São Paulo, terça-feira, 03 de outubro de 2006

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Mais votado no Rio, Gabeira afirma que é "constrangedor" ter Maluf na Câmara

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Protagonista da CPI dos Sanguessugas e do movimento que levou Severino Cavalcanti a renunciar à presidência da Câmara, Fernando Gabeira (PV) vai para o seu quarto mandato como o deputado federal mais votado do Rio: 293.057 votos. No entanto, terá a atuação limitada pela cláusula de barreira, que o PV não conseguiu cumprir. Ele minimiza, comparando o partido a Plutão, que deixou de ser planeta, "mas continua lá".  

FOLHA - A que o senhor atribui sua votação?
FERNANDO GABEIRA
- Inicialmente, à generosidade do povo do Rio. Mas, também, ao desejo de mandar um recado claro sobre a necessidade de combater a corrupção e de uma reforma política. Há a sensação de que as estruturas políticas estão apodrecidas. Se você observar a minha performance e a do Gustavo Fruet [que integrou a CPI dos Correios e mais votado no Paraná pelo PSDB], verá que a mensagem é convergente.

FOLHA - Por que ser deputado nessas estruturas?
GABEIRA
- Para reformá-las. Eu trabalho com política internacional, direitos humanos e meio ambiente. Mas, há dois anos, percebi que, se não mudasse a minha linha, não ia poder desenvolver meu trabalho, a casa ia cair na nossa cabeça. O Congresso estava se aproximando de um ponto de ruptura com a sociedade. Só iriam sobreviver aqueles que compram votos. Aí fui para a guerra.

FOLHA - Como fica o PV agora?
GABEIRA
- Fica como Plutão. Foi rebaixado, mas continua aí. No meu primeiro mandato, eu era o único deputado do PV. O Luís Eduardo Magalhães [ex-presidente da Câmara] me dava a palavra e falava: "O senhor pode orientar a sua bancada". Eu dizia: "Sou uma pessoa muito dividida". Uma das punições é não poder ser presidente de comissão. Mas eu nunca fui. Na CPI, sou suplente do suplente. O que define não é o cargo, mas a capacidade.

FOLHA - A não-eleição da maioria dos sanguessugas é uma vitória?
GABEIRA
- Isso é bom, é positivo, e simplifica o trabalho da comissão. Ela tenderá a se preocupar menos com punir aquele deputado que não tem mais mandato e deixar que a própria Justiça se encarregue disso. No entanto, há outros problemas, como um chamado Maluf, que tem um processo na Justiça. É constrangedor, porque você está expulsando deputados que receberam R$ 15 mil, R$ 20 mil, e entra como mais votado pela outra porta um acusado de desviar US$ 260 milhões.

FOLHA - E como vê a não-eleição de Severino Cavalcanti?
GABEIRA
- É a simplificação de um problema, já que o Severino está sendo processado no Supremo.

FOLHA - O sr. não pensa em se candidatar a prefeito ou governador?
GABEIRA
- Eu tenho uma dificuldade por causa dos meus temas, que são sempre utilizados de uma forma negativa. Veja o caso do Sérgio Cabral [candidato a governador pelo PMDB]: fizeram um panfleto dizendo que ele que apóia o casamento gay. Não cogito a hipótese.

FOLHA - O sr. vai apoiar Alckmin?
GABEIRA
- Há uma conversação em curso no PV no sentido de apoiar o Alckmin. Não vou propor o voto nulo, e possivelmente vou votar nele. Mas não me interessa entrar na campanha de ninguém. Eles estão sendo eleitos para governar, eu para fiscalizar. Eu me considero uma pessoa independente apoiando projetos que acho corretos e criticando os que não acho corretos.


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