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Mais votado no Rio, Gabeira afirma que é "constrangedor" ter Maluf na Câmara
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Protagonista da CPI dos Sanguessugas e do movimento que
levou Severino Cavalcanti a renunciar à presidência da Câmara, Fernando Gabeira (PV) vai
para o seu quarto mandato como o deputado federal mais votado do Rio: 293.057 votos.
No entanto, terá a atuação limitada pela cláusula de barreira, que o PV não conseguiu
cumprir. Ele minimiza, comparando o partido a Plutão, que
deixou de ser planeta, "mas
continua lá".
FOLHA - A que o senhor atribui sua
votação?
FERNANDO GABEIRA - Inicialmente, à generosidade do povo do
Rio. Mas, também, ao desejo de
mandar um recado claro sobre
a necessidade de combater a
corrupção e de uma reforma
política. Há a sensação de que
as estruturas políticas estão
apodrecidas. Se você observar a
minha performance e a do Gustavo Fruet [que integrou a CPI
dos Correios e mais votado no
Paraná pelo PSDB], verá que a
mensagem é convergente.
FOLHA - Por que ser deputado nessas estruturas?
GABEIRA - Para reformá-las. Eu
trabalho com política internacional, direitos humanos e
meio ambiente. Mas, há dois
anos, percebi que, se não mudasse a minha linha, não ia poder desenvolver meu trabalho,
a casa ia cair na nossa cabeça. O
Congresso estava se aproximando de um ponto de ruptura
com a sociedade. Só iriam sobreviver aqueles que compram
votos. Aí fui para a guerra.
FOLHA - Como fica o PV agora?
GABEIRA - Fica como Plutão.
Foi rebaixado, mas continua aí.
No meu primeiro mandato, eu
era o único deputado do PV. O
Luís Eduardo Magalhães [ex-presidente da Câmara] me dava
a palavra e falava: "O senhor
pode orientar a sua bancada".
Eu dizia: "Sou uma pessoa muito dividida". Uma das punições
é não poder ser presidente de
comissão. Mas eu nunca fui. Na
CPI, sou suplente do suplente.
O que define não é o cargo, mas
a capacidade.
FOLHA - A não-eleição da maioria
dos sanguessugas é uma vitória?
GABEIRA - Isso é bom, é positivo,
e simplifica o trabalho da comissão. Ela tenderá a se preocupar menos com punir aquele
deputado que não tem mais
mandato e deixar que a própria
Justiça se encarregue disso. No
entanto, há outros problemas,
como um chamado Maluf, que
tem um processo na Justiça. É
constrangedor, porque você está expulsando deputados que
receberam R$ 15 mil, R$ 20 mil,
e entra como mais votado pela
outra porta um acusado de desviar US$ 260 milhões.
FOLHA - E como vê a não-eleição de
Severino Cavalcanti?
GABEIRA - É a simplificação de
um problema, já que o Severino
está sendo processado no Supremo.
FOLHA - O sr. não pensa em se candidatar a prefeito ou governador?
GABEIRA - Eu tenho uma dificuldade por causa dos meus temas, que são sempre utilizados
de uma forma negativa. Veja o
caso do Sérgio Cabral [candidato a governador pelo PMDB]:
fizeram um panfleto dizendo
que ele que apóia o casamento
gay. Não cogito a hipótese.
FOLHA - O sr. vai apoiar Alckmin?
GABEIRA - Há uma conversação
em curso no PV no sentido de
apoiar o Alckmin. Não vou propor o voto nulo, e possivelmente vou votar nele. Mas não me
interessa entrar na campanha
de ninguém. Eles estão sendo
eleitos para governar, eu para
fiscalizar. Eu me considero
uma pessoa independente
apoiando projetos que acho
corretos e criticando os que não
acho corretos.
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