São Paulo, Quinta-feira, 04 de Fevereiro de 1999
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Em tempos de crise, é preciso limitar hábitos adquiridos na era da estabilidade -coma em casa, não consuma importados, adie compras: abaixo o supérfluo
Aperte o cinto para chegar ao fim do mês

FRANCESCA ANGIOLILLO
da Equipe de Trainees

O hábito paulistano de comer fora consome mais de um quarto (28,4%) dos gastos com alimentação de uma família de classe média da cidade de São Paulo.
Segundo o ICV (Índice de Custo de Vida) do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) de dezembro de 1998, o que se gasta em alimentação representa 22,9% de todo o orçamento, atrás apenas dos custos com habitação, que somam 24,7% dos gastos totais de uma casa de classe média na cidade.
O que mais pesa no bolso não são locação, condomínio e imposto, como se poderia pensar, mas os custos operacionais: limpeza, serviços públicos e domésticos, que consomem 48,2% do total do item.

Cortando gastos
Em vez de ir ao restaurante, fazer a macarronada de domingo em casa, trocando as marcas habituais por outras mais baratas, é uma opção para economizar.
Produtos comercializados com a marca própria dos supermercados são, muitas vezes, produzidos por fabricantes de renome e custam menos. Assim, a marca preferida pode estar escondida em letras pequenas na embalagem.
Quanto custaria a macarronada? Em um restaurante dos Jardins (zona sudoeste de São Paulo), o espaguete ao sugo, para duas pessoas, pode custar R$ 12.
Feito em casa, usando ingredientes comprados em um supermercado de São Paulo, duas pessoas comem espaguete ao sugo por R$ 1,60- 13,3% do preço da refeição pronta.
Ou até por R$ 0,88, o que equivale a 7,3% do preço do prato no restaurante, se na receita forem usados produtos que tragam a marca própria do mesmo supermercado.

Enchendo o carrinho
O Folha trainee estabeleceu uma lista de compras básicas, entre gêneros alimentícios e produtos de limpeza, para o consumo de uma família de quatro pessoas, durante um mês. Os preços dessa lista foram pesquisados em três supermercados da cidade.
Para cada produto da lista foram verificadas as marcas de menor e maior preço. Dentro do mesmo supermercado, comprando os mesmos produtos e apenas trocando marcas, é possível economizar, em média, 34,05%.
Uma família pode comprar a cesta alimentícia gastando R$ 156,83 ou R$ 92,20.
A mesma compra de produtos de limpeza pode custar ao consumidor R$ 124 ou R$ 61,74.
É importante dizer, porém, que nem sempre o supermercado que tem as melhores ofertas para alimentícios pratica os menores preços para produtos de limpeza.

Ajuste fino
Saúde ocupa o quarto lugar na lista de pesos do orçamento. Com 11,6%, fica entre transporte (15%) e educação e leitura (10%).
Dentro de saúde, os gastos com assistência médica significam 79,3%. Incluem-se aí não só os custos de planos e seguros de saúde, mas internações, consultas médicas e exames laboratoriais.
Nas quatro famílias dos entrevistados pela Folha, a educação dos filhos é uma prioridade. Eles declaram preferir deixar os filhos na escola particular a manter o plano ou seguro de saúde que, às vezes, já é privilégio das crianças (leia textos abaixo).
Nem sempre, porém, trata-se de escolher: o número de matrículas em escolas particulares decresceu desde 1995, indicando uma migração de alunos para as escolas da rede pública, como mostra a reportagem na página 6.
As recentes mudanças nos planos de saúde não devem aliviar o preço do item na planilha da classe média. Ao contrário, espera-se uma alta de preços, por conta da ampliação das coberturas garantidas pelas novidades.
É possível, agora, economizar em medicamentos. O Congresso aprovou uma lei que facilita a escolha do medicamento mais barato (veja reportagem na página 7).
Em deslocamentos, a classe média gasta mais do que com a defendida educação. São 15% do total, 80,7% dos quais para transporte individual, incluídas compra e manutenção do veículo. Os outros 19,3% vão para gastos com transporte coletivo.
Alguém que trabalhe no Centro Empresarial São Paulo, na zona sul da cidade, e more nos Jardins pode percorrer de carro os aproximadamente 12 quilômetros que separam casa e trabalho, gastando R$ 21,60 por mês com o combustível.
Até aí, não parece vantagem pegar o ônibus, que custará R$ 23 mensais. Mas leve-se em conta o estacionamento e o preço para quem usa transporte individual sobe para R$ 391,60 -que pode variar, pois o estacionamento só funciona com pagamento avulso.
Pode-se ainda optar por usar ônibus fretado, com mensalidade média de R$ 100.
Atenção aos financiamentos de veículos: muitas vezes as prestações seguem a variação cambial.
Os financiadores têm aceito renegociar essas dívidas, mantendo o indexador ou alterando as parcelas, mas as montadoras estão estudando caso a caso.

Cama, mesa e banho
Como não são renovados mensalmente, eletrodomésticos e equipamentos não geram sobrecarga: são 4,6% do total do orçamento.
Eletrônicos e outros aparelhos, como conjuntos de som e geladeiras, são mais caros e campeões nessa categoria: 52,2%. Os móveis vêm em seguida, com 28,3%.
A solução para economizar é adiar a troca desses itens. Não é hora de comprar a sonhada televisão de muitas polegadas para assistir aos filmes favoritos.
Rouparia, como lençóis e toalhas, são 6,5% do item; utensílios domésticos, 13%. São compras que também podem ser deixadas para quando a situação econômica do país ficar mais clara.
Comprar roupas é outro luxo a se protelar. Elas são 69,1% da categoria vestuário. Este segmento inclui também calçados e acessórios e consome 5,5% do total do orçamento familiar.
Produtos e serviços de higiene e beleza significam os outros dois terços (66,7%).
Olho vivo nesse item: com a abertura da economia, aumentou bastante a quantidade de produtos estrangeiros nas prateleiras. Agora, com o câmbio livre, seu custo sobe muito.

Surpresas na linha
Culpam-se adolescentes por altas contas de telefone. Mas, das despesas diversas, as de comunicação são um terço: 33,3%.
Limitar o uso da Internet é um caminho. Além do gasto com telefone, há o limite de horas definido pelo provedor: se ultrapassado, o usuário paga um adicional.
Para se divertir, a classe média emprega 2,1% de seus gastos. O quesito produtos de lazer, que inclui brinquedos e jogos, representa 61,9% da categoria. Os serviços, entre os quais estão ingressos em geral, são 38,1%.
Apesar de não ter grande peso, lazer é uma das primeiras coisas que se cortam. Para garantir a diversão, há opções gratuitas ou por preços acessíveis, como mostra o texto da última página.

Ajudando os cortes
Com o objetivo de ajudar as famílias a equilibrar seus gastos, o Procon está relançando seu guia de orçamento doméstico, com dicas de como organizar as contas.
O guia traz também orientação sobre as melhores formas de pagamento e pode ser encontrado nos postos de atendimento da fundação. O telefone para maiores informações é (011) 1512.


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