São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 2006
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verão

Combate aos radicais livres, proteção do DNA das células e prevenção de rugas e manchas estão entre novos atributos dos protetores solares; é preciso saber usá-los

A caminho do mar

FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL

PRISCILA PASTRE ROSSI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O mantra é velho, mas ainda pouco seguido: passar protetor solar diariamente é obrigatório. Com os termômetros subindo e o sol a pino, a proteção se torna indispensável à saúde.
Além do conhecido fator de proteção solar (FPS), os produtos que chegam ao mercado neste verão alardeiam atributos como combate aos radicais livres, filtros fotoestáveis, proteção da imunidade e do DNA das células e prevenção contra rugas e manchas.
Diante dessa ampla gama de opções, a pergunta inevitável é: será que isso tudo é necessário? Segundo os especialistas, optar pelo produto mais novo, caro ou com mais ativos em sua fórmula nem sempre é o ideal. É preciso levar em conta o tipo de pele e de exposição ao sol.
"Se a idéia for passar horas na praia ou na piscina, basta passar um protetor que tenha o FPS adequado", recomenda a dermatologista Mônica Maluf. Se o desejo for se proteger do sol do dia-a-dia, vale a pena investir em um produto com outros agentes. "Passando todos os dias, eles não somente protegerão dos raios UV como vão tratar e hidratar a pele", diz.

Na hora de escolher
Por lei, todos os atributos alardeados na embalagem dos protetores precisam ser comprovados pela empresa com estudos científicos. "A questão é saber até que ponto eles são eficientes", pondera a dermatologista Denise Steiner, presidente da comissão de ensino da Sociedade Brasileira de Dermatologia-Regional São Paulo. "Uma coisa é um protetor ter 300 funções que, na teoria, são boas. Outra é penetrar, interagir com o tecido. É complexo."
Entre tantos atributos, um deles é unanimidade entre os médicos: a proteção contra os raios ultravioleta A (ou UVA). Antes colocada em segundo plano, a necessidade de reduzir seus danos é cada vez mais defendida. "Apesar de o UVB ser mais agressivo, estudos vêm mostrando que o UVA pode degenerar a célula e causar câncer", diz o dermatologista Mauro Enokihara, coordenador regional da Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer de Pele e professor da Universidade Federal de São Paulo.
Além de ter ação coadjuvante na formação de tumores, a radiação UVA, que incide o tempo todo sobre a Terra, é responsável pelo fotoenvelhecimento, pela formação de manchas e pelas alergias de sol. Presentes em bem menor quantidade, os raios UVB se concentram nos horários entre as 10h e as 16h.
"Como os raios UVA não têm efeitos visíveis por não queimarem a pele, a pessoa não percebe que há algo fazendo mal ao corpo e acaba se expondo mais do que deveria", alerta a dermatologista Aurea Lopes.
O problema é que, diferentemente dos raios UVB, para os quais existe uma medida padrão (o FPS, calculado com base na vermelhidão da pele), não é fácil saber até que ponto vai a proteção contra os raios UVA. Nem todos os produtos trazem a informação na embalagem, e, quando trazem, as medidas variam. As duas mais comuns são o PPD ("persistent pigment darkening") e a porcentagem.
"Não existe um consenso sobre qual método é mais adequado. Mas os estudos recentes tendem a achar mais confiável e reprodutível o PPD", afirma a dermatologista Flávia Addor, diretora técnica do Medcin, instituto que faz pesquisas clínicas para indústrias de cosméticos. Segundo a médica, o ideal é que o PPD corresponda a pelo menos um terço do FPS do produto. Se o protetor tiver FPS 30, por exemplo, o ideal é que tenha, no mínimo, um PPD 10.
Outra característica destacada pelos dermatologistas é a fotoestabilidade -a capacidade de os filtros se manterem estáveis e ativos com a luz solar-, que começa a ser informada nos rótulos dos protetores.
A ação antioxidante é outro ponto destacado pelos médicos. Isso porque o sol leva à formação de radicais livres, que provocam a morte celular. Os protetores ajudam a neutralizar essas moléculas.
Como novidade do verão, alguns protetores destacam a proteção do DNA da célula. A dermatologista Luna Azulay, professora da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), esclarece que existe, de fato, a necessidade de proteger o código genético, mas ressalta que não há novidade nisso. "De manchas a câncer de pele, tudo pode acontecer se as células tiverem sido lesadas por exposição excessiva ao sol. O protetor solar ajuda a prevenir esses males. Proteger o DNA sempre foi papel do fotoprotetor", diz.
Ela também afirma que o anúncio da capacidade anti-rugas chega a ser redundante em protetores solares. "Essa é uma conseqüência do combate eficaz ao fotoenvelhecimento, que sempre foi a proposta desse produto." Claro que há protetores enriquecidos com vitaminas, hidratantes e outras substâncias importantes para a saúde da pele. Mas a fotoproteção por si já é carro-chefe do combate ao envelhecimento.
Outra característica que começa a ser alardeada é a ação sobre o sistema imunológico. "Estudos laboratoriais mostram que alguns ingredientes têm ação imunoprotetora", diz Flávia Addor. O objetivo é atuar sobre uma das conseqüências do sol no organismo: a redução da imunidade, que facilita, por exemplo, o aparecimento de herpes e micoses.

