São Paulo, quinta-feira, 07 de dezembro de 2006

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Fábio Bibancos de Rosa

Dentista recupera sorrisos perdidos

Como num passe de mágica, crianças resgatam a auto-estima; projeto tem 1.050 voluntários

Renato Stokler/Folha Imagem
O dentista Fábio Bibancos


DA REDAÇÃO

Quem abre um belo sorriso consegue muita coisa. O dentista Fábio Bibancos, 43, sabe bem disso. Com o seu, largo e franco, cativa colegas e financiadores e faz crescer a Turma do Bem, que atende crianças e adolescentes de baixa renda com graves problemas bucais.
Como esse bem-humorado paulistano não é o tipo de cara que gosta de rir sozinho, divide a alegria com esses jovens que, como num passe de mágica, voltam a sorrir e ganham confiança para conversar, flertar e até buscar o primeiro emprego. "O foco não é a boca, mas o bem-estar do indivíduo", diz.
Ainda no colégio, o menino nascido no Ipiranga (zona sul), que se avizinha a uma das maiores favelas do país, a de Heliópolis, teve o primeiro contato com o outro lado do muro. "Estudei em colégio jesuíta e uma hora precisava escolher entre esporte e trabalho social. Detestava ficar com a turma dos atletas, toda aquela competitividade, então entrei para a alternativa, que tocava violão e ia para a favela."

Tentação
O menino tomou gosto pela ação social, mas não sucumbiu à tentação de virar padre. "Tudo o que a gente queria fazer de gostoso era proibido", sorri, ladino. Para conciliar a vontade de ajudar os outros à habilidade manual, decidiu ser dentista.
Em tempos de abertura política, descobriu a força de lutar pelo que acha justo, como mais democracia na universidade _com direito a discurso libertário na festa de formatura.
"Meu pai morria de medo do ‘dópis’ [o extinto Departamento Estadual de Ordem Política e Social]", relembra, caprichando no sotaque italiano.
Formado, não demorou para voltar a ter um pé em cada mundo. Seu amigo Marco Ricca, ator, foi trazendo a seu consultório alguns colegas de profissão. O boca-a-boca cresceu tanto que Fábio ganhou o apelido de "dentista das estrelas".
Retomou as ações sociais, como a idealização do "Adotei um Sorriso", da Abrinq (associação de fabricantes de brinquedos). Perfeccionista, saiu por achar que podia melhorar e, aos poucos, foi montando a Turma do Bem, que, além de 650 dentistas, reúne 400 voluntários que trocam correspondências com crianças que vivem em abrigos.

Encrenqueiro
Usando seus instrumentos, Fábio quer tratar o que o sistema público não atinge. Para isso, a Turma do Bem vai a escolas públicas e aplica um questionário chamado de índice de prioridade para saber quem mais precisa de tratamento.
"Cárie pequena, aplicação de flúor, eu não pego. Só tratamos o que o Estado não cobre", reforça. Fábio está sempre pinçando os profissionais perfeitos para o projeto e ensina coordenadores regionais a replicar sua estratégia. "Sabe aquele encrenqueiro, aquele que não se conforma? Esse que tem veia para o projeto."
De colega em colega, já providenciou tratamento a 1.150 crianças e adolescentes em 150 cidades do país. Todos são atendidos até os 18 anos e em consultórios particulares. "Todos merecem tratamento, mas não em qualquer lugar. Quero que os dentistas atendam em seu consultório, onde têm os melhores equipamentos e oferecem qualidade máxima."
Apesar de se confessar um grande controlador quando se trata das rédeas do projeto, não quer tudo para si. "É difícil ser o chefão. Eu gosto de dividir".


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