São Paulo, quinta-feira, 08 de março de 2007

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Elas vivem mais e ganham menos

Apesar da maior escolaridade, renda puxa para baixo o IDH feminino no Brasil

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

S e formassem uma nação à parte, as mulheres brasileiras teriam um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) ligeiramente maior do que o dos homens. Esse "ligeiramente" só se aplica na frase anterior por causa dos baixos rendimentos delas no mercado de trabalho. Não fosse isso, por causa do avanço maior na escolaridade e da mais elevada expectativa de vida, os homens estariam bem atrás em termos de desenvolvimento humano.
Esse exercício hipotético foi feito a pedido da Folha pelo economista Marcelo Paixão, da UFRJ e do Laboratório de Análises Econômicas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais.
Calculando o IDH de homens e mulheres no Brasil seguindo os mesmos critérios utilizados pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) no cálculo do índice das nações, Paixão mostrou que o IDH das mulheres ficaria em 0,80, enquanto o dos homens seria de 0,79.
O IDH é um índice criado pelo Pnud para comparar o desenvolvimento humano dos países. O cálculo é feito a partir de indicadores de renda, alfabetização, freqüência escolar e expectativa de vida. Quanto mais próximo de 1, maior é o desenvolvimento humano, sendo zero o nível mais baixo.
"O que coloca as mulheres para cima é a maior longevidade e o crescimento da escolaridade. O rendimento delas, no entanto, ainda é muito menor do que o dos homens. Resumindo, elas vivem mais, estudam mais, mas ganham menos, o que indica que são mais discriminadas no mercado de trabalho, principalmente se forem negras", diz Paixão.

Empoderamento
Outra medida que deixa clara a dificuldade das mulheres no Brasil de diminuírem sua desigualdade em relação aos homens é o percentual delas em cargos legislativos.
Nesse indicador, o Brasil aparece com uma das menores participações femininas no legislativo do mundo, com apenas 9,1% dos parlamentares mulheres. É o pior índice da América do Sul, fica à frente apenas de Guatemala e Haiti na América Central e é inferior até a nações árabes como a Síria, que tem 12% de mulheres no parlamento. Numa lista de 172 países, o Brasil é apenas o 130º.
Para o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE e autor de estudos sobre o tema no Brasil, a baixa participação das mulheres na política é resultado da lei muito tímida de cotas femininas para candidaturas em cada partido.
"A política de cotas para mulheres teve a pior redação em comparação com as leis em outros países da América Latina. Do jeito que está a lei, os partidos são obrigados a oferecer ao menos 30% de vagas às mulheres, sem comprometimento se essas vagas serão efetivamente preenchidas", diz Alves, que avalia que a política de cotas de candidaturas de mulheres é importante para diminuir a desigualdade de gênero.


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