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Elas vivem mais e ganham menos
Apesar da maior escolaridade, renda puxa para baixo o IDH feminino no Brasil
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
S
e formassem uma nação
à parte, as mulheres brasileiras teriam um IDH
(Índice de Desenvolvimento
Humano) ligeiramente maior
do que o dos homens. Esse "ligeiramente" só se aplica na frase anterior por causa dos baixos
rendimentos delas no mercado
de trabalho. Não fosse isso, por
causa do avanço maior na escolaridade e da mais elevada expectativa de vida, os homens
estariam bem atrás em termos
de desenvolvimento humano.
Esse exercício hipotético foi
feito a pedido da Folha pelo
economista Marcelo Paixão, da
UFRJ e do Laboratório de Análises Econômicas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais.
Calculando o IDH de homens e mulheres no Brasil seguindo os mesmos critérios
utilizados pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento) no cálculo
do índice das nações, Paixão
mostrou que o IDH das mulheres ficaria em 0,80, enquanto o
dos homens seria de 0,79.
O IDH é um índice criado pelo Pnud para comparar o desenvolvimento humano dos
países. O cálculo é feito a partir
de indicadores de renda, alfabetização, freqüência escolar e
expectativa de vida. Quanto
mais próximo de 1, maior é o
desenvolvimento humano,
sendo zero o nível mais baixo.
"O que coloca as mulheres
para cima é a maior longevidade e o crescimento da escolaridade. O rendimento delas, no
entanto, ainda é muito menor
do que o dos homens. Resumindo, elas vivem mais, estudam mais, mas ganham menos,
o que indica que são mais discriminadas no mercado de trabalho, principalmente se forem
negras", diz Paixão.
Empoderamento
Outra medida que deixa clara
a dificuldade das mulheres no
Brasil de diminuírem sua desigualdade em relação aos homens é o percentual delas em
cargos legislativos.
Nesse indicador, o Brasil
aparece com uma das menores
participações femininas no legislativo do mundo, com apenas 9,1% dos parlamentares
mulheres. É o pior índice da
América do Sul, fica à frente
apenas de Guatemala e Haiti na
América Central e é inferior até
a nações árabes como a Síria,
que tem 12% de mulheres no
parlamento. Numa lista de 172
países, o Brasil é apenas o 130º.
Para o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, da Escola
Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE e autor de estudos
sobre o tema no Brasil, a baixa
participação das mulheres na
política é resultado da lei muito
tímida de cotas femininas para
candidaturas em cada partido.
"A política de cotas para mulheres teve a pior redação em
comparação com as leis em outros países da América Latina.
Do jeito que está a lei, os partidos são obrigados a oferecer ao
menos 30% de vagas às mulheres, sem comprometimento se
essas vagas serão efetivamente
preenchidas", diz Alves, que
avalia que a política de cotas de
candidaturas de mulheres é importante para diminuir a desigualdade de gênero.
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