São Paulo, domingo, 03 de abril de 2005

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Casos de pedofilia abalam reputação da igreja

ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma onda de escândalos sexuais envolvendo padres sobretudo norte-americanos, mas também europeus e brasileiros, abalou a reputação da Igreja Católica e a obrigou, constrangida, a condenar publicamente a pedofilia em 2002 e descrevê-la como "terrível pecado aos olhos de Deus".
Em 2003, a arquidiocese de Boston concordou em pagar US$ 85 milhões a cerca de 560 pessoas que dizem ter sido abusadas sexualmente por padres. O caso provocou a renúncia, em dezembro de 2002, do arcebispo Bernard Law. Pelo menos 325 padres dos mais de 40 mil existentes nos EUA deixaram suas funções nos últimos anos devido a acusações de abuso sexual.
O escândalo atingiu países como Canadá, Alemanha, França, México, Polônia e Brasil e foi um dos maiores problemas enfrentados pelo papa João Paulo 2º no final de seu pontificado.
Apesar de divulgados por um dos principais jornais católicos norte-americanos, o "National Catholic Reporter", os primeiros casos registrados nos EUA (no início da década de 80) foram praticamente ignorados pelo Vaticano. A princípio, os escândalos foram encarados como um tema administrativo com o qual deveriam lidar em um nível local -os bispos deveriam resolver os problemas em suas dioceses.
Em geral, a reação do bispo resumia-se a transferir o padre para outra paróquia. Em 1985, quando veio à tona a revelação de que a igreja estava pagando milhões de dólares a famílias cujos filhos haviam sido molestados por padres, o silêncio se manteve, garantido por cláusulas de sigilo.
João Paulo 2º resolveu intervir no caso depois que uma delegação de bispos dos EUA acenou com um pedido de socorro ao Vaticano e que a polícia montou equipes especiais de investigação.
As reações variaram. Diversos bispos norte-americanos defenderam a adoção de uma política de tolerância zero contra os infratores, mas não chegou a haver um consenso em torno das punições.
Descrevendo a pedofilia como uma "ofensa abominável", o Vaticano disse que a igreja devia reconquistar o respeito dos católicos, cuja confiança ficou abalada pela onda de escândalos sexuais.

Celibato clerical
Os casos de abuso reabriram a discussão, entre leigos e teólogos, em torno da obrigatoriedade do celibato clerical, uma das questões mais controversas no catolicismo.
O papa, porém, declarou que o celibato devia ser "um presente completo ao Senhor e à igreja" e que sua importância precisava ser "atentamente garantida".
"A questão prioritária nos casos de pedofilia não se refere ao celibato clerical", disse à Folha, por telefone, Frances Kissling, líder do grupo Catholics for a Free Choice (Católicos pelo Direito de Decidir, em tradução livre). Mas, "se os padres pudessem casar e ter filhos, talvez protestassem de forma mais clara contra pedófilos. O celibato contribui para a imaturidade sexual".
O celibato se tornou obrigatório na Idade Média. Os que se opõem à imposição alegam que o apóstolo Pedro, considerado o primeiro papa, era casado (Jesus Cristo curou a sogra dele) e que havia outros apóstolos casados, de acordo com a Bíblia.
Para alguns teólogos, no entanto, Cristo convida à castidade perpétua os que querem se consagrar exclusivamente a Deus -"...E há eunucos que se fizeram eunucos por causa do Reino dos Céus..." (Mateus, capítulo 19, versículo 12). (PDF)


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