São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Urnas eletrônicas estragaram, e votação começou seis horas depois

Vila São José volta ao voto em papel

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

No colégio que reúne o maior número de zonas eleitorais (17) e de eleitores da cidade (9.000), a Escola Estadual Professor Alberto Salotti, na Vila São José (zona sul), 509 cidadãos tiveram de recuar no tempo das urnas de lona e dos votos em papel. Culpa de uma gambiarra na instalação elétrica, que "queimou" cinco urnas eletrônicas.
Só seis horas depois de iniciada a votação em todo o país, os eleitores da 239ª seção começaram a rabiscar as cédulas. Às 17h, horário do fechamento das urnas, mais de 200 pessoas ainda aguardavam a oportunidade de votar -muitas sem almoço. Às 18h50, todos puderam descansar.
"Eles acham que só porque somos pobres temos de voltar para a idade da pedra", revoltava-se o porteiro Milton Montino, 45.
Encostados nas paredes do pátio da escola, que pela onipresença de grades mais parece uma prisão, os eleitores da 239 viram quando Terezinha de Souza Santos, exausta e com fome, rasgou o título de eleitor em pequenos pedaços e fez, numa chuvinha de papel picado, seu protesto.
Mas o gesto não teve seguidores: "Daqui eu não saio sem votar", dizia em voz alta a cozinheira aposentada Maria dos Santos Oliveira, 76, eleitora de Marta.
"O pessoal está se exaltando, e eu estou ficando apavorado", dizia, às 12h30, o mesário Maurício Guedes, 29. O culpado, diziam todos, era o juiz eleitoral Octavio Augusto Machado de Barros Filho, responsável pela zona 381, onde fica a seção 239. "A culpa é da manutenção "nota zero" que a escola recebe do governo estadual", disse o juiz à Folha.
"Compara esse lixo de escola com o CEU. Não tem comparação. É por isso que eu voto na Marta", dizia o pedreiro João Nunes, 49, a boca toda desdentada, logo emendando: "Ô coroa enxuta. Eu amo essa mulher".
Voz dissonante, a desempregada Antonia Batista Santos, 46, fez questão de enfrentar a onda petista, majoritária na Vila São José, e declarar o voto em Serra. "Tudo o que eu queria era um emprego. E isso a Marta não me deu", disse.
Lá fora, a festa corria por conta da presença de maior peso na eleição: Sansão, de 10 anos e 1 tonelada, o único boi encilhado de São Paulo.


Texto Anterior: Nos Jardins e na periferia: "Martofobia" reina onde prefeita vota
Próximo Texto: Eleições 2004 / São Paulo: Maluf abandona otimismo em sua pior derrota
Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.