberes Farias também prefere bater papo. "Conversar relaxa. Já desabafei com
taxista, falei da minha vida pessoal."
Muitas vezes, o taxista acaba assumindo o papel de "terapeuta". "Isso acontece
principalmente com as mulheres", conta
Fernando Santana. "Elas contam que brigaram com o marido, que estão com problemas em casa. No final, até agradecem
pelo desabafo." O taxista Antonio Lombardi, 57, diz que já ficou constrangido
com algumas histórias contadas pelas
passageiras. "Várias já contaram que flagraram o marido com outro homem."
A psicóloga Anette explica que, por estarem sempre correndo, as pessoas têm
poucas oportunidades de trocar informações, sentimentos. "As relações são
muito calcadas nos papéis sociais. Como
o taxista tem uma característica neutra e,
possivelmente, o passageiro não vai mais
vê-lo, ele se sente mais à vontade para
conversar." Já Anna Mathilde acredita
que os desabafos tenham relação com "a
solidão da cidade e com a proximidade
física em um espaço pequeno".
Outro fator de estresse é o cigarro. Em
São Paulo, uma lei municipal proíbe fumar nos táxis, mas, com medo de perder
o passageiro, a maioria dos motoristas
permite. Não é o caso de Arcelino Estácio
da Silva, 27. "Quando a viagem é longa,
eu digo que pode, porque sei que a pessoa
vai sofrer. Mas, se é curta, peço para não
fumar", diz. Mesmo assim, se o passageiro insistir muito, ele acaba liberando.
Entre as quatro portas do automóvel,
outro assunto delicado são as cantadas
-tanto de mulheres quanto de homens.
"Geralmente as mulheres cantam a gente
para não pagar a corrida, mas isso não
cola", diz Santana. O taxista diz que homens mais ousados já chegaram a alisar a
sua perna. "Eu vou na diplomacia, mas, se fizer de novo, parto para a agressão."
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