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Sistema público de saúde vira alternativa para a classe média
JULIANA MONACHESI
da Equipe de Trainees
Para contornar os gastos com
saúde, que consomem hoje uma
fatia 23% maior do orçamento do
que há uma década, a classe média
está adotando o sistema público de
saúde como uma das saídas.
O empresário Jamil Lutfi, 44,
precisou aguardar até as 16h do dia
6 de janeiro na porta do prédio dos
ambulatórios do HC para ver sua
mãe, Idalina Lutfi, de 68 anos, recém-operada. Mas valeu a pena.
Com horários de visita mais rígidos do que os de hospitais particulares, as Clínicas surpreenderam
Lutfi pela qualidade. "No hospital
público, você tem de se sujeitar a
certas coisas, mas o atendimento
também é de primeira."
Dono de uma empresa de segurança patrimonial, Lutfi pagava
havia oito meses um plano de saúde de R$ 450 mensais para a mãe.
Quando descobriram no final de
98 que ela estava com um tumor no
intestino, a operadora do plano de
saúde recusou-se a cobrir a cirurgia que, segundo alertavam os médicos, não poderia demorar.
Após uma peregrinação por hospitais de São Paulo, Lutfi encontrou orçamentos em torno de R$
20 mil para o procedimento completo: sete dias de internação, quatro horas de cirurgia, médico,
anestesista e medicamentos.
"Meu advogado conseguiria na
Justiça a liberação da cirurgia em
24 horas, mas se perdêssemos a
ação depois teríamos de pagar o
preço estipulado." Recorreu ao HC
e a cirurgia não lhe custou nada.
Segundo o IBGE, em 1987 a classe
média gastava 5,46% de seus rendimentos mensais com assistência
médica. O percentual passou para
6,72% em 1996.
Apenas no Hospital das Clínicas,
maior complexo hospitalar da
América Latina, a presença da
classe média saltou de 7% para 11%
em cinco anos, segundo levantamento do perfil socioeconômico
dos usuários de ambulatórios realizado em 1988 e 1993.
De acordo com a diretora do Serviço Social do HC, Sandra Márcia
de Albuquerque, responsável pela
pesquisa, os dados e a própria vivência no hospital "indicam empobrecimento da classe média".
O maior problema dos hospitais
públicos é a fila de espera. A não
ser que um paciente chegue ao
hospital pelo pronto-socorro, por
causa de uma emergência, enfrenta muita burocracia até conseguir
marcar uma hora (veja como agendar consulta no quadro ao lado).
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Hospitais Universitários e de Ensino, José Roberto Ferraro, a demanda não é
atendida por falta de recursos.
"Apesar de o SUS ser um ótimo sistema, o financiamento é péssimo."
Ferraro é também diretor de outro centro de excelência hospitalar,
o Hospital São Paulo. Para ele,
considerando que 40 milhões de
pessoas utilizam a medicina alternativa (planos e seguros de saúde),
a crise vai comprometer mais a capacidade do sistema: "Vai haver
migração e isso vai saturar mais".
A dona-de-casa Suely Mendes
dos Santos, 29, demorou um mês e
meio para conseguir marcar consulta no HC para sua filha Carolina, que tem um problema sério de
estrabismo. Ela foi ao HC porque,
com o marido desempregado, tiveram de cancelar o plano de saúde.
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