São Paulo, quinta-feira, 07 de dezembro de 2006

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Jussara Matsuda

Visão de médica acaba com filas de consultas populares

Clínica atende a R$ 30 e viabiliza desconto em exame

RAQUEL BOCATO
ENVIADA ESPECIAL A UBERLÂNDIA (MG)

Mulher de choro fácil, a médica oftalmologista Jussara Mendes Lopes Matsuda, 53, emociona-se com quase tudo: quando lembra de alguns dos pacientes do IME (Instituto de Medicina Especializada) - Clínica Cidadã, ao falar dos primeiros anos de formada e quando conta seus planos.
Um dos poucos momentos em que as lágrimas não lhe vêm aos olhos é quando fala sobre a desclassificação de sua clínica multidisciplinar, que oferece consulta médica a R$ 30, em programa que reconhece práticas de responsabilidade social.
A entidade, de Uberlândia (MG), dizia não entender "que se possa ter prática de responsabilidade social prestando serviços médicos a preços justos e acessíveis à comunidade. Mesmo cobrando abaixo do mercado, a empresa ganha financeiramente". Jussara, também mineira, pensa diferente. "Não posso depender de recursos externos, que podem vir ou não".

Olhos abertos
Ela abriu os olhos para o problema do atendimento a pessoas de baixa renda em 1996. Morando em Brasília, dedicava quintas-feiras e sábados à comunidade de Paranoá. "Tinha mais a fazer [pela população]", diz, com voz embargada.
Contrastava com os outros dias da semana, quando atendia políticos em um consultório "herdado" após um acidente que matou o dono da empresa.
Mas o coração a levou de volta a Minas Gerais. Depois de se divorciar, conheceu um novo amor e mudou-se para Uberlândia, sua cidade natal. Ela casou com Massami Matsuda, ortopedista, colega de faculdade, e foi trabalhar em hospitais. "Vi que poderia fazer algo e devolver um pouco do que recebi".
Em 2001, criou uma clínica. Não havia, no entanto, orientação específica para o atendimento à população carente.
Dois anos depois, em um curso de pós-graduação, a idéia de uma "clínica cidadã" germinou.
"Percebi que precisava fazer algo. Fui estudar para entender esse lado empreendedor tão contido dentro de mim", diz.
O início, diz ela, foi "difícil". "Você tem de quebrar barreiras, preconceitos, paradigmas. Tem de insistir na causa", analisa Matsuda, que, no começo, contou com o apoio do marido e de um colega angiologista.
Outros profissionais não tardaram a chegar _especialmente estimulados pela proposta de trabalho da clínica. Empresários da saúde também atenderam à convocação da médica.
Hoje, os pacientes têm direito a um cartão que dá descontos generosos em cirurgias, em exames e em medicamentos. "Esse é só o começo".


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