São Paulo, Quinta-feira, 04 de Fevereiro de 1999
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Sistema público de saúde vira alternativa para a classe média

JULIANA MONACHESI
da Equipe de Trainees

Para contornar os gastos com saúde, que consomem hoje uma fatia 23% maior do orçamento do que há uma década, a classe média está adotando o sistema público de saúde como uma das saídas.
O empresário Jamil Lutfi, 44, precisou aguardar até as 16h do dia 6 de janeiro na porta do prédio dos ambulatórios do HC para ver sua mãe, Idalina Lutfi, de 68 anos, recém-operada. Mas valeu a pena.
Com horários de visita mais rígidos do que os de hospitais particulares, as Clínicas surpreenderam Lutfi pela qualidade. "No hospital público, você tem de se sujeitar a certas coisas, mas o atendimento também é de primeira."
Dono de uma empresa de segurança patrimonial, Lutfi pagava havia oito meses um plano de saúde de R$ 450 mensais para a mãe.
Quando descobriram no final de 98 que ela estava com um tumor no intestino, a operadora do plano de saúde recusou-se a cobrir a cirurgia que, segundo alertavam os médicos, não poderia demorar.
Após uma peregrinação por hospitais de São Paulo, Lutfi encontrou orçamentos em torno de R$ 20 mil para o procedimento completo: sete dias de internação, quatro horas de cirurgia, médico, anestesista e medicamentos.
"Meu advogado conseguiria na Justiça a liberação da cirurgia em 24 horas, mas se perdêssemos a ação depois teríamos de pagar o preço estipulado." Recorreu ao HC e a cirurgia não lhe custou nada.
Segundo o IBGE, em 1987 a classe média gastava 5,46% de seus rendimentos mensais com assistência médica. O percentual passou para 6,72% em 1996.
Apenas no Hospital das Clínicas, maior complexo hospitalar da América Latina, a presença da classe média saltou de 7% para 11% em cinco anos, segundo levantamento do perfil socioeconômico dos usuários de ambulatórios realizado em 1988 e 1993.
De acordo com a diretora do Serviço Social do HC, Sandra Márcia de Albuquerque, responsável pela pesquisa, os dados e a própria vivência no hospital "indicam empobrecimento da classe média".
O maior problema dos hospitais públicos é a fila de espera. A não ser que um paciente chegue ao hospital pelo pronto-socorro, por causa de uma emergência, enfrenta muita burocracia até conseguir marcar uma hora (veja como agendar consulta no quadro ao lado).
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Hospitais Universitários e de Ensino, José Roberto Ferraro, a demanda não é atendida por falta de recursos. "Apesar de o SUS ser um ótimo sistema, o financiamento é péssimo."
Ferraro é também diretor de outro centro de excelência hospitalar, o Hospital São Paulo. Para ele, considerando que 40 milhões de pessoas utilizam a medicina alternativa (planos e seguros de saúde), a crise vai comprometer mais a capacidade do sistema: "Vai haver migração e isso vai saturar mais".
A dona-de-casa Suely Mendes dos Santos, 29, demorou um mês e meio para conseguir marcar consulta no HC para sua filha Carolina, que tem um problema sério de estrabismo. Ela foi ao HC porque, com o marido desempregado, tiveram de cancelar o plano de saúde.


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