|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Casos de pedofilia abalam reputação da igreja
ESPECIAL PARA A FOLHA
Uma onda de escândalos
sexuais envolvendo padres
sobretudo norte-americanos, mas também europeus
e brasileiros, abalou a reputação da Igreja Católica e a
obrigou, constrangida, a
condenar publicamente a
pedofilia em 2002 e descrevê-la como "terrível pecado
aos olhos de Deus".
Em 2003, a arquidiocese de
Boston concordou em pagar
US$ 85 milhões a cerca de
560 pessoas que dizem ter sido abusadas sexualmente
por padres. O caso provocou
a renúncia, em dezembro de
2002, do arcebispo Bernard
Law. Pelo menos 325 padres
dos mais de 40 mil existentes
nos EUA deixaram suas funções nos últimos anos devido a acusações de abuso sexual.
O escândalo atingiu países
como Canadá, Alemanha,
França, México, Polônia e
Brasil e foi um dos maiores
problemas enfrentados pelo
papa João Paulo 2º no final
de seu pontificado.
Apesar de divulgados por
um dos principais jornais
católicos norte-americanos,
o "National Catholic Reporter", os primeiros casos registrados nos EUA (no início
da década de 80) foram praticamente ignorados pelo
Vaticano. A princípio, os escândalos foram encarados
como um tema administrativo com o qual deveriam lidar em um nível local -os
bispos deveriam resolver os
problemas em suas dioceses.
Em geral, a reação do bispo resumia-se a transferir o
padre para outra paróquia.
Em 1985, quando veio à tona
a revelação de que a igreja
estava pagando milhões de
dólares a famílias cujos filhos haviam sido molestados por padres, o silêncio se
manteve, garantido por
cláusulas de sigilo.
João Paulo 2º resolveu intervir no caso depois que
uma delegação de bispos dos
EUA acenou com um pedido de socorro ao Vaticano e
que a polícia montou equipes especiais de investigação.
As reações variaram. Diversos bispos norte-americanos defenderam a adoção
de uma política de tolerância
zero contra os infratores,
mas não chegou a haver um
consenso em torno das punições.
Descrevendo a pedofilia
como uma "ofensa abominável", o Vaticano disse que
a igreja devia reconquistar o
respeito dos católicos, cuja
confiança ficou abalada pela
onda de escândalos sexuais.
Celibato clerical
Os casos de abuso reabriram a discussão, entre leigos
e teólogos, em torno da obrigatoriedade do celibato clerical, uma das questões mais
controversas no catolicismo.
O papa, porém, declarou
que o celibato devia ser "um
presente completo ao Senhor e à igreja" e que sua importância precisava ser
"atentamente garantida".
"A questão prioritária nos
casos de pedofilia não se refere ao celibato clerical", disse à Folha, por telefone,
Frances Kissling, líder do
grupo Catholics for a Free
Choice (Católicos pelo Direito de Decidir, em tradução livre). Mas, "se os padres
pudessem casar e ter filhos,
talvez protestassem de forma mais clara contra pedófilos. O celibato contribui para
a imaturidade sexual".
O celibato se tornou obrigatório na Idade Média. Os
que se opõem à imposição
alegam que o apóstolo Pedro, considerado o primeiro
papa, era casado (Jesus Cristo curou a sogra dele) e que
havia outros apóstolos casados, de acordo com a Bíblia.
Para alguns teólogos, no
entanto, Cristo convida à
castidade perpétua os que
querem se consagrar exclusivamente a Deus -"...E há
eunucos que se fizeram eunucos por causa do Reino
dos Céus..." (Mateus, capítulo 19, versículo 12).
(PDF)
Texto Anterior: João Paulo 2º - Linha doutrinária: Conservadorismo marcou o papado Próximo Texto: João Paulo 2º - Intervenções nos trópicos: Relação com Brasil revela contradições Índice
|