São Paulo, Quinta-feira, 04 de Fevereiro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ECONOMIA
Cresce peso relativo de educação, saúde e habitação; liberação cambial muda perspectivas
Para onde vai nosso dinheiro?

VINICIUS MOTA
da Equipe de Trainees

As recentes mudanças na economia, que levaram o dólar a valer mais reais e os juros a ficarem mais altos, vão afetar de forma diferente cada tipo de gasto das famílias.
Nos últimos dois anos, os paulistanos despenderam uma parcela cada vez maior de seus ganhos com serviços de bem-estar social -habitação, educação e saúde- e menos com itens como roupas, transporte e eletrodomésticos.
A pesquisa ICV do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), que avalia a variação do custo de vida no município de São Paulo, mostra que a despesa com educação, por exemplo, consumia 8,25% do orçamento familiar da classe média em julho de 1996 .
Em dezembro de 1998, os mesmos gastos (que em grande parte vão para mensalidades) eram responsáveis por 9,31% do dispêndio total -um aumento de 12,80%.
Na prática, uma família cuja renda mensal seja de R$ 2.000,00 desembolsava em meados de 96, em média, R$ 165,00 com educação. No final de 98, o gasto com o item era de R$ 186,20.

Participação em queda
Do outro lado, com o real valorizado, produtos como televisores, tecidos e automóveis passaram a ser importados a um preço mais competitivo, retirando fatia menor do orçamento doméstico.
Somente o item vestuário, que inclui roupas, calçados e acessórios, perdeu 25,86% de sua participação anterior. Em julho de 96, ele era responsável por 7,43% das despesas; em dezembro de 98, havia caído para 5,51%.
Para a coordenadora do ICV/ Dieese, Cornélia Porto, pode haver alterações no peso dos itens de custo de vida se ocorrer repasse do aumento do petróleo importado, já que vários produtos dependem de transporte, que teria seu custo aumentado.
Segundo ela, com o país em recessão, um dos únicos setores que podem manter aumento de preços é o dos medicamentos. Isso acontece porque o setor é dominado por oligopólios e porque, em geral, os remédios são produtos indispensáveis, que não podem deixar de ser consumidos, afirma Porto.

Crise e liberação do câmbio
A mudança da política cambial abre um cenário que, segundo economistas de diferentes tendências ouvidos pela Folha, não é otimista. Recessão, excessivo estoque industrial e desemprego em alta somam-se agora ao risco da inflação.
Eles apontam também a política de juros altos como empecilho à captação de recursos no mercado financeiro para fomentar a produção (leia texto nesta página).
Para Antônio Corrêa de Lacerda, presidente do Cofecon (Conselho Federal de Economia), o Brasil viverá em 99 um momento de muita dificuldade, principalmente no primeiro semestre.
O professor de economia da USP José Pastore concorda: embora deva haver um reaquecimento de setores exportadores e dos que competiam com produtos importados, a situação recessiva tenderá a se agravar no primeiro semestre.
Os pequenos e médios produtores do interior paulista têm chance de voltar a crescer com o dólar valorizado. É que nessa região se desenvolvem atividades agroindustriais voltadas ao mercado externo. Para o consultor e ex-ministro da Fazenda Ernane Galvêas, este é o melhor momento em quatro anos para exportar.
Segundo Galvêas, embora enfrentem problemas com financiamento e com a burocracia (veja quadros nesta página), as pequenas e médias empresas exportadoras devem criar cerca de 1 milhão de empregos em dois ou três anos.
Ele lembra que, na Itália, esse setor é responsável por metade das exportações do país.


Texto Anterior: Caderno é produto de 2 meses de treinamento
Próximo Texto: Desvalorização da moeda pode recuperar interior de São Paulo
Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.