Escolhendo o FPS
Não adianta optar pelo creme ou gel mais rico em hidratantes e em vitaminas e esquecer a característica mais importante de um protetor solar: o FPS, ligado aos raios UVB. Um FPS 30, por exemplo, mostra que a pessoa está 30 vezes mais protegida contra esses raios do que se não usasse nada.
O fator mínimo de proteção contra UVB recomendado pelos médicos é 15. Pessoas ruivas e loiras precisam usar, no mínimo, o 30. A partir do ano que vem, será comum encontrar, em protetores com fator acima de 50, a indicação 50+. "Um fator 60 não oferece proteção muito maior que a 50. O aumento não é proporcional", esclarece Luna Azulay.
E não adianta ter um protetor poderoso e passar pouquinho na pele, para economizar. Nesse caso, um fator 30 pode ter efeito de 15. Também é importante não esquecer uma região sensível e que tem tendência a apresentar câncer de pele com mais facilidade: os lábios -é recomendável usar protetores específicos (em bastão).
Indicados sobretudo para cabelos finos, claros ou tratados quimicamente, os protetores capilares funcionam de forma diferente daqueles para a pele: protegem os fios contra o ressecamento, a lesão da cutícula e outros danos gerados pelo sol.
Quanto aos bronzeadores, em geral não são recomendados pelos médicos. Além de oferecerem FPS quase sempre abaixo de 15, eles incentivam um processo agressivo: o escurecimento da pele. Ao contrário de ser um sinal de saúde, o bronzeamento é uma reação de defesa do organismo à exposição excessiva ao sol.
Já os autobronzeadores são considerados seguros porque agem por um outro processo: deixam a pele pigmentada sem necessidade de luz solar.

Cápsulas e roupas
Um protetor solar oral aguarda a liberação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para entrar no mercado brasileiro. A proposta do Heliocare Cápsulas é proteger a pele contra os raios UVA. "O produto não evita que o sol entre, mas que cause danos à pele", diz João Grillo, gerente regional de vendas da Melora, representante da marca no Brasil.
Os dermatologistas ressaltam: o papel máximo que qualquer produto via oral pode ter no processo de proteção solar é de coadjuvante. "Não há substituto para a boa e velha proteção solar aplicada diretamente na pele", diz Mônica Maluf.
Uma novidade já disponível no país são as roupas com proteção solar. Nesse caso, o tecido é feito com fios especiais que bloqueiam a ação dos raios UV. Duas fabricantes nacionais, a UVline (www.uvline.com.br) e a Sun Cover (www.suncover.com.br), testam a proteção dos produtos com base em um método australiano e garantem que o tecido absorve 98% ou mais dos raios UV.


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