São Paulo, domingo, 03 de abril de 2005

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JOÃO PAULO 2º

A MORTE DO PAPA

Papa mudou a Igreja Católica, diz d. Geraldo

Presidente da CNBB destacou a "expansão" no modo de governar de João Paulo 2º; Assembléia dos Bispos, que começaria na quarta, foi adiada por tempo indefinido

Jefferson Coppola/Folha Imagem
Católicos participam de missa durante vigília e oram pela saúde do papa João Paulo 2º na catedral da Sé, durante tarde de ontém


DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL


Emocionado pela morte de João Paulo 2º, o presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Geraldo Majella Agnelo, 71, disse ontem que a Igreja Católica mudou com o papa que morreu ontem à tarde. Também comovido, o cardeal dom Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, disse ter perdido não só um "exemplo de santidade", mas também um "irmão".
"Houve uma expansão muito grande do modo de governar a igreja com João Paulo 2º. O papa visitou muitos países, deu depoimentos importantes, apontou falhas da igreja, pediu perdão por erros cometidos, combateu as guerras, ficou sempre do lado dos mais humildes e necessitados", afirmou d. Geraldo, que tem direito a voto no conclave -reunião dos cardeais que vai escolher o sucessor de João Paulo 2º.
"Em seus mais de 26 anos de pontificado, João Paulo 2º mostrou que o contato cara a cara com os fiéis é sempre mais importante do que governar dentro de um gabinete", disse o cardeal, antes de celebrar ontem à noite, na catedral Basílica, em Salvador, uma missa pela alma do pontífice.
Logo após tomar conhecimento da morte do papa, d. Geraldo Majella anunciou o adiamento da 43ª Assembléia dos Bispos que deveria começar na próxima quarta-feira, em Itaici (SP). Ainda não há nova data para o evento.
O presidente da CNBB, que segue para o Vaticano amanhã, disse que não está preocupado com a sucessão de João Paulo 2º. "Isso [a sucessão] é o que menos importa neste momento. É hora de a gente rezar pela alma de um papa que fez do seu sofrimento um exemplo para todos nós."

Consternação
Dizendo que "toda a Igreja se sentia consternada pela perda deste papa", d. Cláudio Hummes lamentou não só a perda de "um exemplo de santidade, um homem que nunca aceitou a exclusão social e que apoiou a reforma agrária e os trabalhadores", mas também a perda de um "irmão".
"Eu sinto como quem perdeu um pai, um amigo, um irmão, um orientador muito sábio", disse o arcebispo de São Paulo, assim que foi confirmada a morte de João Paulo 2º. D. Cláudio celebrava uma missa dedicada ao papa, na catedral da Sé, quando foram fechadas as janelas do Vaticano. Mas só se manifestou 40 minutos depois: "Todos nós estamos chorando a morte do papa".
O cardeal, que também vota no conclave, deverá viajar amanhã para Roma. Hoje, às 15h, celebra uma missa pela alma do papa.
Segundo ele, até na agonia João Paulo 2º "foi um homem que doou a vida à Igreja, ao mundo e à construção da paz". "Por esse lado, sentimos a perda. Por outro, louvamos a Deus também porque ele cumpriu sua missão."

Diplomata
O cardeal dom Eusébio Scheid, arcebispo do Rio de Janeiro, disse que não se deve receber com tristeza a morte do papa. "Devemos estar até alegres por termos tido João Paulo 2º por tanto tempo como nosso guia espiritual. E a morte não é o fim, é uma passagem para a verdadeira vida", afirmou.
D. Eusébio rejeitou o rótulo de "conservador" para João Paulo 2º. "Nenhum papa é liberal ou conservador. Ele só pode ser a favor da verdade. Não aceito essa nomenclatura jornalística", disse.
O cardeal ressaltou o "grande diplomata" que foi João Paulo 2º, citando suas opiniões sobre a Guerra do Iraque e o conflito entre israelenses e palestinos.
D. Eusébio contou ter perguntado uma vez ao papa como ele tinha participado do fim do comunismo no Leste Europeu, simbolizado pela queda do Muro de Berlim. Segundo o arcebispo do Rio, o papa respondeu: "Eu só dei um empurrãozinho".
D. Eusébio determinou a suspensão das festividades nas igrejas do Rio até o sepultamento de João Paulo 2º, e que os sinos sejam dobrados três vezes por dia.
Ainda se recuperando de um infarto sofrido no começo de março, o cardeal dom Paulo Evaristo Arns, 83, arcebispo emérito de São Paulo, destacou ontem o trabalho do pontífice em torno de "todas as religiões, do islamismo ao judaísmo". "Desapareceu hoje [ontem] o maior homem de todo o século 20 e do início do século 21, o homem que trabalhou pela paz e para reunir todas as religiões", disse d. Paulo. "Foi o papa mais missionário da história, que mais percorreu o mundo."
D. Paulo disse se lembrar do "forte abraço" que João Paulo 2º lhe dava quando os dois se encontravam, além das perguntas do papa sobre "a juventude, os operários e os pobres do Brasil".
D. Paulo Evaristo irá celebrar hoje, às 8h, uma missa em homenagem a João Paulo 2º na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, no Jaçanã.


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