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ECONOMIA
Cresce peso relativo de educação, saúde e habitação; liberação cambial muda perspectivas
Para onde vai nosso dinheiro?
VINICIUS MOTA
da Equipe de Trainees
As recentes mudanças na economia, que levaram o dólar a valer
mais reais e os juros a ficarem mais
altos, vão afetar de forma diferente
cada tipo de gasto das famílias.
Nos últimos dois anos, os paulistanos despenderam uma parcela
cada vez maior de seus ganhos
com serviços de bem-estar social
-habitação, educação e saúde- e
menos com itens como roupas,
transporte e eletrodomésticos.
A pesquisa ICV do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), que avalia a variação do custo
de vida no município de São Paulo,
mostra que a despesa com educação, por exemplo, consumia 8,25%
do orçamento familiar da classe
média em julho de 1996 .
Em dezembro de 1998, os mesmos gastos (que em grande parte
vão para mensalidades) eram responsáveis por 9,31% do dispêndio
total -um aumento de 12,80%.
Na prática, uma família cuja renda mensal seja de R$ 2.000,00 desembolsava em meados de 96, em
média, R$ 165,00 com educação.
No final de 98, o gasto com o item
era de R$ 186,20.
Participação em queda
Do outro lado, com o real valorizado, produtos como televisores,
tecidos e automóveis passaram a
ser importados a um preço mais
competitivo, retirando fatia menor
do orçamento doméstico.
Somente o item vestuário, que
inclui roupas, calçados e acessórios, perdeu 25,86% de sua participação anterior. Em julho de 96, ele
era responsável por 7,43% das despesas; em dezembro de 98, havia
caído para 5,51%.
Para a coordenadora do ICV/
Dieese, Cornélia Porto, pode haver
alterações no peso dos itens de
custo de vida se ocorrer repasse do
aumento do petróleo importado,
já que vários produtos dependem
de transporte, que teria seu custo
aumentado.
Segundo ela, com o país em recessão, um dos únicos setores que
podem manter aumento de preços
é o dos medicamentos. Isso acontece porque o setor é dominado
por oligopólios e porque, em geral,
os remédios são produtos indispensáveis, que não podem deixar
de ser consumidos, afirma Porto.
Crise e liberação do câmbio
A mudança da política cambial
abre um cenário que, segundo economistas de diferentes tendências
ouvidos pela Folha, não é otimista.
Recessão, excessivo estoque industrial e desemprego em alta somam-se agora ao risco da inflação.
Eles apontam também a política
de juros altos como empecilho à
captação de recursos no mercado
financeiro para fomentar a produção (leia texto nesta página).
Para Antônio Corrêa de Lacerda,
presidente do Cofecon (Conselho
Federal de Economia), o Brasil viverá em 99 um momento de muita
dificuldade, principalmente no
primeiro semestre.
O professor de economia da USP
José Pastore concorda: embora deva haver um reaquecimento de setores exportadores e dos que competiam com produtos importados,
a situação recessiva tenderá a se
agravar no primeiro semestre.
Os pequenos e médios produtores do interior paulista têm chance
de voltar a crescer com o dólar valorizado. É que nessa região se desenvolvem atividades agroindustriais voltadas ao mercado externo. Para o consultor e ex-ministro
da Fazenda Ernane Galvêas, este é
o melhor momento em quatro
anos para exportar.
Segundo Galvêas, embora enfrentem problemas com financiamento e com a burocracia (veja
quadros nesta página), as pequenas e médias empresas exportadoras devem criar cerca de 1 milhão
de empregos em dois ou três anos.
Ele lembra que, na Itália, esse setor é responsável por metade das
exportações do país.
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