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ADOÇÃO TIRA PRAÇAS E ESTÁTUAS DO ABANDONO
RICARDO WESTIN
DA EQUIPE DE TRAINEES
Da janela de seu restaurante,
Carlos Beutel fica incomodado
com a gente largada nos cantos e
com a barulhenta feira livre em
que os camelôs transformaram a
rua Barão de Itapetininga. Em dez
anos, seu estabelecimento foi assaltado três vezes. Mesmo assim,
Beutel nunca deu ouvidos à insistência da mulher para que deixasse o centro de São Paulo.
"Você não vai abandonar sua
família só porque ela é complicada, vai?", compara ele, que há
quatro anos preside, como voluntário, a Ação Local Barão de Itapetininga, uma ONG formada por
comerciantes da vizinhança.
Diante da falta de segurança,
eles superaram a concorrência do
dia-a-dia e se juntaram para instalar uma câmera na rua e outra
na vizinha 7 de Abril. Nos próximos meses, mais dez câmeras deverão vigiar a região inteira.
Beutel diz que a atitude é uma
reação à "inatividade do poder
público". E ele não está só. A Barão é uma das 43 Ações Locais que
atuam na área, como franquias da
Associação Viva o Centro, criada
há 11 anos por empresários, instituições e profissionais liberais
com a ambiciosa meta de reverter
a degradação da região central.
"Trazer suas atividades é o primeiro passo que a iniciativa privada pode dar para requalificar a
área", diz Marco Antonio de Almeida, diretor da Viva o Centro.
A iniciativa privada, porém, faz
mais que isso. Na velha rua do Pátio do Colégio, o embrião da metrópole, a Ação Local Boa Vista,
com a contribuição de prédios comerciais, tem seis zeladores que
consertam as calçadas, varrem a
rua e limpam os postes históricos.
O lado novo do Anhangabaú
tem iniciativas parecidas. A rua
Xavier de Toledo só espera a prefeitura concluir o alargamento
das calçadas para que uma empresa reforce a limpeza pública e
oito seguranças façam a vigilância
dos 700 metros entre o Teatro
Municipal e a Biblioteca Mário de
Andrade. Para isso, 50 edifícios se
comprometeram a dar todo mês
cerca de R$ 500 cada um.
Algumas ações são mais perceptíveis. Jardins bem cuidados e
fontes jorrando água limpa fazem
a área que corta o Anhangabaú
lembrar o outrora orgulhoso centro paulistano. Esse oásis existe
por causa de acordos da prefeitura com empresas, que adotam
praças e monumentos em troca
de uma plaquinha no local.
Quando se instalou na pça. Antonio Prado, há 16 anos, a BM&F
padronizou as bancas de jornal e
criou quiosques para engraxates.
Em frente, o Banco do Brasil mantém o primeiro canteiro da São
João. O Anhangabaú é cuidado
pelo BankBoston. Na esplanada
do Municipal, a pça. Ramos exibe
placas da Votorantim e da Klabin,
que apadrinharam respectivamente os jardins e as estátuas.
Nada sai dos cofres públicos. E
das empresas, relativamente pouco. A manutenção do vale, por
exemplo, custa R$ 15 mil por mês.
As quantias podem ser bem menores. Como ilustração, a conservação da pça. Visconde da Cunha
Bueno, no Real Parque (zona sul),
sai por cerca de R$ 10 mensais para cada apartamento do entorno.
"Ninguém se importa quando é
a prefeitura que conserva", diz
Nair Fiorot, da Ação Local Praça
Roosevelt. "Mas se é você que cuida, você aprende a amar. É como
se virasse o quintal da sua casa."
Dos 180 monumentos do centro, apenas 16 têm padrinho. E só
11 das 160 áreas verdes são adotadas. Quem quiser cuidar desses
"órfãos" deve procurar as subprefeituras e o DPH (Departamento
do Patrimônio Histórico).
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