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SAÚDE
Medicamentos são a fatia do orçamento que mais cresceu percentualmente
Remédios doem no bolso
PEDRO DIAS LEITE
da Equipe de Trainees
Pressionados pelos preços dos
remédios, que subiram seis vezes
mais que a inflação, os produtos
farmacêuticos foram a fatia dos
gastos da classe média que mais
subiu percentualmente desde julho de 96.
Sua participação cresceu de
1,81% para 2,31%, segundo pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos) -um aumento
de 27,6%.
Na prática, uma família que tem
orçamento de R$ 3.000 e gastava
em média R$ 54,30 com esses produtos em julho de 96, passou a gastar R$ 69,30 em dezembro de 98.
O preço dos remédios aumentou
41,89% entre julho de 96 e dezembro de 98, enquanto a inflação no
mesmo período foi de 5,87%, segundo a Fipe (Fundação Instituto
de Pesquisas Econômicas).
O secretário-executivo da Abifarma (associação da indústria farmacêutica), Serafim Branco Neto,
considera "injusta" a comparação
dos preços nos últimos 30 meses e
aponta outro período: o da existência do Plano Real.
Reajuste
Segundo ele, os reajustes ficaram
muito abaixo da inflação nos dois
primeiros anos do Plano Real (94 e
95). Branco Neto diz que a inflação
durante o Real foi de 65,07%, enquanto os remédios subiram 60%.
Em acordo firmado segunda-feira, a indústria se comprometeu a
não aumentar os preços em fevereiro, numa tentativa de amenizar
o impacto da desvalorização cambial, pelo menos por enquanto
-já que entre 60% e 70% da matéria-prima é importada.
O deputado federal Eduardo Jorge (PT-SP) acusa as indústrias de
monopolistas e de não se sujeitarem às leis de mercado -70% dele
controlado por multinacionais.
O secretário-executivo da Abifarma discorda da acusação: "A
maior indústria do setor detém
apenas 6% do mercado".
Segundo Jorge, outro fator que
contribuiu para o crescimento da
participação dos produtos farmacêuticos no orçamento, além do
aumento dos preços, é o uso do nome comercial em vez do genérico.
Ele afirma que nos EUA, onde
uma lei obriga o uso do nome genérico há 12 anos, o preço caiu cerca de 35%. Ele é o autor de um projeto de lei, aprovado no Senado e à
espera de regulamentação, que
obriga o uso dos nomes genéricos
também no Brasil.
O CRF-DF (Conselho Regional
de Farmácia do Distrito Federal)
tem um estudo que compara os
preços de remédios que têm a mesma substância, na mesma quantidade. A diferença pode passar de
300% entre medicamentos idênticos (veja quadro acima).
Apesar da disparidade, eles têm
exatamente o mesmo efeito sobre
o paciente, segundo o professor-adjunto da Escola Paulista de Medicina Alvaro Atallah.
Faturamento
O faturamento dos laboratórios
em 98 foi de R$ 14,4 bilhões, segundo a Abifarma. Isso representa
mais de 70% da verba do Ministério da Saúde em 99 -pouco menos de R$ 20 bilhões.
Uma das principais ressalvas feitas ao projeto de genéricos, segundo o próprio Jorge, é a ineficiência
da fiscalização. Ele diz que para o
projeto funcionar, a vigilância sanitária terá que ser "ressuscitada".
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