Índice geral Especial
Especial
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Novos latinos

Exibição traz recorte da novíssima estética do México à Argentina

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Um homem está amarrado a um bode e tenta adaptar seus movimentos aos do bicho, que resiste e se debate. Noutro vídeo, esse homem briga com as garras de um caranguejo na lama do mangue.

Da obra visceral do brasileiro Rodrigo Braga ao minimalismo sintético do argentino Pablo Accinelli -que, entre outras tarefas quase invisíveis, preenche com concreto o pequeno vácuo entre folhas de um caderno-, esta edição da Bienal de São Paulo traça um panorama da novíssima produção latina.

Quase metade dos artistas desta edição da mostra são latino-americanos, sendo que boa parte deles ainda não passou dos 40 anos de idade.

Mas, se a juventude é um dado em comum, suas vertentes são várias. Na Argentina, Accinelli cria uma obra mínima, pautada por esquadros, transformadores e níveis, uma tentativa obsessiva de medir o espaço, herança direta dos construtivistas.

Outro argentino, Martín Legón, assume contrastes mais densos numa obra visual de pegada expressionista.

Suas pinturas parecem carregadas de melancolia e tensão, enquanto os desenhos, feitos por anônimos num teste de emprego e depois expostos como obra de arte, rebaixam a noção de estética a um plano em que artista e não artista se encontram em pé de igualdade.

Esse deslocamento da autoria é um traço presente também na obra do mexicano Iñaki Bonillas, que, numa instalação imensa, refotografa imagens de um álbum de família que herdou do avô.

Seu único critério era que fossem todas imagens verticais, num painel vertiginoso e obsessivo da memória.

Sofia Borges, outra fotógrafa, mergulha igualmente na memória pessoal e anônima para compor suas imagens, que embaralham décadas e tempos distintos. Sua obra está entre realidade e ficção, como o retrato de sua irmã que ressurge fantasmagórico, manchado pelo tempo.

Esse limite tênue entre real e fictício, em verdadeiros exercícios de memória, também informa o trabalho do venezuelano Eduardo Gil, que resgata páginas de jornal noticiando o fim de uma guerra para criar um painel de notas sobre a paz, deslocando o contexto bélico original.

Dessa região conhecida como Terceiro Mundo, alçada ao rol das potências emergentes da vez, surge uma realidade alternativa, uma estética tão díspar quanto potente -obras que questionam a vida em transformação.

Pablo Accinelli

(1983) - Trabalhando com desenho, escultura e instalação e influenciado por sistemas geométricos, o argentino explora as dicotomias entre a ordem e o caos, o externo e o interno, o presente e o passado, o literal e o metafórico

Nicolás Paris

(1977) - Com composições simples -tanto em trabalhos em papel quanto em objetos acionados pelo público-, o colombiano propõe exercícios inusitados de experimentação

Rodrigo Braga

(1976) - O amazonense debate a relação entre natureza e cultura e propõe um embate com a racionalidade, em uma produção ao mesmo tempo exuberante e atordoante

Martín Legón

(1978) - O argentino, em obras com tons de nostalgia e cinismo, faz uma arte de resistência contra a objetividade

Icaro Zorbar

(1977) - O colombiano cria máquinas híbridas a partir de monitores, projetores, ventiladores e outros objetos antigos, dando a eles vários novos significados

Cadu

(1977) - Paulista radicado no Rio, cria as obras através de métodos rigorosos e regras de atuação, com resultados que dependem do funcionamento dos sistemas

Leandro Tartaglia

(1977) - Em performances e peças, o argentino interage com a cidade, debatendo o papel do espaço público e indo contra a "amnésia histórica coletiva"

Eduardo Gil

(1973) - Através das linguagens escrita e falada, inseridas em instalações, o venezuelano relaciona arte e história de modo quase arquivístico, refletindo sobre a memória comunitária

Mobile Radio

Projeto da dupla Sarah Washington (Reino Unido) e Knut Aufermann (Alemanha) que mistura arte e rádio de forma experimental

Paulo Vivacqua

(1971) - O capixaba cruza as linguagens sonora e visual em suas instalações, que sugerem percursos e narrativas imaginárias

Meris Angioletti

(1977) - Com instalações de luz e som, projeções de vídeos e fotografias, a italiana investiga os mecanismos da percepção, da memória e do inconsciente

Maryanne Amacher

(1938-2009) - Compositora, discípula de John Cage, a americana ficou conhecida por aproximar arte, ciência e visão arquitetônica

Helen Mirra

(1970) - Em instalações, esculturas, gravuras, filmes ou pinturas, a americana chama a atenção para a maneira como nos relacionamos com a natureza, com a passagem do tempo e com o nosso entorno

David Moreno

(1957) - Por meio de experimentações eletroacústicas, instalações, desenhos ou fotografias, o americano trata de questões sobre a mortalidade do corpo, a condição animal e os impulsos de vida e morte

Bernardo Ortiz

(1972) - Em colagens ou desenhos de traços e formas simples, o colombiano ressalta os efeitos minúsculos das coisas e dos acontecimentos no mundo

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.