|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Em tempos de crise, é preciso limitar hábitos adquiridos
na era da estabilidade -coma em casa, não consuma
importados, adie compras: abaixo o supérfluo
Aperte o cinto para chegar ao fim do mês
FRANCESCA ANGIOLILLO
da Equipe de Trainees
O hábito paulistano de comer fora consome mais de um quarto
(28,4%) dos gastos com alimentação de uma família de classe média
da cidade de São Paulo.
Segundo o ICV (Índice de Custo
de Vida) do Dieese (Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) de dezembro de 1998, o que se gasta em alimentação representa 22,9% de todo o orçamento, atrás apenas dos
custos com habitação, que somam
24,7% dos gastos totais de uma casa de classe média na cidade.
O que mais pesa no bolso não são
locação, condomínio e imposto,
como se poderia pensar, mas os
custos operacionais: limpeza, serviços públicos e domésticos, que
consomem 48,2% do total do item.
Cortando gastos
Em vez de ir ao restaurante, fazer
a macarronada de domingo em casa, trocando as marcas habituais
por outras mais baratas, é uma opção para economizar.
Produtos comercializados com a
marca própria dos supermercados
são, muitas vezes, produzidos por
fabricantes de renome e custam
menos. Assim, a marca preferida
pode estar escondida em letras pequenas na embalagem.
Quanto custaria a macarronada?
Em um restaurante dos Jardins
(zona sudoeste de São Paulo), o espaguete ao sugo, para duas pessoas, pode custar R$ 12.
Feito em casa, usando ingredientes comprados em um supermercado de São Paulo, duas pessoas
comem espaguete ao sugo por R$
1,60- 13,3% do preço da refeição
pronta.
Ou até por R$ 0,88, o que equivale a 7,3% do preço do prato no restaurante, se na receita forem usados produtos que tragam a marca
própria do mesmo supermercado.
Enchendo o carrinho
O Folha trainee estabeleceu uma
lista de compras básicas, entre gêneros alimentícios e produtos de
limpeza, para o consumo de uma
família de quatro pessoas, durante
um mês. Os preços dessa lista foram pesquisados em três supermercados da cidade.
Para cada produto da lista foram
verificadas as marcas de menor e
maior preço. Dentro do mesmo
supermercado, comprando os
mesmos produtos e apenas trocando marcas, é possível economizar, em média, 34,05%.
Uma família pode comprar a cesta alimentícia gastando R$ 156,83
ou R$ 92,20.
A mesma compra de produtos de
limpeza pode custar ao consumidor R$ 124 ou R$ 61,74.
É importante dizer, porém, que
nem sempre o supermercado que
tem as melhores ofertas para alimentícios pratica os menores preços para produtos de limpeza.
Ajuste fino
Saúde ocupa o quarto lugar na
lista de pesos do orçamento. Com
11,6%, fica entre transporte (15%)
e educação e leitura (10%).
Dentro de saúde, os gastos com
assistência médica significam
79,3%. Incluem-se aí não só os custos de planos e seguros de saúde,
mas internações, consultas médicas e exames laboratoriais.
Nas quatro famílias dos entrevistados pela Folha, a educação dos
filhos é uma prioridade. Eles declaram preferir deixar os filhos na escola particular a manter o plano ou
seguro de saúde que, às vezes, já é
privilégio das crianças (leia textos
abaixo).
Nem sempre, porém, trata-se de
escolher: o número de matrículas
em escolas particulares decresceu
desde 1995, indicando uma migração de alunos para as escolas da rede pública, como mostra a reportagem na página 6.
As recentes mudanças nos planos de saúde não devem aliviar o
preço do item na planilha da classe
média. Ao contrário, espera-se
uma alta de preços, por conta da
ampliação das coberturas garantidas pelas novidades.
É possível, agora, economizar em
medicamentos. O Congresso aprovou uma lei que facilita a escolha
do medicamento mais barato (veja
reportagem na página 7).
Em deslocamentos, a classe média gasta mais do que com a defendida educação. São 15% do total,
80,7% dos quais para transporte
individual, incluídas compra e manutenção do veículo. Os outros
19,3% vão para gastos com transporte coletivo.
Alguém que trabalhe no Centro
Empresarial São Paulo, na zona sul
da cidade, e more nos Jardins pode
percorrer de carro os aproximadamente 12 quilômetros que separam casa e trabalho, gastando R$
21,60 por mês com o combustível.
Até aí, não parece vantagem pegar o ônibus, que custará R$ 23
mensais. Mas leve-se em conta o
estacionamento e o preço para
quem usa transporte individual
sobe para R$ 391,60 -que pode
variar, pois o estacionamento só
funciona com pagamento avulso.
Pode-se ainda optar por usar
ônibus fretado, com mensalidade
média de R$ 100.
Atenção aos financiamentos de
veículos: muitas vezes as prestações seguem a variação cambial.
Os financiadores têm aceito renegociar essas dívidas, mantendo
o indexador ou alterando as parcelas, mas as montadoras estão estudando caso a caso.
Cama, mesa e banho
Como não são renovados mensalmente, eletrodomésticos e equipamentos não geram sobrecarga:
são 4,6% do total do orçamento.
Eletrônicos e outros aparelhos,
como conjuntos de som e geladeiras, são mais caros e campeões
nessa categoria: 52,2%. Os móveis
vêm em seguida, com 28,3%.
A solução para economizar é
adiar a troca desses itens. Não é
hora de comprar a sonhada televisão de muitas polegadas para assistir aos filmes favoritos.
Rouparia, como lençóis e toalhas, são 6,5% do item; utensílios
domésticos, 13%. São compras que
também podem ser deixadas para
quando a situação econômica do
país ficar mais clara.
Comprar roupas é outro luxo a se
protelar. Elas são 69,1% da categoria vestuário. Este segmento inclui
também calçados e acessórios e
consome 5,5% do total do orçamento familiar.
Produtos e serviços de higiene e
beleza significam os outros dois
terços (66,7%).
Olho vivo nesse item: com a
abertura da economia, aumentou
bastante a quantidade de produtos
estrangeiros nas prateleiras. Agora, com o câmbio livre, seu custo
sobe muito.
Surpresas na linha
Culpam-se adolescentes por altas contas de telefone. Mas, das
despesas diversas, as de comunicação são um terço: 33,3%.
Limitar o uso da Internet é um
caminho. Além do gasto com telefone, há o limite de horas definido
pelo provedor: se ultrapassado, o
usuário paga um adicional.
Para se divertir, a classe média
emprega 2,1% de seus gastos. O
quesito produtos de lazer, que inclui brinquedos e jogos, representa
61,9% da categoria. Os serviços,
entre os quais estão ingressos em
geral, são 38,1%.
Apesar de não ter grande peso,
lazer é uma das primeiras coisas
que se cortam. Para garantir a diversão, há opções gratuitas ou por
preços acessíveis, como mostra o
texto da última página.
Ajudando os cortes
Com o objetivo de ajudar as famílias a equilibrar seus gastos, o
Procon está relançando seu guia de
orçamento doméstico, com dicas
de como organizar as contas.
O guia traz também orientação
sobre as melhores formas de pagamento e pode ser encontrado nos
postos de atendimento da fundação. O telefone para maiores informações é (011) 1512.
Texto Anterior: "O país ficará mais pobre em 1999" Próximo Texto: Aposentado federal economiza há anos Índice
|