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Brasil
Floresta em pé pode render até US$ 18 bi ao ano
Estoque de carbono de 47 bilhões de toneladas na Amazônia é o principal ativo do país na negociação internacional do clima
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em floresta em pé, a Amazônia ainda detém um território
seis vezes maior do que a França ou mais de treze vezes o tamanho do Estado de São Paulo.
Traduzido na linguagem do
aquecimento global, o que restou do avanço das motosserras
na floresta representa cerca de
47 bilhões de toneladas de estoque de carbono. E este é o principal ativo do Brasil no debate
para a redução das emissões de
gases de efeito estufa.
A expetativa de que a floresta
em pé valha muito em termos
de quantidade de gás carbônico
que deixa de ser lançado na atmosfera anima boa parte da superdelegação brasileira na conferência de Copenhague, engajada na definição de um dos
mecanismos de financiamento
do corte das emissões, o Redd
(Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação).
Nas metas que o governo definiu recentemente, a redução
do desmatamento responde
pela maior parcela do corte das
emissões até 2020. Em cifrões,
trata-se de um potencial bilionário nas negociações do clima.
Se o Redd for aprovado, o Brasil
poderia captar entre US$ 1,5 bilhão e US$ 18 bilhões por ano
pelas toneladas de CO2 que deixarão de ir para a atmosfera,
apontam cálculos de técnicos
do governo e de ONGs.
"Já se criou uma expectativa
de receber alguma coisa pela
floresta em pé entre os que têm
direito de desmatar", observa
Blairo Maggi, governador de
Mato Grosso, um dos Estados
líderes em desmatamento.
Depois de se insurgir contra
medidas do combate ao desmatamento, em 2008, o governador se mostra interessado em
atrair investimentos para reduzir o corte raso na fronteira
agrícola do país. "Sou pragmático", disse, preparando-se para se juntar à delegação brasileira em Copenhague.
São muitas ainda as dúvidas
sobre a criação do mecanismo,
a origem dos recursos e, sobretudo, sobre como irá funcionar
o Redd. E o interesse despertado no país é proporcional à
confusão que envolve o tema.
Ao lado de produtores rurais
e governos, populações indígenas e tradicionais da Amazônia
se habilitam a disputar financiamentos. "O que não podemos é cair na armadilha de
uma catapora de projetos na
Amazônia", pondera Paulo
Moutinho, do Ipam (Instituto
de Pesquisa da Amazônia).
No final de novembro, o Serviço Florestal Brasileiro divulgou o primeiro balanço dos
projetos de Redd no país. Sem
contar com o Fundo Amazônia, gerido pelo BNDES, há 17
projetos já idealizados, a maioria ainda em elaboração.
A maior parte dos projetos
trabalha com a ideia de desmatamento evitado. Entre as fontes de financiamento, há fundos públicos, mercado de carbono e empresas. Os projetos
já somam uma área de 460 mil
quilômetros quadrados, concentrados na Amazônia.
Os projetos, por ora, não alcançaram o cerrado, onde os
investimentos de Redd são
considerados mais importantes pelo governo, porque os donos de terra do bioma são autorizados por lei a desmatar uma
proporção maior de suas propriedades: de 65% a 80%.
"Para garantir e expandir as
metas, vamos precisar de muito dinheiro, sobretudo no cerrado", avalia o ministro Carlos
Minc (Meio Ambiente), preocupado, no entanto, com a importância que é dada ao sucesso da negociação do mecanismo de financiamento. "Se não
tivermos o Redd, o desmatamento não vai explodir", prevê.
E tudo indica que haverá
Redd. O mecanismo de proteção às florestas tropicais é um
dos poucos consensos da negociação de Copenhague, e deve
ser um dos principais resultados concretos da conferência
-e talvez o único. Ele prevê
que o desmatamento tropical
seja reduzido em 50% em 2020
e zerado em 2030.
Já se definiu que o Redd terá
três fases: na primeira, os países farão projetos-piloto; na segunda, as ações serão bancadas
por fundos voluntários, como o
brasileiro Fundo Amazônia,
com verba da Noruega. Só na
terceira fase os projetos entrariam no mercado de carbono.
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