|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAÚDE
Na mão das crianças
Lavar bem as mãos das crianças é a medida mais eficaz para prevenir resfriados e outras viroses, diz estudo
RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A chegada oficial do inverno, no último domingo, renova a preocupação a respeito de
como evitar as viroses respiratórias. Pais de filhos em idade
escolar costumam ficar especialmente alertas devido às
lembranças de noites mal dormidas em consequência de viroses que acometem os pequenos nessa época.
O que nem todos eles sabem
é que a principal medida para
conter esse tipo de vírus está
bem a seu alcance -ou, melhor,
nas mãos das crianças.
Isso é o que apontou uma
análise de 51 estudos sobre diferentes medidas para restringir epidemias de vírus respiratórios, realizada por pesquisadores da Cochrane Collaboration, organização internacional
que avalia pesquisas médicas.
Mais do que usar máscaras e
luvas ou manter os doentes em
quarentena, a intervenção mais
eficaz para reduzir a disseminação de doenças respiratórias
é manter as mãos das crianças
bem limpas.
A infectologista Rosana
Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e do
Hospital e Maternidade Santa
Joana, concorda. "Tenho
orientado pessoas que vão viajar para locais com a gripe suína
a higienizar frequentemente as
mãos, porque é nelas que carregamos o vírus e onde ele sobrevive por até 30 minutos", diz.
Richtmann diz que as crianças carregam mais vírus porque
não têm o hábito de lavar as
mãos. "Temos que ensiná-las
desde pequenas. Se conseguirmos incutir nas crianças a importância da higienização das
mãos para se alimentarem,
após irem ao banheiro ou quando espirram, elas serão adultos
mais preparados para evitar a
contaminação", acredita.
O infectologista e pediatra do
Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo
Evandro Roberto Baldacci vê a
pesquisa com mais cautela. Para ele, as vias aéreas também
são responsáveis por grande
parte da transmissão dos vírus
respiratórios, por meio de espirros e tosse.
"Tanto é assim que a ocorrência dessas doenças aumenta
no inverno, quando as crianças
ficam em ambientes confinados, que favorecem a transmissão por via aérea", diz. "Mas o
agente transmissor também fica nas superfícies. Quando elas
são manuseadas e, depois,
quando a mão é levada ao rosto,
pode contaminar a pessoa."
O pediatra observa que outra
razão para as crianças serem as
principais responsáveis pela
contaminação está no fato de
elas levarem mais as mãos à boca e ao nariz, em um processo
de autoinoculação do vírus.
Segundo Baldacci, lavar as
mãos com sabonete comum,
incluindo todos os dedos e fazendo movimentos de fricção
entre eles, é o suficiente como
preventivo. Álcool em gel, vendido em farmácias, pode completar a higiene. "Ele prolonga
o tempo de mão limpa, mas não
substitui a água e o sabão."
Viroses mais comuns
Diferentemente do que se
imagina, o vírus influenza, causador da gripe comum, não é o
mais frequente entre os vírus
respiratórios, pois causa só de
10% a 15% das doenças virais
respiratórias, diz Baldacci.
"O grande vilão é o VSR (vírus sincicial respiratório), que
chega a ser responsável por
70% dessas doenças, dependendo da época." Ele provoca
uma inflamação na parede dos
brônquios com sintomas semelhantes aos de um resfriado.
Outro vírus comum é o adenovírus, que causa febre alta,
conjuntivite e dor de garganta.
"Há cerca de um mês, muita
gente aqui em São Paulo pegou
o adenovírus, que causa uma virose severa", diz Baldacci.
Texto Anterior: Correio Próximo Texto: Alimentação: Os sentidos na cozinha Índice
|