São Paulo, quinta, 6 de agosto de 1998

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Consumo de produtos tem efeitos imprevisíveis

da Reportagem Local

Os riscos dos alimentos mutantes estão claros na cabeça dos pesquisadores de todo o mundo. Mas a maioria dos governos não exige que testes clínicos com humanos sejam feitos antes da colocação desses produtos no mercado. Enquanto isso, os consumidores estão sendo usados como espécie de cobaias e os resultados das experiências podem ser imprevisíveis.
Até o momento, o resultado mais trágico do uso de produtos transgênicos surgiu no Japão em 89: 5.000 pessoas ficaram doentes, 1.500 se tornaram permanentemente inválidas e 37 morreram.
A empresa Showa Denko alterou geneticamente uma bactéria natural para que produzisse uma forma mais eficiente de triptofano, um suplemento alimentar. A manipulação fez a bactéria produzir uma substância altamente tóxica, que só foi detectada quando o produto já estava no mercado.
"As normas de segurança não mudaram muito desde 89, quando isso aconteceu. Se isso ocorresse hoje, as pessoas ficariam doentes novamente, porque nada os está protegendo", alerta John Fagan.
O bioquímico diz que as pesquisas com os alimentos mutantes ainda são insipientes. O risco é que as manipulações genéticas podem causar mutações que danifiquem o funcionamento dos genes naturais do organismo. Os genes inseridos também podem criar efeitos colaterais imprevisíveis.
"Outro ponto importante: os organismos alterados podem se reproduzir e até cruzar com a população normal, não alterada, criando mudanças biológicas irreversíveis nos ecossistemas terrestres ", diz Fagan.
Enquanto não se avaliam todos os seus efeitos, a questão pendente é saber se é apropriado ou não consumir esses alimentos.
Do ponto de vista científico, essa questão em aberto tem encorajado pessoas de todo o mundo (principalmente na Europa e no Japão) a tomar uma posição de precaução. Para os estudiosos no assunto, os consumidores têm poucas alternativas: consumir apenas alimentos orgânicos ou evitar a todo custo os alimentos industrializados.
"Cerca de 70% dos alimentos processados têm soja ou milho entre seus ingredientes. Portanto, a maioria dos produtos contêm mutantes", alerta Fagan.
No Brasil, entidades de defesa do consumidor já estão vigilantes para os problemas dos alimentos transgênicos e estão exigindo que os rótulos dos produtos contenham a informação de que o produto ou seus ingredientes passou por engenharia genética.
"Estamos muito preocupados com a questão dos riscos dessas substâncias. O que é considerado inseguro deveria ter sua comercialização proibida. O consumidor deve ter o direito à informação e segurança", diz o veterinário Sezifredo Paz, 38, consultor técnico do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) de São Paulo.
Na opinião de Fagan, entretanto, o Brasil deveria impedir totalmente a inclusão da engenharia genética na sua produção de alimentos por uma questão econômica. "Se o país decidir não permitir produzi-los, muitos países -da Europa e o Japão, por exemplo-, que querem alimentos não alterados, podem confiar no país como fonte de alimentos", sugere.
(CÉLIA ALMUDENA)



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