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Consumo de produtos tem efeitos imprevisíveis
da Reportagem Local
Os riscos dos alimentos mutantes estão claros na cabeça dos pesquisadores de todo o mundo. Mas
a maioria dos governos não exige
que testes clínicos com humanos
sejam feitos antes da colocação
desses produtos no mercado. Enquanto isso, os consumidores estão sendo usados como espécie de
cobaias e os resultados das experiências podem ser imprevisíveis.
Até o momento, o resultado
mais trágico do uso de produtos
transgênicos surgiu no Japão em
89: 5.000 pessoas ficaram doentes,
1.500 se tornaram permanentemente inválidas e 37 morreram.
A empresa Showa Denko alterou
geneticamente uma bactéria natural para que produzisse uma forma mais eficiente de triptofano,
um suplemento alimentar. A manipulação fez a bactéria produzir
uma substância altamente tóxica,
que só foi detectada quando o produto já estava no mercado.
"As normas de segurança não
mudaram muito desde 89, quando
isso aconteceu. Se isso ocorresse
hoje, as pessoas ficariam doentes
novamente, porque nada os está
protegendo", alerta John Fagan.
O bioquímico diz que as pesquisas com os alimentos mutantes
ainda são insipientes. O risco é que
as manipulações genéticas podem
causar mutações que danifiquem
o funcionamento dos genes naturais do organismo. Os genes inseridos também podem criar efeitos
colaterais imprevisíveis.
"Outro ponto importante: os
organismos alterados podem se
reproduzir e até cruzar com a população normal, não alterada,
criando mudanças biológicas irreversíveis nos ecossistemas terrestres ", diz Fagan.
Enquanto não se avaliam todos
os seus efeitos, a questão pendente
é saber se é apropriado ou não
consumir esses alimentos.
Do ponto de vista científico, essa
questão em aberto tem encorajado
pessoas de todo o mundo (principalmente na Europa e no Japão) a
tomar uma posição de precaução.
Para os estudiosos no assunto, os
consumidores têm poucas alternativas: consumir apenas alimentos orgânicos ou evitar a todo custo os alimentos industrializados.
"Cerca de 70% dos alimentos
processados têm soja ou milho entre seus ingredientes. Portanto, a
maioria dos produtos contêm mutantes", alerta Fagan.
No Brasil, entidades de defesa do
consumidor já estão vigilantes para os problemas dos alimentos
transgênicos e estão exigindo que
os rótulos dos produtos contenham a informação de que o produto ou seus ingredientes passou
por engenharia genética.
"Estamos muito preocupados
com a questão dos riscos dessas
substâncias. O que é considerado
inseguro deveria ter sua comercialização proibida. O consumidor
deve ter o direito à informação e
segurança", diz o veterinário Sezifredo Paz, 38, consultor técnico
do Idec (Instituto de Defesa do
Consumidor) de São Paulo.
Na opinião de Fagan, entretanto,
o Brasil deveria impedir totalmente a inclusão da engenharia genética na sua produção de alimentos
por uma questão econômica. "Se
o país decidir não permitir produzi-los, muitos países -da Europa
e o Japão, por exemplo-, que
querem alimentos não alterados,
podem confiar no país como fonte
de alimentos", sugere.
(CÉLIA ALMUDENA)
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