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De curso que ensina a estudar a aula de imersão, a overdose de serviços pode contribuir com o baixo desempenho no dia D
Qualidade de vida conta pontos no vestibular
Lalo de Almeida/Folha Imagem
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Gabriel Gonçalves Careli, 18, candidato de engenharia elétrica antes de de fazer a prova do último vestibular da Unesp |
MARGARETE MAGALHÃES E EDUARDO LANG
FREE-LANCE PARA A FOLHA
É possível faltar livro, apostila, dinheiro, namorado ou seja o que for na vida do vestibulando padrão, menos estresse. E ele só aumenta. Como se não bastasse a pressão dos pais, professores, amigos e familiares em geral, o mercado do vestibulando, com produtos e serviços voltados para esse consumidor, não pára de crescer. A questão é identificar quando essa variedade de ofertas é realmente útil ao estudante e quando ela
só serve para aumentar o seu estresse. Afinal a sobrecarga de atividades é capaz de dificultar o aprendizado!
A variedade de ofertas é requintada.
Frequentar cursinho junto com o último
ano do colégio é básico hoje. E ainda pode vir acompanhado de aulas de resumo
dos livros indicados para o vestibular ou
de curso que ensina a estudar, por exemplo, ministrados em salas de aula que podem ser reais ou virtuais (confira no quadro ao lado).
A opção por mais de um cursinho deve
estar em conformidade com o limite individual do aluno. Eduardo Kalil, 18, candidato de medicina, usou o bom senso ao
se deparar com a oferta do curso de resumo dos livros que caem no vestibular.
"Não ia ser produtivo para mim. Sou
muito racional e sei que não renderia. Estou tentando manter o gás", diz ele, que
se limita às aulas do cursinho.
Já Priscila Montebelo Begliomini, que
também quer fazer medicina, disse que
não dá tempo de ler as 30 obras exigidas
pelas três instituições para as quais vai
prestar. Então, resolveu encarar mais
dois cursos, os quais abordam, nas tardes
de sábado, os livros indicados pelos três
vestibulares.
O coordenador pedagógico do Anglo
Alfredo Stávale detona aulas extras de resumo de livros e, ainda por cima, ministradas no final de semana. "Tem que ser
honesto. Para quem levou o cursinho a
sério, é jogar dinheiro fora. O material
usado em aula é igualzinho. Fim-de-semana é para dar uma parada ", diz ele.
Tanta atividade para ingressar na universidade tem também um custo alto,
que vai além dos R$ 450, preço médio cobrado pelos cursinhos. Computando
apenas uma aula extra, junto com o colégio e o cursinho, o gasto mensal médio
pode ser de R$ 1.300, bancados, em geral,
pelos pais. Quem pode gasta com gosto,
acreditando sempre que, quanto mais estudo, melhor.
Juliana Azem, que tenta uma vaga para
arquitetura, faz extensivo no curso Stockler, o mais caro do país.Além da aula de
linguagem arquitetônica do próprio cursinho, faz uma aula extra do mesmo curso no Anglo. "Meus pais que insistiram",
conta Juliana.
Mas essa lógica do "quanto mais melhor" pode ter efeito inverso. "Não vale a
pena ficar o dia inteiro dentro do mesmo
lugar. É prejudicial", diz a psicóloga Ana
Rosa Meneghiti, que há dois anos se dedica ao estudo e tratamento de vestibulandos estressados. "Já tive paciente que
desmaiou na sala de aula com taquicardia por causa do estresse de ficar o dia inteiro no cursinho."
A psicóloga faz outro alerta importante: a sobrecarga de estudo, típica de quem
fica o dia inteiro no cursinho, pode afetar
a capacidade de concentração, de absorção e de memorização.
Igor Albuquerque, por exemplo, que
faz extensivo pela manhã e imersão em
física, química e matemática à tarde, diz
que "no começo do ano era mais fácil, tinha mais garra. Agora chego em casa às
19h30, estudo mais um pouco e às 22h já
estou capotando".
A tensão também pode prejudicar a
saúde física do jovem. Fica-se fora de casa
por quase dez horas diariamente, come-se bobagem ou não se come, e a ansiedade aguça a sensibilidade e a irritação. A
qualidade de vida, não só do vestibulando mas também dos pais, vai para o espaço (leia na pág. 12 algumas doenças comuns de candidato).
"É estressante tanto para a família
quanto para o vestibulando. A gente sofre junto", diz Aparecida Glady Machado, 53, mãe de uma vestibulanda de 20
anos. Leia na pág. 12 as sugestões de profissionais envolvidos com o vestibular sobre o comportamento recomendável para pais e estudantes.
"Hoje, entrar numa universidade é visto como
questão de vida ou morte para o adolescente"
Marco Aurélio Peluso, 33,
psiquiatra
"A situação é muito crítica. É desanimador pensar que posso ter de passar por tudo isso de novo"
Igor Albuquerque, 18,
candidato de medicina e aluno de dois cursinhos
"Cursinho não dá garantia de entrar, mas o aluno fica mais seguro"
Patrícia Mortara,
orientadora vocacional do colégio Santa Cruz
"Se você come muito pouco e depois resolve comer muito, dá indigestão" (sobre excesso de cursos)
Regina Gattas Nascimento, 53,
psicóloga e orientadora vocacional
"O rendimento não é o mesmo se não fizer uma
pausa depois de duas ou três horas. Há mais dificuldade de memorização e concentração."
Ana Rosa Menegiti,27,
psicóloga especialista em estresse
"Livros de auto-ajuda são uma besteira. O que
conta é uma formação adequada, desde a infância. É como uma casa em construção, se você pintar em cima da hora, a chuva leva a tinta embora.
Ninguém fica bom em vestibular de repente."
Antônio Carlos Lopes
professor de clínica médica da Unifesp
"Há vestibulando com projeto obsessivo. Não
consegue mudar. Se mudar, acha que não vai ser
feliz e vai frustar a família"
Wagner Ranña,
professor de pediatria e psicoterapeuta
"Meus pais me dizem: "Eu sei
que você vai passar. Você é
inteligente". Aí, se eu não
passar, eu não sou inteligente, né?"
Clarissa Martins, 18,
candidata de jornalismo e
relações públicas
"Os pais devem perceber que
os filhos não são xerox deles"
Cristina Prestes, 46,
psicóloga
"Estudo, mas estou mais desesperada pela pressão que
os professores fazem"
Gabrielle Ribeiro, 18,
vestibulanda
"Meus pais me dizem para ficar tranquila. Eu me cobro
mais que eles. Estou fazendo
o máximo para passar"
Isabela Corral, 17,
candidata de medicina
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