São Paulo, quinta, 6 de agosto de 1998

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BIOTECNOLOGIA
É o emprego de organismos vivos ou de seus produtos para modificar a saúde dos seres humanos e seu meio ambiente. Através da história, os homens aprenderam a selecionar plantas mais resistentes às pragas e usar microorganismos para fazer bebidas alcóolicas. A alteração do DNA aumenta a produtividade dos cultivos, mas pouco se sabe sobre os efeitos colaterais dos alimentos transgênicos; até agora, a maior tragédia ocorreu em 1989 no Japão, onde 27 pessoas morreram e outras 1.500 ficaram inválidas depois de ingerir um suplemento alimentar produzido por meio duma bactéria geneticamente modificada
Você sabe o que está comendo?


Pesquisadores mudam alguns genes do organismo sem saber se isso trará resultados nocivos


CÉLIA ALMUDENA
da Reportagem Local

Os alimentos transgênicos (produtos que sofreram alteração genética com o objetivo de melhorar a qualidade) já ocupam prateleiras nos supermercados nos EUA e Canadá, mas o consumidor não sabe disso: não há lei que obrigue os fabricantes a informar que o produto sofreu alteração genética.
No Brasil, a multinacional Monsanto está tentando conseguir autorização do Ministério da Ciência e Tecnologia, para produzir soja transgênica no país. De resto, a situação é similar. Não há obrigação de alertar o consumidor.
Mas, no último dia 24, a 6ª Vara da Justiça Federal de Brasília determinou que a Associação Brasileira de Óleos Vegetais modificasse os rótulos de todos os óleos feitos a base de sementes de soja transgênica, para que as embalagens trouxessem informações sobre a composição do óleo e sobre os riscos à saúde, como manda o Código de Defesa do Consumidor.
O juiz Antônio Oswaldo Scarpa deferiu parcialmente liminar impetrada pelo Greenpeace, que reivindicava que fosse suspensa toda a comercialização de óleo feito a partir de soja transgênica, que no Brasil é produzido pela Ceval.
A autorização para comercialização do óleo de soja transgênica havia sido dada à Ceval pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) em setembro de 1997.

Mutações
As preocupações com os efeitos do uso disseminado da biotecnologia fazem sentido. Os cientistas começam a chamar a atenção para os riscos dessa prática, quase tão antiga quanto a humanidade.
Cruzamentos entre variedades vegetais a fim de obter um resultado mais produtivo ou capaz de resistir a pragas é prática antiga e habitual em área rurais.
Já as técnicas modernas da engenharia genética permitem que se retirem genes de um organismo e se transfiram para outro.
Esses genes "estrangeiros" quebram a sequência de DNA do organismo receptor, que sofre uma espécie de reprogramação, tornando-se capaz de produzir novas substâncias.
Entre os avanços criados com a biotecnologia, estão a eliminação do impacto de pragas sobre as lavouras e a consequente redução do uso de pesticidas, a possibilidade de cultivar espécies adequadas em terras antes consideradas inférteis, adaptá-las a condições ambientais e climáticas adversas, multiplicar a variedade de alimentos, enriquecer a presença de vitaminas nos alimentos etc.
Os benefícios, porém, podem esconder riscos ainda não esclarecidos. Segundo o bioquímico John Fagan, especialista em biologia molecular e um dos principais críticos dos alimentos mutantes, "a engenharia genética é um procedimento artificial, feito em laboratório. Cortar e dividir genes é uma cirurgia genética".
"A soja contém entre 100 mil e 200 mil genes", argumenta Fagan. "Os cientistas estudaram talvez 20 desses genes, isto é, 0,02%. Conhecemos apenas 0,02% do que há para saber da genoma desse organismo. E os pesquisadores querem mudar a soja de forma não controlada, sem saber o que fizeram, e depois vender para o consumidor, sem testes profundos."
Para ele, o certo seria mapear todos os genes da soja, decifrando a função de cada um, decidir o que é necessário mudar, e fazer isso de modo controlado. "Eles podem estar modificando mais de uma característica do organismo. Esse é o problema: o processo não é totalmente controlado. Eles até podem ter alcançado o objetivo primordial, mas outras surpresas vêm junto", diz Fagan.

Exterminador
Surpresa mesmo é o que promete a multinacional Delta & Pine. A empresa solicitou uma patente mundial, inclusive no INPI (Instituto Nacional de Patentes Industriais), para um gene batizado de "Terminator" (exterminador).
O objetivo desse mutante é ampliar a margem de lucro das empresas que comercializam sementes, tornando estéril a segunda geração de sementes usadas na agricultura. No Brasil, muitos produtores usam grãos de uma safra para fazer uma nova plantação. Se o "exterminador" for inserido nas sementes, seus frutos serão estéreis, e os agricultores serão forçados a comprar novas sementes.


Na Internet:
Riscos da biotecnologia:
http://www.ucsusa.org/agriculture/gen.
risks.health.html
http://www.scicomm.org.
uk/biosis/reg.html



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