São Paulo, Quinta-feira, 04 de Fevereiro de 1999
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SAÚDE
Medicamentos são a fatia do orçamento que mais cresceu percentualmente
Remédios doem no bolso

PEDRO DIAS LEITE
da Equipe de Trainees

Pressionados pelos preços dos remédios, que subiram seis vezes mais que a inflação, os produtos farmacêuticos foram a fatia dos gastos da classe média que mais subiu percentualmente desde julho de 96.
Sua participação cresceu de 1,81% para 2,31%, segundo pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) -um aumento de 27,6%.
Na prática, uma família que tem orçamento de R$ 3.000 e gastava em média R$ 54,30 com esses produtos em julho de 96, passou a gastar R$ 69,30 em dezembro de 98.
O preço dos remédios aumentou 41,89% entre julho de 96 e dezembro de 98, enquanto a inflação no mesmo período foi de 5,87%, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
O secretário-executivo da Abifarma (associação da indústria farmacêutica), Serafim Branco Neto, considera "injusta" a comparação dos preços nos últimos 30 meses e aponta outro período: o da existência do Plano Real.

Reajuste
Segundo ele, os reajustes ficaram muito abaixo da inflação nos dois primeiros anos do Plano Real (94 e 95). Branco Neto diz que a inflação durante o Real foi de 65,07%, enquanto os remédios subiram 60%.
Em acordo firmado segunda-feira, a indústria se comprometeu a não aumentar os preços em fevereiro, numa tentativa de amenizar o impacto da desvalorização cambial, pelo menos por enquanto -já que entre 60% e 70% da matéria-prima é importada.
O deputado federal Eduardo Jorge (PT-SP) acusa as indústrias de monopolistas e de não se sujeitarem às leis de mercado -70% dele controlado por multinacionais.
O secretário-executivo da Abifarma discorda da acusação: "A maior indústria do setor detém apenas 6% do mercado".
Segundo Jorge, outro fator que contribuiu para o crescimento da participação dos produtos farmacêuticos no orçamento, além do aumento dos preços, é o uso do nome comercial em vez do genérico.
Ele afirma que nos EUA, onde uma lei obriga o uso do nome genérico há 12 anos, o preço caiu cerca de 35%. Ele é o autor de um projeto de lei, aprovado no Senado e à espera de regulamentação, que obriga o uso dos nomes genéricos também no Brasil.
O CRF-DF (Conselho Regional de Farmácia do Distrito Federal) tem um estudo que compara os preços de remédios que têm a mesma substância, na mesma quantidade. A diferença pode passar de 300% entre medicamentos idênticos (veja quadro acima).
Apesar da disparidade, eles têm exatamente o mesmo efeito sobre o paciente, segundo o professor-adjunto da Escola Paulista de Medicina Alvaro Atallah.

Faturamento
O faturamento dos laboratórios em 98 foi de R$ 14,4 bilhões, segundo a Abifarma. Isso representa mais de 70% da verba do Ministério da Saúde em 99 -pouco menos de R$ 20 bilhões.
Uma das principais ressalvas feitas ao projeto de genéricos, segundo o próprio Jorge, é a ineficiência da fiscalização. Ele diz que para o projeto funcionar, a vigilância sanitária terá que ser "ressuscitada".


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